Toda vez que sai alguma projeção de mercado somos
bombardeados com a tese que existe uma conspiração pessimista a respeito da
economia brasileira. A tese do excesso de pessimismo é o último refúgio dos que
se recusam a entender que a política de desvalorizar câmbio, reduzir juros na
marra e controlar preços deu errado pelo simples fato que não poderia dar
certo. Controle de preços dispensa comentários, sempre que foi usado deu
errado. A combinação de juros baixos e câmbio desvalorizado tem uma defesa mais
forte, nem mesmo diria que é uma combinação ruim, apenas que só será obtida por
meio de uma redução drástica no gasto público que permita ao governo não ter de
se financiar no mercado. Se o governo gasta mais do que arrecada então é obrigado
a pedir dinheiro emprestado às taxas ofertadas pelo mercado. Quanto mais
dinheiro ele precisa pegar mais difícil conseguir taxas baixas, com taxas de
juros altas entra dólar no país e o câmbio se valoriza. Tentar conseguir a
combinação juros baixos e câmbio desvalorizado com política monetária é receita
para o desastre, como bem demonstrou a tentativa do governo Dilma.
Mas voltemos ao assunto do pessimismo. Toda vez que vejo o
governo ou quem quer seja colocar esta tese na mesa me pergunto quem são os
pessimistas que estão impedindo o sucesso da economia brasileira. Serei eu e
uma meia dúzia de economistas que criticam o governo em blogs e no FB? Não
creio, duvido que algum responsável por decisões de investimento decida lendo o
que dizemos. Serão outros economistas que criticam a política do governo em
grandes jornais? Também não creio, para cada um destes existem, ou pelo menos
existiam, outros tantos economistas garantido que nossa economia está sólida e
segura. Serão os jornalistas econômicos? O tal Partido da Imprensa Golpista?
Difícil, esses jornalistas não produzem números nem calculam previsões, quando
muito repercutem as previsões do mercado. Desta forma creio que só ficou um
suspeito, ele mesmo, o grande o vilão dos governantes democráticos e populares:
o mercado. Apenas este ser, que os críticos frequentemente apontam como uma
espécie de divindade moderna, teria tanto poder para espalhar o pessimismo que
impede o Brasil de ter um crescimento chinês.
Felizmente nosso Banco Central monitora de perto o que este
tal de mercado pensa sobre a economia brasileira, melhor: monitora, organiza e
divulga o que o mercado anda dizendo para gerar tanto pessimismo. Estes números
estão disponíveis na página do Banco Central em uma publicação chamada Focus
(link aqui). Para ver o grau de pessimismo do mercado peguei as previsões
feitas no início de cada ano do governo Dilma e comparei com o que de fato
ocorreu. São feitas previsões de muitas variáveis, me limitei a crescimento e
inflação porque são as mais comentadas na imprensa. Os resultados estão na
tabela abaixo.
Ano
|
Crescimento
|
Inflação
|
||
Previsto
|
Ocorrido
|
Previsto
|
Ocorrido
|
|
2011
|
4,50%
|
2,73%
|
5,34%
|
6,50%
|
2012
|
3,30%
|
1,03%
|
5,31%
|
5,84%
|
2013
|
3,26%
|
2,28%
|
5,49%
|
5,91%
|
Para valores
previstos foram usados os dados da coluna hoje para o ano de referência no
primeiro relatório Focus de cada ano, para valores ocorridos foram usados dados
do IPEADATA.
Perceberam que em todos os anos do governo Dilma o mercado
começou o ano esperando mais crescimento e menos inflação do que ocorreu? À luz
dos números os pessimistas são otimistas. Onde estão os pessimistas afinal de
contas? Na realidade estão espalhados e falando para poucos. O que existe em
relação à economia brasileira é um enorme e aparentemente infindável otimismo. Os
que acusam o pessimismo de responsável pelo baixo investimento e a baixa de
crescimento no Brasil devem procurar outros vilões para a fábula que estão
escrevendo, a lista de vilões é grande: Bush Jr, FHC, aquecimento global, Sábios
do Sião, extraterrestres malvados, homem do saco, mulher loura dos banheiros,
Dr. Silvana e muitos outros.
Excelente avaliação! Continue o bom trabalho. Simples, objetivo e direto! Precisamos desses tipos de argumentos para contestar as confusões cíclicas de pessoas como as do nosso digníssimo Ministro (Não preciso explicitar à qual pasta me refiro).
ResponderExcluirPerfeito Ellery!
ResponderExcluirAbs
Roberto,
ResponderExcluirTem um novo livro do Sebastián Edwards que pode lhe resultar interessante:
http://global.oup.com/academic/product/toxic-aid-9780198704423;jsessionid=BD900B2AD81FC3A675256AF8483DC88A?cc=es&lang=en&
Ellery, está acompanhando os dados agora de 2014? Aconteceu a mesma coisa de novo: Inflação esperada: 5,97% e PIB esperado: 1,95% (de acordo com o 1o Focus de 2014)
ResponderExcluir