Em setembro deste ano fiz um post mostrando que a queda do
investimento do governo federal tinha começado antes da implementação do teto
de gastos e, portanto, não faz sentido colocar o teto como culpado da queda
(link aqui). Nesse post vou retomar o assunto, porém o foco será nos órgãos do
governo federal que mais investem.
Comecemos com o investimento do governo federal, a figura
abaixo reproduz considera o investimento em doze meses reproduzindo a figura do
post de setembro. As diferenças são que nesta figura peguei os dados da STN e
não no Orçamento Geral da União e, por usar os dados da STN, o deflator
utilizado foi o IPCA no lugar do IGP. Creio que o IGP é um índice mais adequado
para deflacionar investimentos, mas a STN já oferece o dado deflacionado e a
preguiça falou mais alto. De toda forma as duas figuras são praticamente idênticas,
o que não deveria ser surpresa para ninguém. Destaque para o pico em setembro
de 2014 com forte queda nos meses seguintes, uma elevação em dezembro de 2016 e
queda a partir de 2017.
O padrão de forte queda após setembro de 2014 mostra que a
queda do investimento resulta do ajuste fiscal que naquela altura era inevitável.
Quem conhece um pouco das contas públicas brasileiras sabe que qualquer esforço
de ajuste fiscal penaliza com força os investimentos, o iniciado em 2014 não
foi exceção. Ministério da Defesa, Ministério da Educação, Ministério da Saúde,
Ministério do Desenvolvimento Regional e Ministério da Infraestrutura respondem
pela maior parte do investimento do governo federal. Entre 2008 e 2019 esses
ministérios foram responsáveis por, em média, 77% do investimento o governo
federal.
A figura abaixo mostra o investimento em cada um desses
ministérios, para elaborar a figura considerei como do Ministério da Infraestrutura
os investimentos do antigo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil e
como do Ministério do Desenvolvimento Regional os investimentos dos antigos Ministério
da Integração Nacional e Ministério das Cidades (link aqui). Fica evidente a
queda do investimento em todos os ministérios, a mais forte no Ministério da
Infraestrutura, que tinha o maior volume de investimento, e a menor queda foi
no Ministério da Saúde. O investimento do Ministério da Educação é reduzido até
ficar próximo ao do Ministério da Saúde onde passa a ficar estável. O Ministério
da Defesa consegue estabilizar seus investimentos em valores acima dos
investimentos do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde. Repare que
com exceção de um período entre meados de 2012 e meados de 2013 o Ministério da
Defesa investiu mais do que o Ministério da Educação no período analisado.
A diferença entre o investimento dos três ministérios fica
mais fácil de ser percebida na figura abaixo. Até o começo de 2016 a queda de
investimento nos ministérios da Educação e Defesa eram bem semelhantes, a
partir de abril de 2016 as trajetórias divergem com a Defesa conseguindo
estabilizar seus investimentos e a Educação caindo até encostar na Saúde.
A figura seguinte repete a figura anterior mostrando a proporção
do investimento dos ministérios da Defesa, Educação e Saúde como no
investimento do governo federal. O padrão que aparece na figura anterior fica
ainda mais claro quando são observadas as proporções.
Seria interessante contar as histórias por trás desses
gráficos. Quais programas do Ministério do Desenvolvimento Regional foram
sacrificados para permitir o ajuste fiscal? Em que estágio estavam? Por que ocorre
um aumento do investimento do Ministério da Infraestrutura entre janeiro e
dezembro de 2018? Quais projetos do Ministério da Defesa não puderam ser
descontinuados de forma a surgir a mudança de trajetória relativa ao Ministério
da Educação em abril de 2016?
A estabilidade do investimento do Ministério da Saúde sugere
que não tem histórias curiosas para o investimento da pasta. No Ministério da
Educação eu creio que a elevação está relacionada ao REUNI (Programa do Governo
Federal de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais Brasileiras) instituído em abril de 2007. A queda abrupta do
investimento do Ministério da Educação sugere que sua origem foi o ajuste fiscal
e não o esgotamento das obras do programa. Um passeio nos campi de algumas
universidades confirma a sugestão.
Esse post deu uma olhada na composição do investimento do
Governo Federal. Se é para retomar esse investimento, como sugerem com insistência
alguns colegas de profissão, uma análise detalhada torna-se necessária. Não
enche os olhos e não joga dinheiro nas empresas dos financiadores de campanha,
mas antes de retomar o investimento público é fundamental entender o que
aconteceu com os investimentos interrompidos e mudar as normas e regulações na área.
Investir para criar demanda no espírito de “cavar buracos de manhã e fechar
buracos à tarde” é repetir mais uma vez o mesmo erro.
0 comentários:
Postar um comentário