domingo, 11 de março de 2018

Proteção e tarifas nos EUA e no Brasil: Como estão as tarifas de cada país em relação as tarifas de países semelhantes?


O jornal Washington Post fez um texto interessante para questionar afirmações de Peter Navarro, assessor de Trump, dizendo que os EUA possuem as menores tarifas do mundo (link aqui). A conclusão do jornal é que as tarifas nos Estados Unidos estão entre as mais baixas, mas que dizer que são as mais baixas do mundo é ir muito longe. Resolvi pegar carona no artigo e olhar com mais cuidados os dados de tarifa do Banco Mundial e ver onde se enquadra os Estados Unidos. O artigo do Washington Post cita os dados que vou usar, mas a análise deles é centrada nos dados da Organização Mundial do Comércio que incluem barreiras não tarifárias. Além de divertido o exercício ilustra mais uma vez os perigos de comparar países ricos com países emergentes.

A medida de tarifa usada no post será a média ponderada das tarifas aplicadas por cada país no período que vai de 2011 a 2015, a ponderação é feita pela quantidade importada de cada produto. Comecemos comparando os Estados Unidos com a OCDE e grupos de países definidos pela renda de acordo com a classificação do Banco Mundial (link aqui). Os dados estão na figura abaixo, repare que de fato as tarifas médias nos Estados Unidos são mais baixas que em todos os grupos, inclusive o grupo dos países de renda alta e a OCDE. Desta forma está justificada a conclusão que os Estados Unidos possuem tarifas baixas. Note também que existem saltos entre as tarifas dos diversos grupos de países, o que ilustra os riscos de comparar países de grupos diferentes. Lembre disso quando comparar as tarifas dos EUA com as do Brasil, para ser mais claro: o Brasil não é referência para os Estados Unidos.




Para comparar os Estados Unidos com outros países ricos selecionei esse grupo de países e excluí os que possuem menos de dez milhões de habitantes. O procedimento me deixou com dezoito países, porém onze são países europeus que possuem as mesmas tarifas. Para não carregar a figura com dados redundantes juntei esses países com o rótulo “Países da Europa”. A figura abaixo mostra o resultado, repare que os Estados Unidos estão no meio da lista, abaixo da Coreia do Sul, Arábia Saudita, Chile e Austrália e acima dos Países da Europa, Japão e Canadá. A conclusão é que os dados do Banco Mundial reforçam a conclusão do Washington Post: as tarifas dos Estados Unidos são baixas, mas não dá para dizer que são as mais baixas do mundo.




E se fizermos o mesmo exercício para o Brasil? Na semana passada tanto o Banco Mundial quanto a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) lançaram documentos recomendando que o Brasil abra mais a economia (link aqui e aqui). Os dados do Banco Mundial suportam a tese que a economia brasileira é fechada? A figura abaixo mostra as tarifas no Brasil comparadas com as dos mesmos grupos de renda de países usados para os Estados Unidos e com América Latina e Caribe no lugar da OCDE. Reparem que no Brasil a tarifa média está acima do grupo de países de renda média-alta, grupo onde o Banco Mundial classifica o Brasil, também está acima da média da América Latina e Caribe, de fato nossas tarifas só perdem para a média dos países de renda baixa.




A comparação no grupo de países não nos deixa em situação melhor. Aplicado o mesmo procedimento usado para os Estados Unidos, países do mesmo grupo com mais de dez milhões de habitantes, fiamos com a terceira tarifa mais alta, na “nossa frente” estão apenas Irã e Venezuela. Logo abaixo do Brasil aparece Argélia e depois Cuba, sim o Brasil tarifa mais do que Cuba. Nossa tarifa média de 8,34% está acima da observada na Rússia, 5,34%, e na China, 3,4%. Se considerarmos os países da América do Sul a Argentina aparece com 6,39%, seguida do Equador, 4,82%, Colômbia, 4,67% e Peru, 2,93%. No México a tarifa média é de 4,12%, menos da metade da nossa. Se alguém ficou curioso com Cuba nos países de renda média-alta eu informo que também desconfio do dado, é fato conhecido que dados oficiais de ditaduras são suspeitos. O Banco Mundial, uma organização multilateral, não pode destoar muito dos dados oficiais, não sei o Banco Mundial pode fazer como o FMI e excluir Cuba das bases de dados e, mesmos e puder, não sei se seria a melhor estratégia. Quem estiver interessado em estimativas não oficiais para a renda média de Cuba recomendo os dados do Projeto Maddison que usei em post sobre Cuba (link aqui).



Os dados para os Estados Unidos mostram um país com tarifas baixas, porém maiores do que afirmam os propagandistas do aumento de tarifas na terra da liberdade. Para o Brasil o recado é que destoamos dos países do nosso grupo em relação a tarifas, somos um país de renda média-alta com tarifas de país pobre. O resultado que o Brasil é mais fechado do que deveria ser aparece com outras medidas de abertura, em setembro de 2016 outro post do blog chegou a conclusões semelhantes quanto a abertura no Brasil usando dados de exportação e importação(link aqui). Podemos continuar criticando métricas e justificando porque somos diferentes ou aproveitar o embalo dos relatórios do Banco Mundial e da SAE/PR para começarmos a abrir nossa economia. Não precisamos nos inspirar em países com fama liberais, na situação atual reduzir nossas tarifas para o nível de Cuba já seria um avanço, ou, ironias à parte, podemos tentar chegar na média dos países de renda média-alta ou quem sabe no nível da China comunista... desculpem, não resisti.

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