segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Brasil e Colômbia: Câmbio, Crescimento, Inflação, Investimento e Tamanho do Governo

Semana passada meu amigo, co-autor e colega de departamento Victor Gomes me mandou olhar a taxa de câmbio da Colômbia e comparar com a do Brasil, na realidade ele fez mais e foi gentil o suficiente para mandar uma figura com as duas taxas de câmbio. Fiquei tão impressionado com o gráfico que compartilhei com os amigos do FB (link aqui), mas como estava fora de Brasília não tive como comparar Brasil e Colômbia a partir de outras variáveis. Hoje, já em casa, resolvi dar uma olhada nos dados do FMI para Brasil e Colômbia e ver quais as semelhanças e diferenças entre os dois países. Desde já registro que os dados do FMI não são os mais atualizados que existem, porém oferecem séries com as mesmas definições e com os dados originais recebendo o mesmo tratamento.

Comecemos com a taxa de câmbio, a figura abaixo foi feita com o Google Finance e mostra a variação da taxa de câmbio entre real e dólar em azul e a taxa de câmbio entre peso colombiano e dólar em laranja. É fato que existe uma pequena diferença no final das séries, mas na maior parte do tempo as séries estão coladas, ou seja, se o real está “derretendo” então o peso colombiano também está. Quem me acompanha no blog ou no FB deve ter reparado que costumo terminar quase todos os meus comentários a respeito do câmbio com a máxima “deixa o câmbio flutuar”. A ideia é deixar claro que mesmo estando irritado com a desvalorização do real, na condição de assalariado que recebe em reais a perda de valor do real é ruim para mim, eu tenho em mente que câmbio é um preço e variações em quaisquer preços não são boas ou ruins. Variações em preços prejudicam uns e beneficiam outros, assim como o aumento do preço da laranja prejudica os consumidores de laranja e beneficia os vendedores de laranja o aumento do preço do dólar beneficia os que possuem renda em dólares e prejudica os que têm gastos em dólares ou atrelados ao dólar. Em resumo, a desvalorização da moeda de um país não necessariamente significa que a economia do país está naufragando, na verdade existem economistas que acreditam que a desvalorização é boa por beneficiar exportadores que de alguma forma repartirão esse benefício com toda a população, o leitor atento deve ter percebido que eu não pertenço a esse grupo de economistas.




O caso da Colômbia pode ser didático a esse respeito, apesar do peso colombiano estar enfrentando um processo de desvalorização semelhante ao do real o FMI prevê que a Colômbia irá crescer 3,39% e terá uma inflação de 3,35% em 2015. Um sonho se comparado a previsão de crescimento de -1,02% e inflação de 7,8% que o FMI faz para o Brasil em 2015. Não é de hoje que a Colômbia cresce mais e tem menos inflação que o Brasil, o primeiro gráfico abaixo mostra que desde 2011 a Colômbia cresce mais do que nós e o segundo gráfico mostra que desde 2009 a inflação na Colômbia é mais baixa do que no Brasil. No “trade-off” entre inflação e crescimento tão citado entre os economistas governistas a Colômbia ficou com mais crescimento e menos inflação que o Brasil. Como isso aconteceu? É difícil responder sem uma análise mais profunda da economia colombiana, o que não é objetivo desse post, porém alguns dados podem ajudar e desenhar uma futura explicação.




Um bom ponto de partida é comparar o investimento. Se considerarmos as projeções do FMI esse ano haverá queda na taxa de investimento tanto no Brasil quanto na Colômbia, se consideramos os dados, até 2014 para o Brasil e até 2013 para a Colômbia, os colombianos não apenas investem uma proporção do PIB maior do a investida pleos brasileiros, o que também acontece nas projeções do FMI, como estão investindo cada vez mais em relação ao Brasil, nas projeções do FMI a queda da taxa de investimento da Colômbia será maior do que no Brasil em 2015. O fato da taxa de investimento no Brasil ter sido mais baixa do que na Colômbia em todo o período que vai de 2005 a 2015 e ter crescido menos do que a da Colômbia nos últimos anos deveria ser motivo de preocupação para o pessoal do BNDES visto que o banco usou algumas centenas de bilhões de reais para estimular o investimento no Brasil. Antes que alguém saia dizendo que a diferença entre o investimento na Colômbia e no Brasil é cultural ou um “efeito do nosso contrato social” registro que no ano 2000 a taxa de investimento no Brasil foi de 19,1% e na Colômbia foi de 14,9%.



Outro ponto que distingue Brasil e Colômbia é o tamanho do gasto e da arrecadação do governo, foquemos no gasto, enquanto nosso governo gasta aproximadamente 40% do PIB o da Colômbia gasta aproximadamente 30%. O governo brasileiro gastar mais do que o governo colombiano em relação ao PIB não é um fenômeno novo, o gráfico abaixo mostra que em todos os anos entre 2005 e 2015 o governo colombiano gastou menos que o brasileiro, se recuássemos até o início do século o resultado não seria diferente. O governo brasileiro também arrecada uma proporção maior do PIB do que o colombiano, não seria sem fundamento afirmar que o governo brasileiro é maior que o governo colombiano. 


Pelo conceito primário o resultado do governo brasileiro foi superior ao colombiano até 2013, em 2014 a Colômbia teve resultado primário positivo e o Brasil teve negativo e para 2015 o FMI ainda mantém a previsão de superávit primário de 1,2% do PIB para o Brasil, o governo brasileiro já abandonou essa promessa e um déficit primário de 0,45% para Colômbia. Espero que os economistas brasileiros que tem fixação com resultado primário não fiquem muito desapontados com o fato que a Colômbia tem conseguido resultados econômicos muitos superiores ao Brasil mesmo com um resultado primário menos entre 2005 e 2013, de 2009 a 2011, a Colômbia, suprema heresia, teve déficit primário. Talvez o exemplo da Colômbia ensine nossos economistas que fixar a análise em só indicador é uma estratégia, para dizer o mínimo, limitada.


 Em resumo podemos dizer que embora as moedas do Brasil e da Colômbia estejam passando por um processo de desvalorização as duas economias estão em situações bem distintas. Enquanto o Brasil só escapou de uma redução do PIB em 2014 por conta de uma mudança na metodologia de cálculo do PIB e terá crescimento negativo em 2015 e talvez em 2016 a Colômbia cresceu 4,6% em 2014 e tem previsão de crescimento de 3,4% em 2015. Ao contrário do pensam alguns de nossos economistas governistas o maior crescimento não veio com maior inflação, pelo contrário, em 2014 a inflação na Colômbia foi de 2,9% contra 6,3% no Brasil e as precisões do FMI indicam que em 2015 os colombianos terão inflação de 3,4% contra 7,8% no Brasil, cabe lembrar que de acordo com o Boletim Focus do Banco Central a inflação do Brasil em 2015 será 9,3%. Além de crescer mais com menos inflação a Colômbia tem investido consistentemente uma parcela do PIB maior que o Brasil tem investido, da mesma forma o governo Colômbia toma para si uma fração do PIB menor do que a tomada pelo governo brasileiro e gasta uma fração do PIB menor do que a gasta pelo governo brasileiro. Com inflação controlada, taxa de investimento em alta e um governo menor não me parece tão estranho que os colombianos consigam conviver com um resultado primário menor do que o brasileiro, ou seja, tivéssemos feito nosso dever de casa não precisaríamos de um primário "tão elevado".



2 comentários:

  1. Muito interessante o artigo pois sai do lugar comum e faz uma comparação das economias em diversos aspectos.
    Gostaria de comparar os tamanhos do governo brasileiro e dos EUA desde a 1a guerra mundial e na primeira (e confesso que rasa) busca não consegui achar os números oficiais que você apresenta no quinto gráfico apresentado aqui (gastos do governo/PIB). A única metodologia de cálculo do tamanho do governo brasileiro não considera governos estaduais e municipais e por isso ficou por volta dos 20%. Peço então a fonte dos dados citados.
    Obrigada!

    Liza Valença Ramos
    lizavalenca@yahoo.com.br

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    1. A maioria dos dados são do World Economic Outlook Database do FMI (http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2015/02/weodata/index.aspx). Para dados posteriores a segunda guerra eu recomendo a Penn World Table, para o entre-guerras é mais complicado, provavelmente será necessário recorrer as fontes nos EUA e no Brasil.

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