Hoje um post muito útil no R-bloggers dava dicas de como
usar os dados do PISA 2015 no R (link aqui). Tem muita coisa interessante para
ser feita e recomendo fortemente a quem se interessa por educação que dê uma olhada
no post e tire um bom tempo para explorar as muitas variáveis disponíveis na base
de dados do PISA. Ter livros de poesia em casa influenciam a nota em matemática
no PISA? Questões como esta podem ser discutidas usando os dados do PISA 2015.
No devido tempo tentarei tratar de assuntos do tipo aqui no blog, mas, para
começar, fiquei em terreno conhecido e resolvi cruzar os dados do PISA por disciplina
e país com os dados do FMI de PIB per capita para observar a correlação (não é
causalidade!) entre a nota no PISA e o PIB per capita. Como de costume darei
destaque ao Brasil.
Para fazer isso considerei as notas de todos os países em
matemática, ciências e leitura e a média entre 2011 e 2015 do PIB per capita
corrigido por poder de compra que consta na versão de abril de 2016 da base de
dados do FMI. A versão de outubro já está disponível, mas eu ainda não formatei
do jeito que gosto de trabalhar. Como era de se esperar nas três disciplinas a
nota é positivamente correlacionada com o PIB per capita, como também era de se
esperar nas três disciplinas o Brasil fica abaixo do esperado para um país com
nosso PIB per capita.
A figura abaixo mostra a relação entre nota de matemática e
PIB per capita. Além do Brasil a figura destaca Cingapura, Vietnam, Portugal,
Chile, México e Estados Unidos. Não tenho uma boa razão para justificar a
escolha dos países destacados que não minha curiosidade. Repare que os países
da América Latina e Caribe (pontos azuis) estão todos abaixo da reta, arrisco
dizer que isso reflete a escolha do continente de apostar mais no uso de subsídios
e proteção comercial para estimular setores escolhidos do que na criação de
condições gerais para o crescimento da economia, opção que inclui a melhora do
capital humano. No caso do Brasil a situação é ainda mais dramática, apenas três
países ficaram com notas menores que a nossa em matemática: Tunísia, Argélia e
República Dominicana, todos três mais pobres que o Brasil. No grupo de países
pobres o destaque positivo da figura é o Vietnam, mesmo com o PIB per capita de
quase um terço do brasileiro o país que costumava ser conhecido por filmes de
guerra conseguiu décima oitava melhor nota em matemática.
A próxima figura mostra o desempenho de cada país na prova
de leitura. O único país da América Latina e Caribe que fica acima da linha, ou
seja, com nota maior que a esperada se consideramos apenas o PIB per capita, é
o Chile. Novamente o Vietnam se destaca de forma positiva e o Brasil de forma
negativa. Oito países ficaram com notas inferiores à nossa em leitura: Líbano,
Argélia, República Dominicana, Tunísia, Indonésia, Peru, Geórgia e Albânia, com
exceção do Líbano, todos têm PIB per capita menor que o Brasil.
A última figura mostra o resultado em ciências, o padrão é o
mesmo das anteriores. Os países da América Latina e Caribe novamente apresentam
desempenho baixo se considerado apenas o PIB per capita. O Vietnam ficou com a
sexta maior nota. Apenas cinco países ficaram com notas inferiores à do Brasil,
forma eles: República Dominicana, Argélia, Tunísia, Líbano e Peru.
Os resultados do PISA 2015 dão duas pistas importantes para
pensar a educação no Brasil. A primeira está em Cingapura, o país protagonizou
um verdadeiro milagre econômico que desafia a ideia que apenas com liberdade
econômica um país não consegue uma trajetória de crescimento capaz de colocá-lo
no grupo de países desenvolvidos. No lugar de criar instituições extrativas para
tirar o máximo possível dos moradores de Cingapura, Lee Kuan Yew usou seu poder
para impor instituições típicas de países livres como respeito à propriedade e
uma moeda forte e estável. Nunca entendi porque defensores de tiranos e regimes
autoritários em geral preferem buscar inspiração em tipos como Fidel, Mao e
Chávez, psicopatas que destruíram a economia de seus países, do que em Lee Kuan
Yew. Mentira! Eu entendo, mas... deixa quieto. O fato é que uma das reformas
que Cingapura fez no caminho para o sucesso foi na educação, não por acaso o país
teve a melhor nota nas três disciplinas avaliadas. É verdade que comparar
Cingapura, uma cidade com pouco mais de cinco milhões de habitantes, com o
Brasil, um país continental com mais de duzentos milhões de habitantes, é uma
tarefa quase impossível, mas isso não impede que estudemos a experiência de
Cingapura na educação e tentemos ver o que é possível aproveitar por aqui.
A outra pista importante está no Vietnam. Um país com quase
cem milhões de habitantes marcado por guerras e uma das mais cruéis tiranias já
conhecidas e que vem tentando implementar uma agenda de reformas nas últimas
décadas. Mesmo ainda sendo um país muito pobre com uma renda média de $5.339, a
do Brasil é de $15.689, o Vietnam conseguiu um bom desempenho nas disciplinas
avaliadas. Por certo não é trivial comparar o Vietnam com o Brasil, mas é certo
que se estudarmos direito o que está sendo feito por lá talvez consigamos boas
ideias para oferecer uma educação de qualidade mesmo com poucos recursos
disponíveis.
Meu foco de pesquisa é em crescimento econômico, e é pelas
lentes de quem tem foco em crescimento que enxergo a educação, sendo assim
estou mais preocupado em medir e entender os efeitos na educação na criação e
distribuição de riquezas do que em como criar um bom sistema de educação.
Porém, na condição de cidadão e de professor de uma universidade federal,
acompanho com interesse o debate a respeito da reforma da educação. Não tenho
uma opinião sólida suficiente sobre o assunto para fazer um post analisando ou
sugerindo como deva ser tal reforma. Entretanto espero que a equipe que
preparou a reforma tenha olhado com muito cuidado para exemplos de países que,
como Cingapura e Vietnam, conseguiram encontrar boas soluções para o problema
de como oferecer uma educação de qualidade para a população.
Como sugestão poderia deixar a lista dos 5 melhores trabalhos acadêmicos relacionando educação e crescimento na sua opinião.
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