segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Álbum de retratos da economia de alguns países da América Latina

O post apresenta uma espécie de coleção de fotografias de alguns países da América Latina olhando por vários ângulos, a ideia é dar um painel do estado geral de países da região. Colocar todos os países tornaria difícil reconhecer cada um na foto, dessa forma escolhi um grupo de onze países que costumam aparecer em várias comparações do tipo que aparecem na internet ou em artigos de jornais e revistas, são eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

Como é o caso em qualquer fotografia de família existem diferenças importantes entre os que aparecem nas imagens que não são captadas nas fotos, por exemplo, os menos de 3,5 milhões de habitantes espalhados em um território 176,2 mil quilômetros quadrados fazem do Uruguai um país bem diferente do Brasil com nossos mais de 200 milhões de habitantes em um território de cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Ainda assim ambos aparecem nas figuras abaixo, afinal ambos fazem parte de nuestra América.

As dimensões consideradas são: PIB per capita, expectativa de vida, gastos com saúde, gastos com educação, distribuição de renda, acesso à internet, dependência de recursos naturais e participação da manufatura do PIB. Para cada variável foi usada a média de 2015 a 2019, em caso de faltar algum dado para um ou mais anos foi usada a média sem considerar o ano em questão, quando não estavam disponíveis dados para nenhum dos anos o país ficou de fora da figura (ou da foto). Os dados são do Banco Mundial.

Como de costume o ponto de partida é o PIB per capita. Por mais críticas que possam ser feitas a essa medida é fato que países com alto PIB per capita tendem a ter um melhor desempenho nas variáveis que o crítico aponta como ausentes no cálculo do PIB. Riqueza não compra felicidade nem saúda, mas ajuda um bocado. Para facilitar as comparações foi usado o PIB ajustado por paridade de poder de compra. O país mais rico da turma é o Chile seguido de perto pela Argentina, Brasil e Colômbia estão quase empatados no meio e a Bolívia está isolada na lanterninha. Alguns podem se assustar com a posição da Argentina, mas é isso mesmo, como eu já disse em outros lugares o drama da América do Sul no pós-guerra não é o Brasil virar Argentina, o drama é a Argentina estar virando Brasil.

 


A próxima variável é a expectativa de vida, ter dinheiro é bom, mas fica ainda melhor quando é possível aproveitar a vida por mais tempo. Nesse critério o Chile é novamente o líder, porém agora seguido por Uruguai e Colômbia. A Bolívia mais uma vez teve o pior desempenho, a Venezuela, que não pareceu na figura anterior, está colada na Bolívia. O Brasil está na parte de baixo da amostra. Usando o critério de PIB per capita e expectativa de vida para avaliar bem-estar o Chile é o líder da turma. Vale o registro que na Argentina, mesmo com o PIB per capita muito próximo do Chile, a expectativa de vida é a quinta maior entre os países selecionados.

 


Expectativa de vida nos leva a pensar em saúde. O país da amostra com o maior gasto em saúde como proporção do PIB é o Brasil que é seguido de perto pelo Uruguai. O Chile, com a maior expectativa de vida, aparece me terceiro lugar. O pior desempenho é observado na Venezuela.

 


O gasto com saúde pode dar uma ideia distorcida do acesso dos mais pobres ao sistema de saúde, isso é verdade porque a medida da figura anterior considera todos os tipos de gastos com saúde. A próxima figura mostra o gasto do governo com saúde, Uruguai e Argentina lideram nesse quesito. O Chile fica bem no meio da turma e o Brasil, que liderava na figura anterior, abre a turma onde o governo gasta menos de 4% do PIB com saúde. Aqui um ponto interessante, no gasto total Brasil e Uruguai estão praticamente empatados, porém, no gasto do governo com saúde, o Uruguai lidera e o Brasil foi para parte de baixo da figura. Difícil falar qual é o melhor modelo apenas com esses dados, mas os números sugerem que o financiamento do sistema de saúde do Uruguai é mais fincado no setor público enquanto no Brasil prevalece o setor privado.

 


Para avaliar os gastos dos governos com educação serão considerados os gastos por estudantes nos níveis de educação primário, secundário e terciário. Na educação primário o maior gasto por estudante ocorre no Chile que é seguido à distância pela Argentina e pelo Brasil. O país da amostra com menor gasto foi o Equador, note que Bolívia e Venezuela ficaram de fora por falta de dados.

 


No ensino secundário a liderança passa a ser da Argentina com o Chile ocupando o posto de segundo maior gasto por estudante. O Brasil caiu para a quarta posição e o Equador é novamente o país com menor gasto por aluno.

 


No ensino terciário, onde estão as universidades, o maior gasto do governo por aluno é no México. O Equador, que tinha o menor gasto nos níveis primário e secundário, tem o segundo maior gasto no nível terciário. O Brasil ficou com o quarto maior gasto, mesma posição que no secundário e uma posição abaixo do primário. O Chile, que liderou no primário e ficou em segundo lugar no secundário, aparece em quinto lugar no terciário, esses números sugerem que o sistema público de educação do Chile prioriza os níveis mais básicos de educação. O Peru é o país com menor gasto do governo por aluno no ensino terciário.

 


A desigualdade será medida pelo índice de Gini, a proporção da renda que vai para os 10% mais ricos e a proporção da renda que pertence aos 10% mais pobres. O maior índice de Gini é observado no Brasil que é seguido pela Colômbia. O Uruguai é o país da amostra onde a distribuição de renda é menos concentrada.

 


No Brasil os 10% mais ricos respondem por 41,9% da renda do país, é a maior proporção dentre os países da amostra. No Uruguai os 10% mais ricos ficam com 29,7% da renda e na Argentina ficam com 30%.

 


Aqui aparece um fato curioso, apesar de ficar pelo meio no índice de Gini e na renda destinada aos 10% mais ricos o Chile é o país da amostra onde os 10% mais pobres ficam com a maior fatia da renda. Brasil é o país onde os 10% mais pobres ficam com a menor parte da renda. Por qualquer dos critérios utilizados o Brasil é o país com a maior concentração de renda.

 


Em tempos de redes sociais e vidas virtuais achei válido olhar para o acesso à internet. O maior acesso ocorre no Chile, 80% da população, e o menor na Bolívia. O Brasil fecha a parte de cima da distribuição com acesso por menor que a Venezuela e maior que no México.

 


Por fim considerei duas varáveis relacionadas à estrutura de produção dos países: proporção da renda do país originada em recursos naturais e participação da manufatura no PIB. O Chile é o país da amostra com maior dependência de recursos naturais, talvez esse fato deva ser considerado por quem tenta explicar o desastre econômico em alguns países do continente com base na queda dos preços das commodities. A menor dependência ocorre na Argentina. No Brasil apenas 3,2% da renda tem origem em recursos naturais.

 


O Paraguai é o país da amostra onde a manufatura responde pela maior parte do PIB, se essa variável for usada como medida de industrialização então é justo dizer que o Paraguai é o país mais industrializado da turma. Em segundo lugar aparece o México, aquele que fez um acordo de livre comércio com os EUA. O Brasil, apesar (ou por causa?) dos subsídios, dos planos estratégicos para indústria, do protecionismo, etc, é o país onde a manufatura reponde pela menor proporção do PIB.

 


Como prometido o post apresentou retratos da países da América Latina tirados por diversos ângulos. É certo que outros autores, ou esse autor em outros dias, poderiam ter colocado outros países e escolhido outras variáveis, mas creio que os retratos desse post dão uma ideia relevante de como estão alguns dos principais países da região. Apesar dos inevitáveis comentários no decorrer do texto, deixo para o leitor decidir quais países apresentam o melhor desempenho geral.

 

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