Assim como Churchill só confiava nas estatísticas que ele
tinha manipulado eu só confio nos cálculos de produtividade total dos fatores (PTF)
que eu manipulei, digo, calculei. O motivo é que calcular PTF não apenas exige
especificar como fatores se transformam em produto como exige obter medidas de
cada um dos fatores usados. A primeira exigência é simples de entender no
trabalho de outros autores, a segunda não. Por mais que quem fez a estimativa
explique sempre sobra uma dúvida ou outra de como determinada medida foi construída.
Se não acredita em mim tente reproduzir as medidas de PTF de outros autores.
Porém, hoje resolvi olhar para as medidas de PTF da Penn World Table 8.1 (link
aqui), mais ainda, resolvi checar a correlação entre tal medida e algumas
variáveis normalmente usadas para explicar produtividade. Para isto fiz uma
série de gráficos mostrando a relação entre PTF e um conjunto de variáveis
selecionadas, em todos os casos foram usadas médias entre 2007 e 2011, últimos
anos da amostra. Nunca é demais repetir que correlação não é causalidade e que
o exercício que será feito não tem o rigor necessário para chamar o resultado de
uma conclusão científica, longe disso, os resultados servem apenas para atiçar
a curiosidade e plantar duvidas em quem queira pesquisar sobre o tema.
A primeira correlação que olhei foi entre PTF e relação capital
trabalho. Alguns autores argumentam que economias mais intensivas em capital
tendem a ter uma produtividade maior porque tecnologias intensivas em capital
incorporam mais tecnologia. A figura abaixo mostra que de fato há uma
correlação positiva entre PTF e relação capital trabalho, ou seja, quanto mais
capital usado na produção em relação ao trabalho usado na produção maior a PTF.
Porém repare que no Brasil, ponto verde, a PTF é menor do que seria de se
esperar considerando apenas a relação capital trabalho, em outras palavras,
somos poucos produtivos para o nosso nível de capital.
Depois olhei para capital humano. Existe um quase consenso
que capital humano é chave para produtividade, quanto mais treinada a força de
trabalho mais eficiente será a mão de obra e melhor utilizado será o capital. A
figura abaixo corrobora a relação positiva entre capital humano e PTF, porém,
mais uma vez, o Brasil está abaixo da linha, ou seja, países com capital humano
próximos ao nosso são mais produtivos que nós.
A próxima variável considerada foi tamanho do governo, na
falta de uma medida melhor à mão usei a proporção do gasto no PIB. A figura
mostra uma relação levemente negativa entre tamanho do governo e PTF [o leitor
curioso pode querer saber que a relação não é significativa], a figura também
mostra que novamente ficamos na parte de baixo, ou seja, levando em conta o
tamanho do nosso governo nossa produtividade é baixa.
Na sequência fiz o gráfico com produtividade e grau de
abertura. A relação é positiva como era de se esperar, países mais abertos tem
acesso a mais tecnologias e mais insumos, além disso as empresas desses países
estão expostas a mais competição. A figura mostra a correlação positiva entre
grau de abertura e PTF, assim como nos outros casos, a figura também mostra que
nossa produtividade é menor do que o esperado considerando apenas o grau de
abertura.
Por último considerei o preço do investimento. Em tese
quanto mais caro investir mais as firmas demoram com máquinas antigas, isso diminui
o ritmo de incorporação de novas tecnologias no processo de produção e, portanto,
reduz a produtividade. Aqui a figura mostra uma relação diferente da prevista,
pela figura quanto maior o preço do investimento maior a PTF. É difícil
entender a relação encontrada na figura, felizmente esse não é o objetivo do
post, no momento o que interessa é que mais uma vez nossa produtividade é baixa
se comparada à que seria esperada considerando apenas a variável relevante.
Os resultados combinados são frustrantes, para cada uma das
variáveis nossa produtividade é menor do que o esperado. É possível que nossa
baixa produtividade seja resultado de uma combinação ruim das variáveis
consideradas no exercício no post, também é possível que a explicação esteja em
outras variáveis que não considerei aqui. Creio que a segunda possibilidade é
mais provável, nossa baixa produtividade parece ser consequência de um conjunto
de regras que não estimulam a inovação nem a adoção de técnicas produtivas mais
eficientes, vou além, nossas regras ruins podem ser responsáveis até mesmo por
resultados ruins nas variáveis que escolhi para explicar a produtividade. Por
exemplo, dificuldades de investir e/ou barreiras à entrada podem explicar a
baixa relação capital trabalho no Brasil ou o compadrio entre políticos e
burocratas pode explicar porque nossa economia é pouco aberta. Se eu estiver certo
fica reforçada a necessidade urgente de retomar uma agenda de reformas voltada
para o crescimento da produtividade.
Por curiosidade: alguma razão específica para usar a PWT 8.1 em vez da recém-lançada PWT 9?
ResponderExcluirAinda não arrumei tempo para olhar com cuidado a versão 9, espero fazer isso na próxima semana.
ExcluirPor curiosidade qual indicador teve o maior R2? Pelas fotos parece ter sido o K/trabalho...
ResponderExcluirAs retas apenas ilustram o gráfico, nenhuma das regressões explica PTF.
ExcluirExiste algum trabalho que busque investigar a natureza deste problema?
ResponderExcluirÉ uma resposta difícil, uma solução definitiva não existe, mas existem vários pontos que já são quase consenso. O IPEA tem uma coletânea de dois volumes que é um bom ponto de partida. O link para o primeiro volume está aqui: http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=23986
ExcluirBoa noite, professor! Inicialmente, gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho. Os textos são muito didáticos. Uma dúvida: Para o capital humano, o senhor utilizou, na notação da PWT, a medida "hc"?
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