quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quem são os pessimistas?

Toda vez que sai alguma projeção de mercado somos bombardeados com a tese que existe uma conspiração pessimista a respeito da economia brasileira. A tese do excesso de pessimismo é o último refúgio dos que se recusam a entender que a política de desvalorizar câmbio, reduzir juros na marra e controlar preços deu errado pelo simples fato que não poderia dar certo. Controle de preços dispensa comentários, sempre que foi usado deu errado. A combinação de juros baixos e câmbio desvalorizado tem uma defesa mais forte, nem mesmo diria que é uma combinação ruim, apenas que só será obtida por meio de uma redução drástica no gasto público que permita ao governo não ter de se financiar no mercado. Se o governo gasta mais do que arrecada então é obrigado a pedir dinheiro emprestado às taxas ofertadas pelo mercado. Quanto mais dinheiro ele precisa pegar mais difícil conseguir taxas baixas, com taxas de juros altas entra dólar no país e o câmbio se valoriza. Tentar conseguir a combinação juros baixos e câmbio desvalorizado com política monetária é receita para o desastre, como bem demonstrou a tentativa do governo Dilma.

Mas voltemos ao assunto do pessimismo. Toda vez que vejo o governo ou quem quer seja colocar esta tese na mesa me pergunto quem são os pessimistas que estão impedindo o sucesso da economia brasileira. Serei eu e uma meia dúzia de economistas que criticam o governo em blogs e no FB? Não creio, duvido que algum responsável por decisões de investimento decida lendo o que dizemos. Serão outros economistas que criticam a política do governo em grandes jornais? Também não creio, para cada um destes existem, ou pelo menos existiam, outros tantos economistas garantido que nossa economia está sólida e segura. Serão os jornalistas econômicos? O tal Partido da Imprensa Golpista? Difícil, esses jornalistas não produzem números nem calculam previsões, quando muito repercutem as previsões do mercado. Desta forma creio que só ficou um suspeito, ele mesmo, o grande o vilão dos governantes democráticos e populares: o mercado. Apenas este ser, que os críticos frequentemente apontam como uma espécie de divindade moderna, teria tanto poder para espalhar o pessimismo que impede o Brasil de ter um crescimento chinês.

Felizmente nosso Banco Central monitora de perto o que este tal de mercado pensa sobre a economia brasileira, melhor: monitora, organiza e divulga o que o mercado anda dizendo para gerar tanto pessimismo. Estes números estão disponíveis na página do Banco Central em uma publicação chamada Focus (link aqui). Para ver o grau de pessimismo do mercado peguei as previsões feitas no início de cada ano do governo Dilma e comparei com o que de fato ocorreu. São feitas previsões de muitas variáveis, me limitei a crescimento e inflação porque são as mais comentadas na imprensa. Os resultados estão na tabela abaixo.

Ano
Crescimento
Inflação

Previsto
Ocorrido
Previsto
Ocorrido
2011
4,50%
2,73%
5,34%
6,50%
2012
3,30%
1,03%
5,31%
5,84%
2013
3,26%
2,28%
5,49%
5,91%
Para valores previstos foram usados os dados da coluna hoje para o ano de referência no primeiro relatório Focus de cada ano, para valores ocorridos foram usados dados do IPEADATA.


Perceberam que em todos os anos do governo Dilma o mercado começou o ano esperando mais crescimento e menos inflação do que ocorreu? À luz dos números os pessimistas são otimistas. Onde estão os pessimistas afinal de contas? Na realidade estão espalhados e falando para poucos. O que existe em relação à economia brasileira é um enorme e aparentemente infindável otimismo. Os que acusam o pessimismo de responsável pelo baixo investimento e a baixa de crescimento no Brasil devem procurar outros vilões para a fábula que estão escrevendo, a lista de vilões é grande: Bush Jr, FHC, aquecimento global, Sábios do Sião, extraterrestres malvados, homem do saco, mulher loura dos banheiros, Dr. Silvana e muitos outros.


4 comentários:

  1. Excelente avaliação! Continue o bom trabalho. Simples, objetivo e direto! Precisamos desses tipos de argumentos para contestar as confusões cíclicas de pessoas como as do nosso digníssimo Ministro (Não preciso explicitar à qual pasta me refiro).

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  2. Roberto,
    Tem um novo livro do Sebastián Edwards que pode lhe resultar interessante:
    http://global.oup.com/academic/product/toxic-aid-9780198704423;jsessionid=BD900B2AD81FC3A675256AF8483DC88A?cc=es&lang=en&amp

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  3. Ellery, está acompanhando os dados agora de 2014? Aconteceu a mesma coisa de novo: Inflação esperada: 5,97% e PIB esperado: 1,95% (de acordo com o 1o Focus de 2014)

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