Esta semana teimou em aparecer na minha linha do tempo um mapa da América do Sul destacando que o Brasil respondia por mais de 50% do PIB do continente. Fiquei curioso e resolvi checar quanto foi essa proporção em outros anos.
O problema começou na escolha dos países da América do Sul,
segundo a Wikipédia, além dos suspeitos de sempre, constam Bouvet Island, uma
ilha de 49 km2 que pertence à Noruega que me pareceu mais perto da
Antártida do que da América do Sul, as Ilhas Falkland, que os Argentinos chamam
de Malvinas e já deu guerra com a Inglaterra e Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich
do Sul que também são da Inglaterra. Na Britânica estão os suspeitos de sempre:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana,
Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Como as pequenas ilhas que estão
na Wikipédia pouco contribuem para o PIB do continente e não encontrei os dados
de PIB delas no FMI nem no Banco Mundial fiquei com a lista da Britânica.
Outra razão para excluir as ilhas é que não são países, mas
sim territórios de países europeus. A mesma razão leva a retirar a Guiana
Francesa, que também não tem dados disponíveis nas bases que consultei. Até
aqui tudo bem, tenho um critério consistente e que me ajudou na obtenção dos
dados. Até que reparei que o Banco Mundial não tem dados de PIB para Venezuela
nos últimos anos, aqui complicou porque a Venezuela (ainda) é um país e tem
dados disponíveis nos primeiros anos. Para driblar o problema resolvi
apresentar dados do FMI (com a Venezuela) e do Banco Mundial (sem a Venezuela).
Definidos os países da amostra, faltava definir o indicador.
Para evitar brigas useis o PIB em dólares e o PIB com correção por paridade de
poder de compra. A figura abaixo mostra a participação do Brasil no PIB da América
do Sul, com correção por PPC, entre 1990 e 2021. Tanto nos dados do FMI quanto
nos dados do Banco Mundial o valor mais alto ocorre em 1990, no século XXI o
pico ocorre em 2002, também nos dados do FMI e do Banco Mundial. Nas duas
séries é possível observar o efeito da crise iniciada em 2014 ainda no governo
Dilma, na série do FMI o menor valor ocorre em 2017 e na série do Banco Mundial
ocorre em 2021. Em nenhuma das séries é possível observar uma tendência de
aumento da participação do PIB do Brasil no PIB da América do Sul, pelo
contrário.
Como era de se esperar, a série em dólares tem mais sobe e desce, alguns dizem que é mais volátil, do que a série com correção por poder de compra. Depois da estabilização ocorre uma queda que vai até 2001, a partir daquele ano começa uma trajetória de alta. É curioso notar como a trajetória de alta da série em dólares contrasta com a trajetória em queda da série com correção por poder de compra, é provável que parte do fenômeno decorra da valorização do real no período. Depois de 2010 começa uma trajetória de queda que ganha força em 2014, a reversão começa em 2015, talvez por conta da valorização do real. Em 2019 ocorre nova queda que também é parcialmente explicada por movimento no câmbio.
As duas figuras mostram que não há razão para o maior país
do continente ficar espantado em ter o maior PIB do continente, não há nada
novo aqui. De fato, as duas séries mostram 2021 pior que 2020 e, bem mais
preocupante, as séries com correção por paridade de compra mostram um declínio
de longo prazo enquanto as séries em dólares mostram declínio em relação ao
começo da estabilização e ao inicio da década passada.
Naturalmente toda essa discussão é meio maluca, não há como
comparar o PIB do Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes com o PIB do
Uruguai, com menos de 3,5 milhões de habitantes, ou mesmo com a Argentina com cerca
de 45 milhões de habitantes. A medida adequada de comparação seria o PIB per
capita, mas aí é melhor deixar para outro post... este já bateu a cota de jogar
água no chopp.
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