A inflação no Brasil está alta. Pelos padrões definidos pelo Conselho Monetário Nacional a inflação medida pelo IPCA deveria ser 3,75% com tolerância até 5,25%, a inflação acumulada em 12 meses até julho deste ano é 8,99% e a previsão de inflação pelo pessoal do mercado está em 6,88%. Por qualquer critério é justo dizer que o BC não está conseguindo cumprir com a obrigação em relação ao controle da inflação.
Não é só no Brasil que a inflação está alta, nos EUA a
inflação está em 5,4%, bem mais alta do que os 2% em média, não necessariamente
no ano, prevista após a flexibilização do regime de metas em agosto de 2020. No
resto do mundo, porém, encontramos países com valores mais baixos. De acordo
com o site Trading Economics (link aqui) na Zona do Euro a inflação está em
2,2%, na China 1% e mesmo na Rússia está 6,46%, consideravelmente menor que os
8,99% do Brasil.
A figura abaixo mostra a inflação nos países do G20, o
último dado é referente a junho ou julho de 2021. Apenas na Argentina. 52,2%, e
na Turquia, 18,95%, a inflação está maior do que no Brasil. Mesmo com a
Argentina puxando para cima a média das inflações dos países do G20 é de 6,01%,
a mediana é 3%, a inflação por aqui está bem acima da média e muito acima da
mediana. Aparentemente, mesmo que existam efeitos internacionais, não é
razoável descartar os efeitos internos como, por exemplo, o BC ter reduzido
demais os juros e segurado os juros baixos por muito tempo ou as aventuras
fiscais do governo Bolsonaro.
Caso o leitor esteja incomodado com o G20 ser usado como grupo de referência refiz a figura com os países das Américas, deixei de fora a Venezuela, por motivos, óbvios, e os países com último dado anterior a maio de 2021. Além da Argentina, apenas Suriname, 43,63%, Haiti, 12,7%, e República Dominicana, 9,32%, estão com mais inflação do que o Brasil. Mais uma vez, mesmo com Argentina e Suriname puxando para cima, a inflação do Brasil ficou acima da média dos países da América que estão na amostra, 7,41%. Também ficou acima da mediana que foi 3,94%.
Olhar para ouros países sugere que existe um componente
interno na perda de controle da inflação no Brasil. Mal comparando, a situação
lembra a que aconteceu em 2014/15 quando apontavam uma crise internacional para
justificar o fraco desempenho da economia, mas os outros países cresciam bem
mais do que o Brasil. É claro que desta vez existe uma crise internacional que
explica, por exemplo, a queda do PIB em 2020, mas quem quer mandar a conta da
inflação para o resto do mundo precisa explicar porque nossa inflação é tão
mais alta do que a da maioria dos países do G20 e das Américas.
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