As contas nacionais referentes ao terceiro trimestre de 2019 (link aqui) mostram um crescimento do PIB de 0,6% em relação ao trimestre anterior (com ajuste
sazonal) e um crescimento de 1,2% em relação ao mesmo trimestre do ano
anterior. O crescimento do PIB foi festejado por ter ficado acima do esperado
pelo mercado, aparentemente o número reforça a tese da recuperação lenta e
sólida. Para alguns mais empolgados o número sugere uma aceleração da recuperação
e outros mais céticos temes que o crescimento do trimestre não seja
sustentável. No post trato de algumas dessas questões, mas comecemos pelo começo.
A figura abaixo mostra o crescimento da economia brasileira desde 1996, as
barras mostram o crescimento em relação ao trimestre anterior e a linha o
crescimento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
A queda livre iniciada em 2014 ficou para trás junto com o
risco de recessão técnica (nome pomposo para dois trimestres de queda seguidos)
em 2019. A recuperação continua repare que outras quedas foram seguidas de picos
que não foram observados desta vez. Ao contrário do que podem imaginar isso não
é ruim, recuperações artificiais após crises são a base para crises maiores.
Aquele pico de 2010 sinalizava a queda forte que viria em 2014, por essa lógica
não estamos saindo com força da crise, mas não estamos construindo uma crise
maior no futuro.
Para entender a natureza do crescimento é preciso olhar para
a composição do PIB, não da demanda como tem muita gente fazendo, mas da
oferta. A figura abaixo mostra o crescimento dos grandes setores da economia
desde 2014, repare que todos os setores mostraram crescimento no período. A
agropecuária, que responde por 5% do valor agregado e 4,3% do PIB, cresceu 2,1%
no período seguida pelo crescimento de 1,0% nos serviços, 72,7% do valor
agregado e 62,5% do PIB e pelo crescimento de 0,96% da indústria que responde
por 22,2% do valor agregado e 19,1% do PIB. O crescimento da agropecuária é
sempre bem-vindo, mas, pelo tamanho do setor e pela dependência do cenário
externo, não é o melhor indicador de recuperação da economia.
A figura abaixo mostra o crescimento dos setores da
indústria. O maior crescimento foi o da construção civil, 4,4%, aqui há o perigo
no horizonte, parte desse crescimento pode ser resultado de políticas de estímulos
e não ser sustentável. O segundo maior crescimento veio da indústria extrativa,
4%, parte desse crescimento está relacionado à recuperação do setor após o
desastre de Brumadinho no começo do ano, se for o caso não é um crescimento de
longo prazo e sim uma recuperação de um choque negativo. A indústria de
transformação, muito dependente da dinâmica interna, teve queda de 0,6%, mau sinal.
O comportamento dos setores da indústria não aponta para uma recuperação robusta
e pode estar acendendo uma luz amarela para crescimento baseado em estímulos no
caso da construção civil.
Nos serviços o maior crescimento ocorreu no setor de
informação e comunicações, 4,2%, seguido pelo comércio, 2,4%, e pelas
atividades imobiliárias, 1,9%. Aqui cabe um ponto interessante, tenho visto
muita gente falando que o crescimento é puxado pelo setor privado por conta da
queda do consumo do governo e aumento do consumo das famílias. É uma leitura
que faz sentido para turma keynesiana que acredita que é a despesa que puxa o
PIB. Quem olha a macroeconomia pelo lado da oferta não compra essa leitura, infelizmente
é bem complicado analisar o papel do governo pelo lado da oferta, uma maneira bem
imperfeita de buscar alguma informação nessa direção é olhar o que está
acontecendo com a setor de “administração, defesa, saúde e educação públicas e
seguridade social”, existem sérios problemas de mensuração e não é a única
maneira do setor público contribuir para o PIB, mas é uma maneira importante o
suficiente para dar uma ideia do quadro geral da contribuição direta do governo
para o PIB. Esse setor apresentou queda de 0,6% no período, após mostrar
crescimento no primeiro e segundo trimestre de 2019.
A figura abaixo mostra o crescimento dos componentes da
demanda, ou seja, mostra como mudou a distribuição dos recursos produzidos. O consumo
das famílias, 64,5% do PIB, cresceu 1,9% no período, o consumo do governo, 19,2%
do PIB, encolheu 1,4%, o governo está levando uma parte menor do bolo, e o
investimento (FBCF), 16,2% do PIB, cresceu 2,9% contra um crescimento de 5,4% nas
contas relativas ao segundo trimestre de 2019. O quadro da demanda se completa
com queda de 5,5% nas exportações e aumento de 2,2% nas importações. A figura
abaixo mostra o crescimento dos principais componentes da demanda.
Como pode ser visto os números mostram que saímos da
recessão, mas ainda não entramos em uma trajetória forte de recuperação. Olhando
elo lado da oferta, que é como dever ser feito, o crescimento dos serviços
parece robusto, que é a maior parte da economia, o crescimento da indústria não
impressiona, parte é recuperação de choque negativo no começo do ano e parte
pode ser devida a estímulos, e o crescimento da agropecuária é considerável,
mas pode mudar com mudanças no cenários externo principalmente com novidades na
relação comercial entre China e Estados Unidos.
Melhor blog de economia.
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