Não raro alguém me pergunta a respeito da Bolívia sugerindo
que lá as políticas inspiradas no bolivarianismo deram certo. De fato, ao
contrário do desastre venezuelano, a Bolívia vem crescendo a taxas razoáveis e
apresentando inflação sobre controle. Para que o leitor tenha ideia, de acordo
com os dados do FMI, entre 2011 e 2015 o PIB da Bolívia teve um crescimento médio
de 5,3% ao ano, enquanto, no mesmo período, o PIB do Paraguai cresceu 6,3% ao
ano, na Colômbia a média 4,5%, no Peru de 5,4% e no Brasil 2,1%. Se não foi um
milagre econômico e nem mesmo a maior taxa média de crescimento do período definitivamente
também não foi um desastre.
Para explicar de forma adequada o que está acontecendo na
Bolívia é preciso avaliar com o devido cuidado vários fatores. O primeiro é que
a Bolívia é um país muito pobre, em 2015 o PIB per capita em unidades de poder
de compra da Bolívia foi de $6.425, no Brasil foi de $15.614, na Colômbia foi
de 13.846, no Peru $12.194, dos países listado acima apenas o Paraguai, com PIB
per capita de $8.116 em 2015, está próximo da Bolívia. É possível que o
populismo autoritário de Morales não tenha sido destrutivo simplesmente por
falta do que destruir, ou que esse tipo de populismo seja compatível com uma
renda média de, digamos, $10.000, porém não mais do que isso. Nesse caso a Venezuela
com seus $16.672 de PIB per capita talvez ainda tenha uma longa ladeira para
descer. Que fique claro que estou especulado, tirei o $10.000 da cartola, porém
a possibilidade que regimes como o de Morales sejam viáveis apenas em níveis
baixos de renda per capita é plausível.
Outra possibilidade é que o desastre da Bolívia ainda não
chegou ou que pode até ser evitado. Para avaliar essa possibilidade seriam
necessários mais conhecimentos a respeito da Bolívia do que os que possuo. Em
particular seria necessário saber o quão longe Morales foi nas políticas
populistas, em particular nas que levam ao capitalismo de estado ou ao
capitalismo de compadres. Como já expliquei aqui no blog algumas vezes
distribuir dinheiro para pobres não é o que leva uma economia ao desastre, a
caminho para o desastre começa quando o governo começa a escolher quem serão os
muito ricos. Não sei dizer o quanto a Bolívia percorreu nesse caminho, tenho
motivos para desconfiar que andou muito, mas é apenas especulação.
Na falta de conhecimentos a respeito do processo político e
de como as instituições da Bolívia resistem ou ajudam no populismo de Morales
me resta apelar para os números. Sendo assim resolvi copiar descaradamente alguns
excelentes posts que o Carlos Eduardo Gonçalves (caso queira acompanha-lo além
do FB recomendo a página Por quê? Economês em bom português, link aqui) e criar
uma Bolívia sintética para tentar avaliar se Morales melhorou ou piorou o
desempenho econômico da Bolívia.
Criar um país sintético significa buscar uma combinação de
outros países de forma que tal combinação tem um comportamento próximo ao da
Bolívia no período anterior a chegada de Morales ao poder. O exercício consiste
em comparar o crescimento do PIB per capita dessa combinação de países, a
Bolívia sintética, com o crescimento do PIB per capita da Bolívia artificial.
Se a Bolívia sintética crescer mais que a Bolívia significa que Morales atrapalhou
o desempenho econômico da Bolívia, se crescer menos então podemos dizer que
Morales ajudou.
Para encontrar a combinação ideal dos países usei os dados
da Penn World Table 9.0 (link aqui) e selecionei um conjunto de variáveis
disponíveis entre 1980 e 2014 para os países da América Latina. As variáveis
escolhidas foram capital humano, relação capital trabalho, taxa de investimento
e participação do gasto público no PIB. O conjunto ficou pequeno e, pior,
apenas o Paraguai estava próximo da Bolívia, sendo assim no exercício a Bolívia
sintética ficou sendo basicamente o Paraguai. Para resolver a o problema adicionei
todos os países da amostra com PIB per capita próximo ao da Bolívia.
Naturalmente existem maneiras mais adequadas de selecionar os países que serão
usados, mas, por outro lado, estou escrevendo um post no meu blog, não um
artigo para publicação e revistas especializadas. De toda forma, como mostra a
figura abaixo, a Bolívia sintética reproduziu razoavelmente bem a Bolívia
verdadeira na década de 90 e no começo do século XXI, até que...
Até que um certo Evo Morales entra em cena. Podemos marcar o
surgimento de Morales com os protestos de Cochabamba por conta do aumento de
preço da água. Em 2002 o então deputado Evo Morales perdeu o mandato por ter
incentivado protestos, no mesmo 2002 Morales ficou em segundo lugar nas
eleições presidenciais. A surpreendente votação de Morales alavancou tanto a
carreira política dele quanto a adesão aos protestos na Bolívia. Em 2003
começam os conflitos por conta da privatização das companhias de gás na
Bolívia. Em março de 2005 o então presidente Carlos Mesa renuncia citando
explicitamente os bloqueios de rodovia e a desordem em algumas cidades causadas
pelo cocaleros liderados por Morales. Ainda em 2005 Evo Morales é eleito presidente
da Bolívia, cargo que ocupa até hoje.
Reparem na figura que é exatamente em 2002 que a Bolívia
sintética começa a descolar da Bolívia verdadeira. A figura abaixo mostra a
diferença entre o PIB per capita da Bolívia e o da Bolívia sintética. Assim
como na figura anterior foi considerado que o efeito de Morales começa em 2003
na sequência da derrota de 2002 e na consequente convulsão social que culminou
na renúncia do presidente eleito e na eleição de Morales. Se o exercício desse
post faz algum sentido, eu acredito que faz, então podemos dizer que mesmo sem
(ainda) ter causado um desastre econômico Morales já custou caro para os
bolivianos. Na verdade, ainda segundo o exercício do post, Morales amorteceu
muito do crescimento que o Bolívia deveria ter tido durante o boom das
commodities, uma época de ouro para países exportadores de matérias primas em
geral e da América Latina em particular.
Parabéns pelo raciocínio desenvolvido. Mas, para mim é simples. Os loucos da venezuela não ficaram só no discurso populista e esquerdista.Foram para a prática destruindo todos os pilares do livre mercado. O louco boliviano ficou mais no discurso e menos na prática.Sei que não está bem em discussão, mas mesmo o Brasil tendo um PIB bem maior, acredito que podemos tirar algumas lições.Os treloucados do PT enquanto não colocaram suas políticas em prática o país foi bem(1° mandato do molusco).Já a partir do seu segundo mandato e com a assunção da presidenta colocaram e exarcebaram suas políticas populistas e esquerdistas.Aí é que nós já estamos cansados de saber-O caos se instalou.
ResponderExcluirAbraços!!!