quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A respeito do investimento

Por minha insistência que o maior problema para o crescimento brasileiro é o baixo crescimento da produtividade e não a baixa taxa de investimento vez por outra sou "acusado" de não ligar para o investimento. Não é verdade. O investimento é uma variável fundamental para determinar o nível de renda e até mesmo o crescimemto da produtividade, afinal é por meio de novas máquinas que novas tecnologias costumam entrar na economia. Minha implicância com o discurso que foca no investimento tem outra natureza. Fazer política econômica para forçar a taxa de investimento para cima sem que existam as condições adequadas para isto é um caminho quase certo para o desperdício de recursos. Pior, uma vez realizado o investimento ruim aparecem uma série de grupos de interesse que tornam reverter o investimento uma tarefa quase impossível. A longa história em torno de refinarias de petróleo no Nordeste é um exemplo de como mesmo um investimento anunciado mas não realizado é difícil de ser revertido.
Pois bem, uma série de notícias que vi nos últimos dias me fez retomar este assunto. Primeiro uma notícia no Estadão a respeito da queda do Brasil no ranking das economias que recebem investimento externo. Outra notícia também no Estadão diz que os empresários pretendem investir menos este ano. Estas duas notícias mostram a redução do interesse em investir na economia brasileira, notem que é um fenômeno observado no Brasil e no exterior. A próxima notícia trata do financiamento do investimento no Brasil, o Valor Econômico anunciou que fundos de investimento sacaram R$ 6 bilhões na semana passada e que este não é um fenômeno típico da época do ano. A última da série ajuda a explicar as anteriores ao dizer que o FED começou a reduzir os estímulos à economia americana.
A relação entre estas notícias está em um debate que (re)começou no Brasil lá por 2005, esquentou depois da crise de 2008, ficou ainda mais quente em 2010 e pegou fogo no governo da presidente. De um lado os que insistiam na agenda de reformas como forma de aumentar a taxa de crescimento da produtividade e a taxa de investimento no Brasil. Do outro lado os que acreditavam que uma intervenção direta para reduzir juros e desvalorizar o câmbio somadas a uma política de financiamento do investimento seriam o suficiente para elevar a taxa de investimento e aumentar o crescimento da economia brasileira. Até 2005 a turma das reformas dominou a política econômica, a partir daí a segunda turma, que vou chamar com alguma injustiça de desenvolvimentistas, passou a virar o jogo. Primeiro com a volta do BNDES como financiador do investimento e executor da política industrial (na realidade eu começaria pelo PAC, mas não quero mais polêmicas do que o necessário), depois, já no governo Dilma, conseguiriam as intervenções nos juros e no câmbio. Eu sempre estive do lado dos reformistas, mesmo em 2010 quando muitos saudavam a volta do BNDES como o responsável pelo sucesso da economia brasileira eu apontava que este sucesso não era confiável e nem duraria muito.
Meu argumento era que o crescimento da economia brasileira não era sequer devido ao BNDES ou ao incentivo ao consumo, mas a uma combinação favorável do fatores externos, quais sejam, os altos preços das commodities e as baixas taxas de juros internacionais. Não é preciso dizer que meus argumentos não foram exatamente bem recebidos por vários colegas dentro e fora do governo, afinal o argumento dominante era que o Brasil ia bem apesar do resto do mundo e não por causa do resto do mundo. Vale lembrar que os tais estímulos que hoje causam estragos pela simples ameaça de uma redução foram recebidos como guerra cambial pelo Ministro Mantega e como tsunami monetário pela presidente Dilma, deve ser o primeiro caso onde o fim de uma guerra e/ou de um tsunami causa mais estragos que o começo. Pois bem, as notícias acima não mostram que a turma das reformas estava certa, mas são fortes indícios de quem apostou na estratégia desenvolvimentista estava errado.
Para não perder o costume termino mais este post com a mesma ladainha. Se o Brasil quer aumentar a taxa de investimento, ficar mais produtivo e crescer mais tudo isto com melhora na distribuição de renda o caminho passa necessariamente por educação, melhora do ambiente de negócios e a reconstrução da infraestrutura. Para educação não basta prometer recursos e construir mais universidades, é preciso melhorar o ensino e transformar as universidades em pólos geradores de pesquisa e inovação. A melhora do ambiente de negócios passa pela redução do emaranhado de leis e regulações que tornam a atividade produtiva quase impossível, mais do que facilitar a abertura e o fechamento de firmas é preciso também facilitar o dia a dia das firmas. Os enormes custos de tocar uma firma no Brasil servem como uma barreira a entrada permanente a beneficiar as empresas existentes, particularmente as grandes. A reconstrução da infraestrutura não deve ser feito no estilo PAC com o governo como grande timoneiro dos investimentos, é preciso criar um ambiente favorável a este tipo de investimento. Note que em nenhum dos casos a solução passa por mais dinheiro, a solução envolve reformas que tem resistência de grupos de interesse bem estruturados e dispostos a enfrentar muitos custos para não abrir mão de seus benefícios.

2 comentários:

  1. Achei interessante o enfoque dado ao tema. Parabéns ao autor e ao Blog. Abraços, José Matias-Pereira

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  2. Me lembrou o capítulo sobre investimento do livro do Easterly.

    People respond to incentives.

    Muito bom o post!

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