quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Todo mundo sabe que a economia brasileira está com problemas... menos Luiza...

O vídeo onde Luiza Trajano, presidente do Magazine Luiza, afirma que, ao contrário do que dizia Diogo Mainard, a inadimplência está caindo e ainda se oferece a mandar os dados mostrando que está certa circulou ontem pela internet quase como um viral. Também ganhou destaque a notícia que a executiva de fato mandou o e-mail com os dados para Mainard. Para os que ainda não viram, o vídeo está abaixo:



De início não dei muita importância ao fato, Mainard não produz dados e considerei aceitável que estivesse com dados defasados, assim como considerei normal que uma empresária do setor tivesse dados mais atualizados. Minha impressão original foi que a festa com vídeo era mais uma vendeta do nacionalismo ofendido para com o autor de Contra o Brasil que, ainda por cima, não perde a oportunidade de dizer que “Os brasileiros têm os dois pés no chão… E as duas mãos também.”. Doce ilusão, em tempos de polarização petista nem mesmo o velho nacionalismo ofendido é sincero, a realidade era que o barulho em torno do vídeo vinha de governistas tentando mostrar que o Brasil está bem, uma espécie de reação à guerra psicológica deflagrada por analistas independentes, organismos internacionais, agência do próprio governo, os dados e tudo que ousa mostra que a economia brasileira está com problemas. Enquanto percebia a natureza da divulgação do vídeo coloquei o seguinte comentário no FB:

"Eu podia falar dos perigos em torno dos discursos de empresários afirmando que geram tantos mil empregos, eu poderia lembrar das inúmeras vezes que Eike Batista "destruiu" os ditos pessimistas, mas prefiro lembrar da história do sujeito que pulou do décimo andar e cada janela que passava dizia: até aqui tudo bem."

Pois bem, como a toda ação corresponde uma reação, logo vieram as notícias não tão simpáticas ao Armazém Luiza e sua presidente. A primeira que li dizia respeito a condenações na justiça do trabalho. Considerando a quase impossibilidade de cumprir com toda a legislação trabalhista que existe no Brasil não me impressionei muito com a notícia, se bem que parece estranho que a nova heroína dos apoiadores do governo do Partido dos Trabalhadores não consiga respeitar as leis trabalhistas. Depois vi a notícia que realmente me chamou atenção: Magazine Luiza diz que BNDES não dá atenção ao varejo. Nunca falha. Empresário comprando briga para o governo é sinal de que é ou quer ser empresário-amigo, o diagnóstico é tanto mais preciso quando o empresário aproveita para afirmar que gera tantos empregos. Ora, se o empresário é amigo e gera empregos nada mais justo e natural que ganhe empréstimos a juros camaradas, tudo por conta do contribuinte, é claro. O comentário do FB estava vingado.

Apesar dos acenos ao BNDES me explicarem boa parte do comportamento da empresária uma dúvida ainda me perseguia. Por que uma empresária de sucesso em um setor que, segundo afirmações dela, vive uma fase de ouro abriria mão de sua independência para ficar sob custódia do BNDES? Os juros camaradas são um forte atrativo, eu sei, mas intimidações com relações a demissões e outras ingerências tem um custo e, afinal, o Magazine Luiza tem se saído muito bem sem o BNDES. Para tirar minhas dúvidas fui ver como estavam as ações da empresa. O gráfico abaixo descreve o comportamento das ações do Maganize Luiza entre 19/7/2011 e 21/1/2014, foi a série mais longa que consegui.


Percebam que mesmo a recuperação no segundo semestre de 2013 não foi capaz de recuperar as perdas com a forte queda do primeiro semestre deste mesmo ano. No período total a queda foi quase 50%. Existem vários motivos para explicar tamanha queda das ações, um deles é uma crise na economia que prejudique o setor onde a empresa está inserida. Dadas as declarações do vídeo este não parece ser o caso. Outro possível motivo são problemas de gestão na empresa, não tenho como avaliar esta possibilidade. De toda formas ambas as hipóteses explicam os acenos para o BNDES e as declarações otimista quanto a economia recheadas de louvações às políticas do governo. Falta saber se todo este otimismo vai reduzir as perdas de quem confiou e investiu no Magazine Luiza, temo que não, a não ser, claro, que o BNDES dê uma ajudinha. Eu não ficaria surpreso, afinal o BNDES tem estudado muito o varejo, quem sabe em breve vamos saber dos efeitos encadeados, dos transbordamentos tecnológicos e das externalidade causadas pelo varejo.

P.S. Com o post quase pronto vi que Rodrigo Constantino escreveu a respeito dos preços das ações do Magazine Luiza, não fui ler até decidir que o post estava pronto, depois de pronto li, creio que concordamos nas linhas gerais do que está acontecendo.

5 comentários:

  1. Faço uma consideração: o discurso institucional de um empresário é sempre otimista.
    Mas o problema é o tamanho do Estado brasileiro, sua influência no crédito (subsidiado ou não) bem como a definição dos tributos de maneira discricionária, o que deixa os empresários muito pouco a vontade de se posicionar criticamente. E isso é ampliado pela postura anti-democrática de algumas autoridades do governo frente às críticas. E temos exemplos na Argentina e Venezuela, países onde este modelo político foi levado ao limite, de represálias do governo aos empresários críticos.

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    1. Este é o problema. Esta cumplicidade dos empresários com o governo é, na minha opinião, um dos maiores problemas da economia brasileira e da América Latina em geral. Enquanto o sucesso de um empresário depender dos favores do governo estamos condenados no que chamam de armadilha da renda média.

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  2. Bom dia!
    Logo vem uma noticia positiva do Magzine Luiza. Segunda-feira deve haver o IPO da empresa.

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