sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sobre tempo, dinheiro, juros e o "fim de uma era"

Blog do FT aponta saída recorde de dólares do Brasil como fim de uma era. Apesar de listar a desastrosa política econômica do governo o FT manda a conta da saída de dólares para o FED e aponta uma luz no fim do túnel com a chegada de investidores japoneses. Tomara que os japoneses venham mesmo e nos salvem do desastre completo.
Quando o FED começou a imprimir dólares no atacado nosso governo falou de tsunami monetário e guerra cambial. A preocupação do governo era com efeitos da valorização do real. Na época discordei e disse que a política monetária americana era boa para o Brasil. Meu motivo era simples: o Brasil é um grande importador de capitais, com o FED mantendo os juros nominais nos EUA próximos a zero teríamos acesso a capital barato. Bem utilizado este capital poderia ter financiado grandes transformações que deixassem a economia brasileira pronta para inevitável alta dos juros americanos. O governo preferiu seguir sua tese de cambial e mudou a política monetária para desvalorizar o câmbio. Conseguiu o que queria, Dilma começou seu mandato com o dólar valendo em torno de R$ 1,60 e hoje já vale R$ 2,40. Nenhum dos resultados previstos aconteceram: a taxa de investimento não subiu (e olha que fizemos os investimentos da Copa), a balança comercial piorou e a indústria continuou como estava.
Pois bem, agora que começam a aparecer ameaças de reversão da política monetária americana fica claro o que eu falava. Nos últimos anos, mais até do que as commodities, foram os juros internacionais baixos que garantiram o funcionamento da economia brasileira. Se este padrão de saída de dólares continuar nos próximos anos uma desvalorização do real será inevitável, se o câmbio estivesse a R$ 1,60 isto não seria problema, com o câmbio a R$ 2,40 é possível que a inflação responda e o BC tenha que aumentar os juros a patamares absurdamente altos, como na década de 90, simplesmente para evitar uma inflação acima de 10% ao ano. Mais ainda, como não fizemos a infraestrutura necessária para o país, inclusive a indústria, crescer vamos ter de fazer com juros mais altos. Qualquer pessoa que já reformou a casa tendo de pegar dinheiro emprestado sabe a diferença entre construir com juros altos e construir com juros baixos. Enquanto perseguíamos a saída mágica do câmbio também podemos ter perdido a chance de ajustar o sistema tributário e a previdência em um ambiente de juros baixos. Como são ajustes inevitáveis terão de ser feitos mesmo com juros altos, sob pena da economia continuar com crescimento medíocre e com inflação e alta e possivelmente crescendo. A lista de oportunidades perdidas e interminável.
E agora o que fazer? Temos de fazer o que não fizemos. Em primeiro lugar deixar o câmbio flutuar mesmo que isto signifique mais desvalorização do real, se a inflação apertar a saída é elevar os juros até onde dor preciso. Além do câmbio flutuante é preciso reconquistar a credibilidade do BC no combate a inflação e adotar um sistema de contabilidade pública transparente. Um ajuste fiscal tanto quantitativo quando qualitativo seria bem-vindo. Em suma, é preciso refazer o que foi desfeito a partir de 2006 e demolido no governo Dilma.
Depois é seguir buscando modelos de privatizações concessões capazes de estimular o investimento em infraestrutura no Brasil, precisamos de tudo: portos, aeroportos, ferrovias, estradas, usinas de energia, saneamento básico e etc; porém não precisamos de obras faraônicas que apenas burocratas do governo vêem como necessárias. Em paralelo a construção da infraestrutura é necessária uma reforma radical da educação, não é admissível que fiquemos nos últimos lugares de toda e qualquer avaliação internacional de ensino. É urgente um CIEP em cada bairro pobre do Brasil, porém além da infraestrutura é preciso que estes CIEPs tenham bons professores, um plano didático-pedagógico voltado para o ensino e não para a doutrinação e tenham excelentes gestores. Por fim temos de construir um ambiente de negócios que incentive a produção, não se trata de despejar dinheiro público nos cofres de uns poucos empresários-amigos. Hoje o Brasil é um dos países mais hostis ao livre mercado, é difícil abrir uma empresa. É quase impossível seguir todas as milhares de regras vindas de dezenas de órgãos que parecem ter como maior preocupação impossibilitar a atividade empresarial, pública e privada! Um jovem com uma idéia genial que em outros países poderia criar uma start-up que poderia vir a ser uma nova Google ou Microsoft no Brasil terá seus sonhos abortados em regras sanitárias, ambientais, trabalhistas, contábeis, fiscais, bancárias e todo um emaranhado de regras que torna tocar uma empresa no Brasil mais difícil do que ter uma boa idéia de um novo serviço ou produto.
É claro que tudo isto que falei precisa de tempo e dinheiro para ser feito. Todo iniciado em economia já foi apresentado aos juros como sendo o preço do tempo e/ou do dinheiro. Entendeu a razão do tsunami monetário americano ter sido bom para o Brasil? Precisamos de tempo e de dinheiro, quanto mais baratos estiverem o tempo e o dinheiro melhor estaremos.

0 comentários:

Postar um comentário