É comum escutarmos que o Brasil é o país dos rentistas, a
frase costuma ser justificada pela impressão que grande parte da renda nacional
vai para investidores do mercado financeiro ficando apenas uma pequena parte
para os donos do dito capital produtivo e uma parte ainda menor para os
trabalhadores. O objetivo desse post é avaliar se a parte da renda que vai para
o trabalho no Brasil é de fato muito baixa quando comparada a de outros países.
Para saber se a renda do trabalho no Brasil é muito baixa
serão usados os dados da Penn World Table (link aqui), uma base de dados que
cobre 182 países com informações para o período de 1950 a 2014 e informa a participação
da renda do trabalho no PIB dos países. Para fins de análise serão considerados
os países que possuíam mais de vinte milhões de habitantes em 1995. Antes de
mostrar os números é importante registrar que o cálculo da participação da
renda do trabalho na renda total não é algo trivial, fatores como informalidade,
forte presença de pequenas empresas ou mesmo a composição setorial da economia
podem distorcer os resultados obtidos. Caso deseje saber mais detalhes a esse
respeito ver o artigo “Getting Income Shares Right” de Douglas Gollin publicado
no Journal of Political Economy (link aqui), a respeito dessa questão para o
Brasil o leitor pode dar uma olhada no artigo “Long-run Implications of the
Brazilian Capital Stock and Income Estimates” que escrevi junto com Victor
Gomes e Mirta Bugarin e foi publicado na Brazilian Review of Econometrics (link
aqui). Naturalmente as dificuldades não impedem o uso dos dados, o fundamental é
que procedimentos compatíveis foram usados para obter os números de cada país
de forma que a comparação entre os países faça sentido.
Feitas as ressalvas, passemos aos números. Se considerarmos
os dados dos trinta e seis países com dados disponíveis para todo o período e
mais de vinte milhões de habitantes em 1995 temos que o valor médio da
participação da renda do trabalho foi de 0,51, ou seja, na média dos países e
dos anos o trabalho ficou com 51% da renda. Na mesma amostra de países a
mediana foi de 0,52, o país com
maior participação do trabalho na renda foi a Rússia com 72% e a menor participação foi observada no Iraque com apenas 22%, provavelmente por conta do
petróleo. No Brasil o trabalho ficou com aproximadamente 55% da renda, não é um
valor alto, mas também não é baixo. Ficamos acima da média, da mediana e acima
de países como a Itália e a Coreia do Sul.
Quem me acompanha sabe de minhas reservas quanto a
comparações entre países emergentes e países ricos, por conta disso repeti o
exercício considerando apenas os países classificados como renda média alta
pelo Banco Mundial. Nessa amostra a média foi 0,48 e a mediana foi de 0,51.
Novamente ficamos acima da média e da mediana, de fato, considerando apenas
esse grupo de países, ficamos com a quinta maior participação do trabalho na
renda.
Os números desse post não permitem falar sobre os rentistas,
mas sugerem que a participação do trabalho na renda no Brasil não é pequena
quando comparada ao observado em outros países. Lembrem disso da próxima vez
que esbarrarem em alguém dizendo que os trabalhadores brasileiros são muito
explorados e que toda a renda vai para o capital.
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