Vez por outra aparece alguém propondo alguma variação da
tese que basta o governo pagar menos juros para não ter que se preocupar com o
primário, da minha parte creio que é o contrário: para que os juros caiam o
governo precisa controlar o primário. De toda forma o fato é que os juros pagos
pelo governo federal estão caindo como proporção do PIB e, como bem sabemos,
isso não decore do aumento do PIB, pelo contrário. Depois de alcançar um pico
de 7,34% do PIB (acumulado em 12 meses) em janeiro de 2016 o pagamento de juros
começou a cair chegando a 4,93% do PIB (acumulado em 12 meses) em outubro de
2016. Por outro lado, o primário segue a trajetória de aumento iniciada por
volta de julho de 2011. A figura abaixo, elaborada com dados do Banco central, mostra o resultado nominal, o pagamento
de juros e o resultado primário a nível federal.
Naturalmente a figura não prova a tese que o controle do
primário leva à queda dos juros pagos pelo governo, porém mostra que descuido
com o resultado primário temperado com tentativas de baixar juros na marra,
como sabemos ter sido o caso, pode ser seguido por uma tendência de aumento do déficit
primário e também por mais pagamento de juros. Antes de reclamar
leia novamente a frase anterior e repare que não falei de causalidade, apenas
de precedência. Naturalmente o padrão de precedência pode ser constrangedor
para quem diz que o aumento do gasto primário leva a um crescimento do PIB que,
turbinado por um suposto aumento de receitas, pode até mesmo reduzir o primário
como proporção do PIB, mas isso é outra conversa, por enquanto peço apenas que
o leitor tenha esta figura em mente quando pensar sobre a necessidade de
controle de gastos... e também quando ouvir a delirante história que houve um
golpe de estado para dar mais dinheiro a banqueiros.
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