O gráfico abaixo mostra a taxa de câmbio entre real e dólar
no Brasil de janeiro de 2008 até hoje, peguei a série na página de cotações do UOL. Pelo gráfico podemos ver dois momentos em que a taxa de câmbio passou de
R$ 2,40 por dólar. O primeiro foi no final de 2008, durante a crise financeira,
e o segundo foi semana passada. Qual a diferença entre os dois momentos?
Olhando o gráfico com cuidado é possível ver que em 2008 a subida se deu de
forma repentina, em menos de um mês o dólar passou de menos de R% 1,60 para
mais de R$ 2,40. Este tipo de movimento brusco costuma ser causado por movimentos
especulativos.
Por alguma razão o mercado começa a comprar dólar, em 2008 a
razão foi a crise, e o preço do dólar começa a subir. Esta subida faz com que
todo mundo corra para comprar dólares antes que fique ainda mais caro levando a
um aumento repentino da demanda por dólares e uma redução da oferta de dólares,
afinal quem tem dólar não quer vender se acredita que o preço vai subir. Em
situações como esta o Banco Central deve entrar no mercado vendendo dólares.
Esta política tem dois efeitos: aumenta a oferta de dólares e sinaliza para o
mercado que a alta do dólar pode ser revertida. Como ninguém quer vender
barato, principalmente se comprou caro, o mercado começa a vender dólares.
Manobras como esta, se bem executadas, podem trazer o câmbio de volta para o
valor de antes de tudo começar. Foi o que aconteceu em 2008/09. Note que a
intervenção do Banco Central foi para evitar um movimento especulativo que
poderia ser danoso à economia como um todo, tal tipo de política não é
exatamente um rompimento com o regime de câmbio flutuante. Embora deva
reconhecer que é preciso alguma arte para saber quando começar intervir e
quando parar de intervir nestas situações. Talvez o fato que em 2008 o Banco
Central era presidido por um economista vindo do mercado tenha ajudado no
timing.
Desta vez a subida se deu de forma diferente. O dólar saiu
do patamar de R$ 1,60 no final de 2011, chegou a R$ 2,00 em meados de 2012 onde
ficou por um bom tempo e recentemente teve uma subida íngreme (porém não tanto
quanto em 2008) até passar de R$ 2,40. Perceberam a diferença entre uma desvalorização
puramente especulativa como a de 2008 e uma desvalorização induzida pelo
governo como a atual? Ocorre que câmbio é uma variável difícil de prever e
controlar, tudo indica que a recente desvalorização foi mais rápida (não
necessariamente maior) que a desejada pelo governo. Existem várias explicações
para isto ter acontecido e quase todas guardam um pedaço da verdade. O fato é
que o Banco Central resolveu agir como quem combate um movimento especulativo.
Vais dar certo? Difícil prever.
Como falei acima câmbio é uma variável complicada. Neste
caso além das dificuldades usuais tem um fator que pode complicar a estratégia
do Banco Central. Nós não somos os únicos a olhar o gráfico deste post, todo o
mercado o conhece. Isto significa que o mercado sabe que o governo deseja um
real desvalorizado, até porque vários ministros já disseram isto em momentos
diferentes. Sendo assim como acreditar que o governo de fato vai se emprenhar
para trazer o dólar de volta a digamos R$ 2,00? Na semana passada o governo deu
sinais fortes que não vai deixar o real se desvalorizar, tão fortes que deram
resultados e o dólar recuou para menos de R$ 2,40. Mas e se o governo mudar de
ideia? Não será a primeira vez que o governo muda de ideia em assuntos
importantes, sequer será a primeira vez este ano. O próprio governo não mudou
de ideia ao decidir intervir no mercado para não deixar o dólar chegar a R$
2,50? Valor menor que o Ministro Mantega considerou ideal em 2009.
Esta incerteza tem custo. Se o governo de fato quiser “segurar”
o dólar vai acabar gastando mais do que gastaria se tivesse a confiança do
mercado. Se o governo mudar de ideia e resolver “aceitar” um câmbio a R$ 2,60 ou
mais terá literalmente jogado dinheiro fora. Particularmente sou de opinião que
o governo deva deixar o câmbio flutuar, isto evita a tarefa impossível de
determinar a taxa de câmbio correta. Mas se o governo pretende fixar um valor
ou um intervalo de flutuação para o câmbio é bom que faça isto de maneira
clara. Do jeito que está é o pior dos mundos.
P.S. Dada a dificuldade de prever o que vai acontecer com o
câmbio se você está com viagem de fim de ano marcado para o exterior e ainda
precisa comprar dólares, comece a comprar agora e vá comprando aos poucos até o
final do ano. Assim se o dólar subir você já comprou uma parte e não terá de
comprar tudo tão caro e se o dólar cair você poderá comprar uma parte a preços
mais baixos.
Movimento do dólar em 2.008 e agora em 2.013 tem muito a ver com causas externas - crise americana, QEs, anti-QEs, etc - do que apenas problemas domésticos.
ResponderExcluirÉ fato que o governo queria um real mais fraco mas a intensidade da mudança não deveria ser brusca como foi. Agora não tem jeito, vamos pagar o preço de excesso de consumo e baixa poupança se a liquidez mundial for secando.