Ontem, 06/08, ocorreu em Brasília o seminário da SAE-PR e do
Banco Mundial a respeito da produtividade no Brasil. O objetivo foi entender
quais fatores são responsáveis pela baixa produtividade da economia brasileira
e pela baixa taxa de crescimento desta produtividade. O seminário foi dividido
em cinco sessões (link para o programa aqui) cada uma tratando de um tema
específico. As sessões ocorreram na forma de entrevistas onde Diana Coutinho,
representando a SAE-PR, e Paulo Guilherme Correa, representando o Banco
Mundial, faziam perguntas a três especialistas.
A primeira sessão tratou de política comercial e
produtividade. Os especialistas foram José Guilherme Reis, Sandra Rios e Welber
Barral. O tom era que a economia brasileira precisa de mais integração com o
resto do mundo. Muito foi dito a respeito das cadeias produtivas globais e de
como uma política isolacionista pode excluir as empresas brasileiras destas
cadeias. Também foi feita uma discussão sobre os possíveis efeitos negativos do
protecionismo na produção e no emprego, a questão é que ao proteger um
monopólio e/ou oligopólio de um insumo intermediário o governo acaba por
dificultar a vida das empresas que utilizam este insumo. A verdade é que
protecionismo é uma forma de transferência de renda, logo existem prejudicados
e beneficiados, identificar quem está em cada grupo deveria ser item obrigatório
em qualquer proposta protecionista. A segunda sessão foi sobre produtividade.
Na mesa, além dos entrevistadores, estavam Armando Castelar, Paulo Coutinho e
Cláudio Frischtak. Infelizmente eu não pude assistir a esta seção. Pelo que
apurei depois as discussões trataram de questões regulatórias e de
financiamento.
A terceira sessão foi sobre ambiente de negócios, meu tema
favorito. Joaquim Levy, Marcos Lisboa e Daniel Lederman foram os entrevistados.
O que dizer? O ambiente de negócios brasileiro é absurdamente ruim. As 2600
horas necessárias para pagar impostos, mesmo que seja uma estimativa exagerada,
são um monumento a ineficiência. Marcos Lisboa deu exemplos de suas
experiências no governo para argumentar que a mudança no ambiente de negócios
deve ser feita em pequenos passos. Não se trata de uma grande reforma para
colocar tudo no lugar, longe disto, a questão é identificar problemas e buscar
soluções para cada problema. Detalhes que acabam por impedir o funcionamento de
questões pontuais quando somados criam a camisa de força que prende a economia
brasileira. Sou suspeito, mas fiquei com a nítida impressão de que praticamente
todos concordaram que simplificar o Brasil é o grande objetivo a ser atingido.
Aliás, o ministro Guilherme Afif já tinha dado esse tom na abertura do evento
ao citar Steve Jobs e dizer que é complexo fazer que as coisas fiquem simples e
que é simples permitir que as coisas sejam complexas.
A quarta sessão tratou de tecnologia, inovação e
produtividade. Na mesa estavam Sílvio Meira, Fernanda de Negri e Cláudio
Frischtak. Novamente a questão do excesso de leis e regulações ganhou destaque,
o financiamento também foi discutido. Silvio Meira fez a provocação à academia
ao afirmar que a academia brasileira é irrelevante (com exceções, é claro), foi
além e disse que é irrelevante por que no lugar de procurar respostas para
perguntas da sociedade a academia brasileira procura perguntas para as respostas
que tem. Esse quadro é consequência de uma legislação que busca criminalizar a
atuação do professor fora da universidade. Como um pesquisador isolado da
sociedade vai saber os problemas que da sociedade e quais perguntas devem ser
respondidas para melhorar a vida das pessoas? Só por isto eu já teria aplaudido
a palestra, mas ele foi além, criticou duramente a lógica do Qualis/CAPES.
Criar um grande esquema de classificação de revistas científicas que sirva como
indutor do esforço de pesquisa é uma ideia ridícula, simples assim. Mais uma
jabuticaba pronta a nos tornar motivos de piada e tirar nossa atenção do que
importa. Eu não poderia concordar mais, para ficar perfeito só faltou dizer que
tudo é mais absurdo por ser feito por uma agência de governo, de certa forma
isto estava implícito, afinal se não fosse do governo ninguém estaria ligando.
Tenho que me lembrar de pedir ao Prof. Ivan Camargo, reitor da UnB, de convidar
o Silvio Meira para falar na UnB.
A última sessão tratou de prosperidade partilhada e produtividade.
Marcelo Neri, Naercio Menezes e Mark Dutz discutiram como garantir que os
ganhos de produtividade sejam compartilhados por todos. A mesa tratou das
políticas públicas que podem distribuir os ganhos de produtividade por toda a população.
Sou cético a este respeito, reconheço que tais políticas existem, mas a maioria
das políticas públicas vai na direção contrária, ou seja, concentra ganhos.
Porém, se é para ter políticas públicas, que seja m direcionadas a pessoas e
não a empresas. Um dos pontos de destaque da mesa foi que a redução da
concentração de renda no Brasil passa pelo mercado de trabalho e não pode ser
vista apenas como o resultado dos programas de transferências de renda. Outro
ponto de destaque é que renda do brasileiro mediano está crescendo a 6% ao ano,
isto talvez explique a razão de Dilma estar liderando as pesquisas.
Infelizmente ninguém se arriscou a afirmar que esse crescimento é sustentável,
eu acredito que não é, posso estar errado, mas quando eu disse, em pleno 2010,
que o Brasil ia parar de crescer eu estava certo. Não existe mágica em
economia, sem crescimento da produtividade nenhum crescimento é sustentável, a
boa notícia é que todos que participaram do evento parecem concordar com esta afirmação.
A outra boa notícia é que havia um quase consenso que simplificar o Brasil é a
medida mais importante e mais urgente para aumentar a produtividade. Estamos
avançando.
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