sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A nova direita e um liberal chato

Joel Pinheiro faz no Valor Econômico uma interessante descrição da "nova direita" que, em olhar cuidadoso, não é nem tão nova nem tão direita. Como sempre acontece ao ler este tipo de artigo fico sem saber onde estou. É fato que a bolsa-empresário do BNDES me incomoda muito mais que a bolsa-família, a ponto de eu ter dito várias vezes que enquanto existir a primeira me recuso a criticar a segunda. Abomino qualquer forma de coletivismo, desta forma não nutro simpatia por nenhuma forma de organização das ditas minorias. Na verdade considero cada indivíduo como muito complexo para se encaixar no rótulo de alguma minoria.

Sou a favor de várias causas libertárias mas dou bem menos ênfase a estas causas que a maioria dos libertários, por exemplo, não comemorei o juiz que "legalizou" a maconha por meio de uma nova interpretação da lei. Não estou convencido que um mundo sem nenhum estado é melhor que um mundo com estado, muito pelo contrário. Posso até imaginar outras formas de estado diferentes da atual, mas a ausência de qualquer forma de estado me parece perigosamente próxima da barbárie. Viver assim é interessante e divertido nos mundos virtuais dos MMORPG, mas na falta de poderes mágicos e habilidades extraordinárias com espadas e machados prefiro a estabilidade oferecida pelo estado. Na verdade não vejo com bons olhos nem mesmo o mundo sem Banco Central proposto pelos austríacos. Tenho apreço pelos valores morais ocidentais, mas não me agrada a idéia que tais valores sejam impostos pela lei. Serei um conservador?

Meu foco em temas econômicos me traz algum mal estar com a guerra permanente com o que vários conservadores chamam de marxismo cultural. Tenho dificuldade de entender porque a liberação da maconha é marxismo cultural e, ao mesmo tempo, qualquer restrição ao cigarro ou ao álcool também é marxismo cultural. Afinal o marxismo cultural está associado a proibição ou a liberação de drogas? Não entendo porque o livre mercado, por exigir alguma coordenação de leis entre países, pode abrir as portas ao temido governo mundial enquanto a Guerra às Drogas, que exige coordenação de leis e de ação policial entre países, não abre as portas para o mesmo governo mundial. Não me incomodo com novelas e outras peças de ficção que defendem valores diferentes dos meus, me incomoda muito a pobreza destas peças. Tal incomodo não deriva de algum tipo de moralismo, estando mais próximo ao que Vargas Llosa descreveu no seu livro A Civilização do Espetáculo. Simplesmente não tenho apego suficiente aos valores para me considerar um conservador, até porque os valores mudam, basta lembrar que no início do século XX proibir drogas, inclusive álcool, era uma política progressista. Não, definitivamente não sou um conservador.

Não sendo eu um libertário nem um conservador talvez eu simplesmente não me encaixe na nova direita, seria uma pena pois tenho muita simpatia por esta turma e acompanho com legítimo interesse tanto os conservadores, inclusive Olavo de Carvalho, quanto os libertários. Como definitivamente não me identifico com a velha direita nem muito menos com as esquerdas, não pertencer a nova direita me deixa como que sem turma, o que não chega a ser algo que me incomode. Talvez eu seja mesmo um liberal chato, como bem descreveu um colega de graduação que reencontrei no FB, pior, com o passar do tempo temo que esteja ficando cada vez mais chato do que liberal.

6 comentários:

  1. Roberto,

    Minha posição com relação às drogas, você conhece, tem a ver com as externalidades a elas relacionadas. No meu entendimento, o controle da demanda seria uma peça fundamental dessa discussão. Só que ninguém está disposto a controlar a demanda: os libetários por não aceitarem que o indivíduo seja controlado e os marxistas por razões menos nobres. O que o Haddad está tentando fazer em São Paulo se aproxima disso: não combate o tráfico de drogas porque se nega a combater o consumo. Acho que é nesse ponto que os conjuntos "lbertarianismo" e "marxismo cultural" se inerseccionam. O problema é que os marxistas, na minha opinião, usam os libertários para alcançar seus objetivos. Quando alcançarem os objetivos almejados, bye bye libertários.

    Abraço,

    José Coelho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como está meu amigo?
      Se é para proibir as drogas reprimir a demanda é fundamental, concordo plenamente. O que não concordo é drogas devem ser proibidas. Respeito os que defendem a proibição, mas não concordo. Nem mesmo o argumento das externalidades me comove, para cada família destruída pelas drogas quantas são destruídas pela Guerra as Drogas? Na dúvida fico com os princípios e sou contra a proibição pela defesa das liberdades individuais.

      Excluir
    2. Mas Roberto,

      O que dirás sobre as motivações psicológicas de alguém para usar drogas? Seja lá que for o culpado caro amigo, estado ou privado, temos pobreza e falta de informação pelo mundo todo, essa realidade não escolhe lado político.. Pessoas se drogam cada vez mais por falta de oportunidade, depressão, problemas que talvez você não tenha tido na intensidade com que isso se propaga pelo mundo.. Não falo de problemas, falo de depressão mesmo, não falo de ficar desempregado, mas de ver emprego e não ter como alcançá-lo.. enfim, quero dizer que usar crack, não costuma ser opção, é um estado de último suspiro, de uma vida que, repito, seja lá quem for culpado, já não tem mais valor algum...

      Excluir
  2. Caro Roberto, às vezes acho curioso como conservadores/liberais/libertários insistem em se posicionar dentro de guetos ideológicos, tentando encontrar consensos impossíveis sobre todas as coisas. Penso que todo consenso no campo das idéias é arbitrário, artificial e superficial. Afinal, por que um indivíduo para defender a Liberdade tem que denominar-se conservador, liberal-conservador, liberal ou libertário? Por que a ânsia em enquadrar ou enquadrar-se em uma dessas molduras? Um indivíduo pode ter opiniões formadas sobre muitas coisas, inclusive tais opiniões podem ser até contraditórias. Querer que um indivíduo seja perfeitamente coerente em tudo é um contrassenso. Pessoalmente, não me sinto inclinado a definir-me por algum rótulo, ou a adotar dogma algum. Sinto-me em processo de aprendizado constante e não me vejo querendo impor minha opinião a quem quer que seja. Qualquer que seja a causa em voga, não devemos esquecer que ela é feita através de indivíduos livres e que estes não podem ser reduzidos a um conceito, nem sacrificados em nome de uma idéia ou ideologia. Abraços! Josesito Padilha

    ResponderExcluir
  3. Que é bolsa BNDS, não conheço, o ilustre poderia seriamente explicar, ou é só um rompante de humor, jovialidade e simpatia de botiquim para, digamos, ser "melhor aceito"? Bolsa família é um crime. Subordina familias ao assistencialismo estatal, onera orçamento público, não as retira da miséria e ainda escraviza a vontade, deixando-as em estado de prostação e imobilidade. Ou o companheiro acha que $1.000,00 faz do sujeito classe média?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bolsa empresário, financiada pelo BNDES, corresponde à transferência de renda embutida nos empréstimos à juros subsidiados do BNDES. Subordina as empresas ao compadrio estatal, onera o orçamento público, não oferece incentivos a ganhos de produtividade e ainda escraviza o empresário a vontade do governo, deixando-os em estado de prostração e imobilidade.

      Se R$ 1.000,00 faz alguém de classe média depende da definição de classe média. Se a definição for algum intervalo estatístico ao redor da renda média então no Brasil alguém que ganhe R$ 1.000,00 reais está na classe média, como mostram os dados da PNAD compilados pelo IPEA, SAE e vários pesquisadores fora do governo. Se a definição for um conjunto de hábitos e possibilidades de consumo então quem ganha R$ 1.000,00 por mês não está nem perto da classe média. Neste sentido, apenas para comparação, nos EUA alguém com uma renda de R$ 2.0000,00 por mês estaria abaixo da linha de pobreza.

      Excluir