Próxima semana o Congresso deve discutir uma PEC para
possibilitar a continuidade do Fundeb. Para quem não sabe trata-se do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação que foi instituído pela Emenda Constitucional no. 53
de 2006. Nesta emenda ficava determinado que por 14 anos os estados, o Distrito
Federal e os municípios destinariam recursos para o Fundeb, a União também
contribui para o fundo, em 201º ficou estabelecido que a contribuição da União
seria de 10% da contribuição total de estados e municípios.
O objetivo desse post não é discutir o Fundeb. Poucos
economistas discordam que educação básica tem impacto na renda dos indivíduos e
na distribuição de renda, da mesma forma poucos economistas discordam que o
estado deve financiar parte da educação e trabalhar para garantir que todas as
crianças recebam educação. Se o Fundeb é a ferramenta adequada para atingir
esse objetivo é coisa que não sei dizer. Fiz uma pesquisa rápida sobre
avaliações do Fundeb e encontrei um artigo de 2017 publicado na Pesquisa e
Planejamento Econômico (PPE) escrito por Iara Maira da Silveira, João Eustáquio
de Lima, Evandro Camargos Teixeira e Rubicleis Gomes da Silva intitulado
“Avaliação do efeito do Fundeb sobre o desempenho dos alunos de ensino médio no
Brasil” (link aqui). Os autores usam o método de diferenças e diferenças e
concluem que “a valorização salarial pretendida com o Fundeb teve efeitos
positivos no rendimento dos alunos.”. Foi encontrado efeito positivo em
português e matemática. Por outro lado, a pesquisa mostrou que o Fundeb foi
menos efetivo nas escolas onde os alunos têm um baixo desempenho, de forma que
o Fundeb não contribui para equidade entre as escolas.
Como o objetivo desse post não é discutir o Fundeb me dou
por satisfeito com esse artigo. No post anterior (link aqui) comentei o
programa de desonerações que o Congresso pretende prorrogar até 2021. Como
mostrei no post grande parte da literatura aponta que as desonerações não tiveram
os efeitos desejados e mesmo os políticos que defenderam a política de
desonerações reconheceram ser essa uma política ruim. Por que trazer essa
questão aqui? Porque imagino que muita gente vai culpar o Teto de Gastos pela
possibilidade de o Fundeb acabar mesmo sabendo que esse fim estava previsto
desde 2006. Desta forma, aviso aos interessados, que existe uma política ruim,
as desonerações, que entre 2014 e 2019 teve mais impacto no gasto primário,
medida relevante para o Teto de Gastos, do que os aportes da União para o
Fundeb. Neste período as compensações ao RGPS por conta das desonerações,
gastos que entram no teto, foram de R$ 115,5 bilhões contra R$ 91,6 bilhões
para o Fundeb. Até 2017 as compensações foram maiores que os aportes para o
Fundeb em todos os anos, em 2018 os valores ficaram
bem próximos, R$ 14,3 bilhões para as compensações e R$ 14,6 bilhões para o
Fundeb, e em 2019 a diferença cresceu com o Fundeb ficando com R$ 15,9 bilhões
e as compensações com R$ 10,4 bilhões. A figura abaixo mostra cada gasto ano a
ano.
Se uma pesquisa na literatura mais cuidadosa que a minha
mostrar que as evidências apontam que o Fundeb não tem impacto que o fundo seja
descontinuado. Se existir uma alternativa melhor, cabe a quem propor essa
alternativa mostrar que ela é melhor, que o Fundeb seja substituído por essa
alternativa. É certo que a mania nacional de deixar tudo para última hora vai
dificultar uma eventual troca de política e quase certamente exigir alguma
forma de transição. Agora se o argumento para encerrar o Fundeb for o Teto de
Gastos uma alternativa é desistir de derrubar o veto à prorrogação das
desonerações abrindo espaço para a manutenção do Fundeb. A não ser que nossos
congressistas prefiram uma política mal avaliada por especialistas, por
ex-presidentes e por ex-ministros da economia do que manter o Fundeb, mas aí
não vale culpar o Teto de Gastos.
Sim, hoje eu resolvi chutar na canela!
P.S. O problema de dar canelada é acabar pisando na bola. O Fundeb não entra no Teto de Gastos, falha minha, o post continua porque a comparação ainda é válida, gasto é gasto, e pisadas na bola devem ficar registradas para que não sejam esquecidas.
P.S. O problema de dar canelada é acabar pisando na bola. O Fundeb não entra no Teto de Gastos, falha minha, o post continua porque a comparação ainda é válida, gasto é gasto, e pisadas na bola devem ficar registradas para que não sejam esquecidas.
0 comentários:
Postar um comentário