Já comentei aqui no blog a respeito do trabalho do professor
Marcelo Hermes do Instituto de Biologia da UnB no qual ele desafia a ideia que
houve uma melhora significativa no desempenho da produção acadêmica nacional e
mostra que o impacto da pesquisa realizada no Brasil é baixo. Grosso modo o
professor Marcelo Hermes usa indicadores de qualidade para contrapor
indicadores de quantidade normalmente usados para avaliar o desempenho da
academia no Brasil. Quem tiver interesse pode ler alguns artigos para jornal disponíveis
aqui, aqui e aqui.
Os números apresentados pelo Marcelo Hermes são fortes e costumam
impressionar, mas, chato que sou, resolvi checar se o impacto de nossa produção
científica é mesmo tão ruim quando levamos em conta o PIB per capita do Brasil.
Uma maneira bem preliminar para avaliar esse ponto é fazer uma regressão entre
o impacto da pesquisa e o PIB per capita, grosso modo essa regressão vai dizer qual
seria o impacto da pesquisa se considerarmos apenas o PIB per capita. É claro
que é uma forma bem superficial de abordar a questão, deixa de lado questões
relevantes como o quanto cada país gasta com pesquisa ou a qualidade do ensino
em cada país e ainda nem falei dos problemas estatísticos relacionados a
regressão. Mesmo assim creio que o exercício é válido para o blog, afinal
oferece mais informações que apenas listar os países por impacto e destacar um
ou outro país.
Para o PIB per capita peguei os dados do Banco Mundial
corrigidos por paridade de poder de compra. A medida de impacto foi mais
complicada, usei o CWTS Leiden Ranking para 2019 (link aqui) e considerei uma
medida que calcula a proporção de artigos publicados por professores da
universidade que estão entre os dez mais citados da área no ano e o total de
artigos publicados. Não tenho um motivo forte para a escolha, mas vale dizer que
o professor Marcelo Hermes usa esse critério em alguns textos e é o indicador
que aparece na página do ranking. Na sequência agrupei os dados por país e calculei
a média, desta forma meu indicador pega a média do impacto das universidades do
país que constam no ranking.
A primeira figura mostra o resultado para todas as áreas de
conhecimento. O impacto da pesquisa brasileira fica abaixo da reta, ou seja, é
menor que o esperado se considerarmos apenas o PIB per capita e fica abaixo da
área azulada que representa o intervalo de confiança de 95% em torno do valor
estimado. Embora não seja um desastre, repare que ficamos melhores que Argentina,
México e Japão, o resultado corrobora a tese que o impacto da pesquisa
realizada no Brasil é baixo.
Como os dados permitem reproduzir o exercício acima por área
de conhecimento resolvi checar os desempenhos de cada área. A primeira foi de
biomédica e ciências da saúde (Biomedical and health sciences). O desempenho do
Brasil nessa área é um pouco pior que o geral, ainda assim ficamos acima do
México, embora colados na Argentina e abaixo do Japão.
A segunda área avaliada foi ciências da vida e da terra (Life
and earth sciences). Nessa área o desempenho da pesquisa realizada nas
universidades brasileiras, embora fique abaixo do esperado, fica dentro do intervalo
compatível com nosso PIB per capita.
Na área de matemática e ciência da computação (Mathematics
and computer science) o desempenho do Brasil é praticamente igual ao desempenho
esperado para o nosso PIB per capita. Continuamos acima de Argentina. México e
Japão e encostamos no Chile e na África do Sul.
A área de física e engenharias (Physical sciences and
engineering) repete o padrão encontrado nas ciências da vida e da terra com um impacto
abaixo do previsto pelo PIB per capita, porém dentro do intervalo de confiança.
A última área com dados disponíveis é a de ciências sociais
e humanidades (Social sciences and humanities). Mais uma vez estamos dentro do
intervalo de confiança, mas ficamos abaixo do valor previsto. O impacto da
pesquisa brasileira nessa área ficou acima de Argentina, México e Japão e muito
próximo do Chile.
A análise por áreas mostra que em apenas uma área, biomédica e
ciências da saúde, a pesquisa realizada nas universidades brasileiras ficou
fora do intervalo previsto considerando apenas o PIB per capita do país. Não é um
resultado para comemorar, mas está longe de um desastre. Um refinamento da
análise que considere o gasto por pesquisador, a inserção das universidades
locais em redes internacionais de pesquisa ou a qualidade do ensino básico no
país deve ser capaz de jogar luz em pontos importantes que passaram batido
nesse post. Até lá creio que devemos pensar em reformas que levem a um aumento
do impacto da pesquisa realizada em nossas universidades, porem com cuidado
para não jogar o bebê fora junto com a água do banho.
Oi Roberto, como vc obteve os valores de impacto dos países usando o Leiden? Eu so consigo achar por universidade. Grande abraço!
ResponderExcluir