O mesmo vale em relação ao eventual governo Temer. Cheguei em Brasília em 1998 quando tomei posse no cargo de Técnico de Pesquisa e Planejamento do IPEA, conheci e convivi com vários petistas durante o segundo governo FHC. Ouvi de vários deles que o governo FHC era inviável, também li muito sobre esta tese. Estelionato eleitoral, fracasso econômico, relação tensa com o Congresso, revolta da sociedade e várias outras teses justificavam o "Fora FHC". Não lembro de nenhuma conversa ou de nenhum texto onde os petistas analisavam um possível governo de Marco Maciel ou um governo do então PFL. Mais um vez me pergunto por que seria obrigado a responder as perguntas que os que me indagam não responderam.
Serei eu um golpista? Se eu for toda a cúpula do atual governo também é. Golpista que quer dar golpe em golpista tem cem anos de perdão? Não sei. Na verdade não me considero golpista e não considero as manifestações golpistas. Hoje saí de casa para dizer que não aguento mais tantos desmandos do governo. Como escrevi no FB um dia antes das manifestações:
Eu vou!
Não é pela oposição, não é pelo governo, não é pelo país, não é pelos pobres, não é pelos ricos, não é nem mesmo contra a corrupção... É por mim.
Vou para dizer que os donos do poder passaram dos limites. Vou para dizer que não sou servo, que vivo em uma república e que tenho direito a saber o que é feito com o poder que o Estado detém. Vou para dizer que não é possível viver em um país onde professores, médicos, radialistas, bancários e outros tantos entram para a política e poucos anos depois viram milionários. Vou para dizer que não quero financiar os empresários amigos do governo de plantão. Vou porque sou um cidadão e tenho direito de ir para onde quiser, não devo a explicações a governo nenhum, pelo contrário, os governos é que me devem explicações. Vou para dizer que já deu. Vou porque quero.
O que querem os outros que estarão lá? Não é problema meu, cada um que vá ou fique por seus próprios motivos. Eu vou.
Hoje, após as manifestações, eu resumi tudo isto com o famoso "não pise em mim". Fui para avisar aos governantes que não pisem em mim.
Não me arrependo de ter ido. Vi uma multidão, a PM estima em 50 mil e há quem fale de 100 mil, que acredito que estava com o mesmo espírito que eu. Uma gente que foi acusada de pregar o ódio, muito embora não tenha um exército para chamar de seu, fez uma manifestação sem nenhuma ocorrência. O padrão foi o mesmo Brasil afora, mesmo em São Paulo, onde a PM estimou um milhão de pessoas, o clima foi de tranquilidade. É irônico que os nos acusam de pregar o ódio não faz muito tempo argumentavam que a violência é inevitável em grandes manifestações. Simbólico foi o espanto de uma repórter da Globonews com o tratamento dispensado a imprensa e a polícia por parte dos manifestantes, no lugar das tradicionais ameaças e agressões apareceram abraços, aplausos e fotos. Aqui em Brasília testemunhei o momento em que alguns jovens passaram com cartazes pró-governo e/ou pró-PT no meio dos manifestantes. Linchamento? Pancadaria? Não. Uma vaia. É muito ódio...
Não foi apenas uma multidão pacífica que vi. Hoje haviam várias ideias na Esplanada. Dos que estavam lá apenas para soltar o verbo contra um governo que está entre os piores da história republicana, caso em que me enquadram, aos que pediam o impeachment da presidente. Não vi referências a intervenção militar, pode ter sido por conta do local em que eu estava, mas não vi. Também não vi pedidos de reforma política, pelo contrário, fiquei com a impressão que quem estava lá não confia no atual governo para liderar tão importante reforma. Aliás esta é uma questão importante no atual momento político: confiança. Creio que muitos dos que perderam a paciência com o governo a ponto de vaiar entrevista de ministros estão irritados com o desapego do governo aos fatos e às próprias versões que criam dos fatos. Hoje um ministro dizia que as manifestações não eram golpismo, outro acusava os manifestantes de fascistas em ambos diziam falar em nome do governo e da presidente. O que esperar de um governo que passou a campanha inteira negando a existência de uma crise para agora, três meses depois de tomar posse, dizer que usou todo instrumental que tinha para a combater a crise que não existia?
Enfim, ainda estou perplexo com as multidões que foram às ruas. Sempre tive acostumado a estar na minoria que estranho quando vejo tanta gente pedindo o mesmo que eu. Ser um liberal e um individualista em um continente onde imperam o estatismo e coletivismo deixa suas marcas. Talvez por isto eu esteja tão surpreso, hoje é um dos raros dia que posso dizer que eu concordo e tenho o mesmo sentimento das massas nas ruas.
Antes que eu esqueça ou que algum outro ministro queira passar a mão nas manifestações. Não fui pela reforma política, não fui por mudanças no financiamento campanha e nem muito menos para mudar o sistema (seja lá o que for isto). Fui para dizer em alto e bom som, com razão ou sem razão, "Fora Dilma! Fora Dilma!"
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