O IBGE divulgou hoje as contas nacionais referentes ao
quarto trimestre de 2019 (link aqui), com isso temos o quadro completo do PIB
no ano passado. Houve um crescimento de 0,5% em relação ao trimestre anterior,
já corrigido por sazonalidade, no acumulado de quatro trimestres, ou seja, durante
todo o ano de 2019, o PIB cresceu 1,1%. No total o PIB de 2019 foi de R$ 7,257
trilhões, sendo que R$ 322 bilhões vieram da agropecuária, R$ 1,301 trilhão
veio da indústria e R$ 4,590 trilhões vieram dos serviços. Na divisão do bolo o
consumo das famílias ficou com R$ 4,712 trilhões, o investimento com R$ 1,114
trilhão e o consumo do governo com 1,472 trilhão.
Quando da divulgação dos números do terceiro trimestre
alertei sobre os necessários cuidados com a empolgação, desta vez alerto para os riscos das
frustrações. A escolha pela agenda de reformas implica na recuperação lenta,
não estamos tentando mais um surto de crescimento que termina em grandes crises
e décadas perdidas. O plano é arrumar a casa para depois crescer de forma
consistente, embora não necessariamente rápida, como a casa estava (e ainda
está) muito bagunçada ainda temos um longo caminho de crescimento baixo. Repito
o que venho dizendo há mais de dez anos: para economia brasileira um
crescimento muito alto é mais perigoso que um crescimento muito baixo. Se você
está dirigindo um fusca velho não tente correr mais que uma Ferrari, caso
consiga o motor do seu carro vai fundir e você vai ficar a pé.
A figura abaixo mostra o crescimento da economia desde 1996,
as barras mostram o crescimento em relação ao trimestre anterior (com ajuste
sazonal) e a linha mostra o crescimento acumulado em quatro trimestres. Repare
que o crescimento está estabilizado em torno de 1% ao ano, a agenda de reformas
tenta elevar esse valor por meio do aumento da produtividade, por isso os
efeitos desta agenda são demorados. O risco de adotar estímulos é repetir o
padrão de alto crescimento seguido de grande crise como aconteceu entre 2010 e
2015. De toda forma é sempre bom registrar que as reformas iniciadas em 2016 no
governo Temer reverteram a trajetória de queda do PIB e aumento da inflação que
foi o legado da hoje infame Nova Matriz Econômica.
Ao contrário de outros analistas que tentam entender como o
bolo foi feito estudando a divisão do bolo aqui tenho insistido em começar a
análise das contas nacionais pela produção, ou seja, pelo lado da oferta. A
figura abaixo mostra o crescimento dos grandes setores da economia. A
agropecuária, que respondeu por 5,2% do valor agregado e 4,4% do PIB, cresceu 1,3%
no período; o setor de serviços, 73,9%
do valor agregado e 63,3% do PIB, também cresceu 1,3%; finalmente, a indústria,
que responde por 20,1% do valor agregado e 17,9% do PIB, cresceu 0.46%. Repare
que, por modesto que tenha sido, o crescimento ocorreu em todos os setores da
economia.
No acumulado de quatro trimestres a construção cresceu 1,6%
e teve o melhor desempenho entre os setores da indústria, como esse é um setor que
está recebendo estímulos do governo há um risco de crescimento artificial o que
pode ser um problema mais na frente. A indústria de transformação cresceu 0.1%,
o baixo crescimento ou mesmo queda da indústria de transformação é parte
fundamental da arrumação da casa. Muito investimentos ruins foram realizados
neste setor no período de 2006 a 2014, são empresas sem perspectivas, algumas
criadas apenas para viabilizar corrupção, que devem quebrar de forma a liberar
capital e trabalho para empresas produtivas que ainda serão criadas. A indústria
extrativa teve queda 1,1%, em parte por conta de Brumadinho. As quedas de 3% e
9,3$ no primeiro e segundo trimestres de 2019 não foram recuperadas pelo
crescimento de 4% e 3,4% nos trimestres seguintes.
Nos serviços o maior crescimento novamente ficou por conta
do setor de informação e comunicação que cresceu 4,1% no acumulado de quatro
trimestres. As atividades imobiliárias também tiveram um bom desempeno com
crescimento de 2,3%, vale aqui o alerta feito para construção. A figura abaixo
mostra o crescimento no setor de serviços.
Por fim, passemos a análise pelo lado da demanda, ou seja,
como foi distribuída a produção do país. O maior crescimento foi no
investimento, a parte do produto destinada a criar mais produto no futuro, que
cresceu 2,2% no acumulado em quatro trimestres reforçando a tendência iniciada
no segundo trimestre de 2018. O consumo das famílias cresceu 1,8% e o consumo do
governo caiu 0,4%, ou seja, a fatia do bolo que vai para o governo caiu. Isso não
significa que o governo está contribuindo menos para o PIB, para fazer essa
afirmação seria necessário avaliar a contribuição do governo pela ótica da
oferta, a contribuição direta, medida pelo setor administração, defesa, saúde e
educação públicas e seguridade social ficou estável com crescimento de 0,04%.
As exportações caíram 2,5% e as importações subiram 1,1%.
Os números das contas nacionais reforçam que estamos em
recuperação lenta, mas sólida. O choque do coronavírus deve comprometer o
começo de 2020 aumentando a pressão na equipe econômica por parte dos que,
dentro e fora do governo, pedem uma política que leve a um crescimento mais
rápido. Da capacidade do time de Paulo Guedes resistir a essa pressão depende o
futuro da economia brasileira. Lembro aos apressados que a experiencia recente
nos mostra que crescimento rápido pode terminar muito mal e que os maiores
beneficiados com os estímulos são os que correm para dizer que não vão pagar a
conta.
Boa Roberto! Poderia fazer um post sobre como seria uma reforma tributária sua.
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