Algumas vezes caio na tentação de comparar o desempenho econômico
dos países da América Latina com o dos países da Ásia, esse post é uma destas
vezes. Naturalmente existem muitas diferenças entre os dois grupos de países
que estão além das características econômicas, isso deve ser levado em conta
quando da leitura desse post, porém tais diferenças não tornam as comparações
irrelevantes, longe disso. Acima de quaisquer diferenças os habitantes de todos
os países são muito parecidos uns com os outros, somos todos humanos, de forma
que as diferenças são explicadas muito mais por incentivos e restrições,
inclusive naturais, do que por uma diferença intrínseca entre cidadãos nascidos
nos diversos países. Se você não gostou desse princípio, que todos somos muito
parecidos, tente pensar negando esse princípio e veja onde você pode chegar.
Hoje vou comparar taxas de investimento, nas próximas
semanas farei outras comparações. A taxa de investimento é uma variável
fundamental para explicar o crescimento de uma economia. Investimento significa
mais máquinas e mais capacidade de produção, investimento significa novas
máquinas com novas tecnologias incorporadas (na verdade, novas máquinas não são
a única forma de incorporar tecnologias no processo de produção, mas são uma
forma importante de fazer isso), e, para a turma da demanda, investimento
significa demanda efetiva. Não importa por onde você olhe, investimento é
importante para explicar crescimento e PIB per capita.
A figura abaixo mostra a relação entre taxa de investimento
e PIB per capita nos países Emergentes da Ásia e da América Latina e Caribe, a classificação
do FMI e usei todos os países listados pelo FMI (link aqui) que estavam na Penn
World Table (PWT), excluí o Brunei, que por ter um PIB per capita muito alto
estava distorcendo os gráficos, também limitei a análise ao período entre 1995
e 2014.
Repare que os países do grupo de emergentes da Ásia, pontos
laranjas, são mais pobres e possuem taxas de investimento maiores que os países
da América Latina, pontos verdes. Se você não viu isso repare que os pontos
laranjas estão mais à esquerda (mais pobres) e mais altos (taxas de investimento
maiores) do que os pontos verdes. Em particular, repare a concentração de
pontos verdes abaixo da linha e a concentração de pontos laranjas abaixo da
linha. A figura abaixo traça uma reta para os países emergentes da Ásia e outra
para os países da América Latina, repare que a reta laranja (emergentes da
Ásia) fica sempre acima da reta verde (América Latina e Caribe), o que pode ser
interpretado como para o mesmo PIB per capita os países emergentes da Ásia
investem mais que os países da América Latina e Caribe.
O recado é claro: PIB per capita baixo não é desculpa para a
baixa taxa de investimento da América Latina, se não investimos mais é porque
não queremos e não porque não podemos. A figura abaixo mostra como a relação
mudou entre 1995 e 2014, note quem em 1995 apenas três países, todos da Ásia,
investiam mais de 40% do PIB. O Butão investia 43% do PIB com um PIB per capita
de $3.073, a Malásia investia 50% do PIB com um PIB per capita de $11.359 e a
Tailândia investia 46% do PIB com um PIB per capita de $8.116, naquele mesmo
1995 o PIB per capita do Brasil era $8.462 e investíamos apenas 17% do PIB.
Por fim é útil olhar para a relação entre PIB per capita e
taxa de investimento por grupos de renda, a figura acima sugere que a medida
que os países emergentes da Ásia ficaram mais ricos a relação entre PIB per
capita e taxa de investimento nestes países ficou mais próxima da relação
observada na América Latina. A figura abaixo mostra a relação entre PIB per
capita e taxa de investimento por grupo de PIB, no canto superior esquerdo
estão as combinações de anos e países com PIB per capita entre $1,1 mil e $4,28
mil, no canto superior direito está o grupo entre $4,28 mil e $7,52 mil, no
canto inferior esquerdo está o grupo entre $7,52 mil e $12,3 mil e no canto
inferior direito está o grupo entre $12,3 mil e 35,4 mil. Repare que apenas no
grupo dos países mais ricos (canto inferior esquerdo) as linhas se cruzam, em
todos os outros grupos a linha laranja (emergentes da Ásia) está acima da linha
verde (América Latina e Caribe). Repare também que nos países com maiores PIB
per capita as linhas apresentam inclinação negativa, isso dá muito pano para
manga, mas não vou tratar do assunto aqui, de fato, nem mesmo estou checando se
a inclinação é significativa.
A taxa de investimento sozinha não explica o desempenho da
economia de um país, além de vários outros fatores como capital humano,
instituições ou produtividade é preciso levar em conta que a taxa de
investimento mede o quanto está sendo investido, mas não mede no que está sendo
investido. Se um determinado país sair investindo na construção de monumentos que
não afetam ou afetam muito pouco a produção (alguém falou estádio da Copa?), ou
em obras que não terminam nunca a taxa de investimento vai aumentar, mas não há
porque esperar um aumento do PIB per capita. Porém, mesmo não explicando, a
taxa de investimento maior na Ásia é um dos fatores que devem ser considerados
para entender porque a média dos PIB per capita dos países emergentes da Ásia
cresceu 132% entre 1995 e 2014 e mesma média para América Latina cresceu apenas
73%.
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