O post apresenta uma espécie de coleção de fotografias de alguns países da América Latina olhando por vários ângulos, a ideia é dar um painel do estado geral de países da região. Colocar todos os países tornaria difícil reconhecer cada um na foto, dessa forma escolhi um grupo de onze países que costumam aparecer em várias comparações do tipo que aparecem na internet ou em artigos de jornais e revistas, são eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Como é o caso em qualquer fotografia de família existem
diferenças importantes entre os que aparecem nas imagens que não são captadas
nas fotos, por exemplo, os menos de 3,5 milhões de habitantes espalhados em um
território 176,2 mil quilômetros quadrados fazem do Uruguai um país bem
diferente do Brasil com nossos mais de 200 milhões de habitantes em um
território de cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Ainda assim ambos aparecem
nas figuras abaixo, afinal ambos fazem parte de nuestra América.
As dimensões consideradas são: PIB per capita, expectativa
de vida, gastos com saúde, gastos com educação, distribuição de renda, acesso à
internet, dependência de recursos naturais e participação da manufatura do PIB.
Para cada variável foi usada a média de 2015 a 2019, em caso de faltar algum
dado para um ou mais anos foi usada a média sem considerar o ano em questão,
quando não estavam disponíveis dados para nenhum dos anos o país ficou de fora
da figura (ou da foto). Os dados são do Banco Mundial.
Como de costume o ponto de partida é o PIB per capita. Por
mais críticas que possam ser feitas a essa medida é fato que países com alto
PIB per capita tendem a ter um melhor desempenho nas variáveis que o crítico
aponta como ausentes no cálculo do PIB. Riqueza não compra felicidade nem
saúda, mas ajuda um bocado. Para facilitar as comparações foi usado o PIB
ajustado por paridade de poder de compra. O país mais rico da turma é o Chile
seguido de perto pela Argentina, Brasil e Colômbia estão quase empatados no
meio e a Bolívia está isolada na lanterninha. Alguns podem se assustar com a posição
da Argentina, mas é isso mesmo, como eu já disse em outros lugares o drama da
América do Sul no pós-guerra não é o Brasil virar Argentina, o drama é a
Argentina estar virando Brasil.
A próxima variável é a expectativa de vida, ter dinheiro é
bom, mas fica ainda melhor quando é possível aproveitar a vida por mais tempo.
Nesse critério o Chile é novamente o líder, porém agora seguido por Uruguai e
Colômbia. A Bolívia mais uma vez teve o pior desempenho, a Venezuela, que não
pareceu na figura anterior, está colada na Bolívia. O Brasil está na parte de
baixo da amostra. Usando o critério de PIB per capita e expectativa de vida
para avaliar bem-estar o Chile é o líder da turma. Vale o registro que na
Argentina, mesmo com o PIB per capita muito próximo do Chile, a expectativa de
vida é a quinta maior entre os países selecionados.
Expectativa de vida nos leva a pensar em saúde. O país da
amostra com o maior gasto em saúde como proporção do PIB é o Brasil que é
seguido de perto pelo Uruguai. O Chile, com a maior expectativa de vida,
aparece me terceiro lugar. O pior desempenho é observado na Venezuela.
O gasto com saúde pode dar uma ideia distorcida do acesso
dos mais pobres ao sistema de saúde, isso é verdade porque a medida da figura
anterior considera todos os tipos de gastos com saúde. A próxima figura mostra
o gasto do governo com saúde, Uruguai e Argentina lideram nesse quesito. O Chile
fica bem no meio da turma e o Brasil, que liderava na figura anterior, abre a turma
onde o governo gasta menos de 4% do PIB com saúde. Aqui um ponto interessante,
no gasto total Brasil e Uruguai estão praticamente empatados, porém, no gasto
do governo com saúde, o Uruguai lidera e o Brasil foi para parte de baixo da
figura. Difícil falar qual é o melhor modelo apenas com esses dados, mas os números
sugerem que o financiamento do sistema de saúde do Uruguai é mais fincado no
setor público enquanto no Brasil prevalece o setor privado.
Para avaliar os gastos dos governos com educação serão considerados
os gastos por estudantes nos níveis de educação primário, secundário e
terciário. Na educação primário o maior gasto por estudante ocorre no Chile que
é seguido à distância pela Argentina e pelo Brasil. O país da amostra com menor
gasto foi o Equador, note que Bolívia e Venezuela ficaram de fora por falta de
dados.
No ensino secundário a liderança passa a ser da Argentina
com o Chile ocupando o posto de segundo maior gasto por estudante. O Brasil
caiu para a quarta posição e o Equador é novamente o país com menor gasto por
aluno.
No ensino terciário, onde estão as universidades, o maior
gasto do governo por aluno é no México. O Equador, que tinha o menor gasto nos
níveis primário e secundário, tem o segundo maior gasto no nível terciário. O Brasil
ficou com o quarto maior gasto, mesma posição que no secundário e uma posição
abaixo do primário. O Chile, que liderou no primário e ficou em segundo lugar
no secundário, aparece em quinto lugar no terciário, esses números sugerem que
o sistema público de educação do Chile prioriza os níveis mais básicos de educação.
O Peru é o país com menor gasto do governo por aluno no ensino terciário.
A desigualdade será medida pelo índice de Gini, a proporção
da renda que vai para os 10% mais ricos e a proporção da renda que pertence aos
10% mais pobres. O maior índice de Gini é observado no Brasil que é seguido pela
Colômbia. O Uruguai é o país da amostra onde a distribuição de renda é menos
concentrada.
No Brasil os 10% mais ricos respondem por 41,9% da renda do
país, é a maior proporção dentre os países da amostra. No Uruguai os 10% mais
ricos ficam com 29,7% da renda e na Argentina ficam com 30%.
Aqui aparece um fato curioso, apesar de ficar pelo meio no
índice de Gini e na renda destinada aos 10% mais ricos o Chile é o país da amostra
onde os 10% mais pobres ficam com a maior fatia da renda. Brasil é o país onde
os 10% mais pobres ficam com a menor parte da renda. Por qualquer dos critérios
utilizados o Brasil é o país com a maior concentração de renda.
Em tempos de redes sociais e vidas virtuais achei válido
olhar para o acesso à internet. O maior acesso ocorre no Chile, 80% da população,
e o menor na Bolívia. O Brasil fecha a parte de cima da distribuição com acesso
por menor que a Venezuela e maior que no México.
Por fim considerei duas varáveis relacionadas à estrutura de
produção dos países: proporção da renda do país originada em recursos naturais
e participação da manufatura no PIB. O Chile é o país da amostra com maior
dependência de recursos naturais, talvez esse fato deva ser considerado por
quem tenta explicar o desastre econômico em alguns países do continente com
base na queda dos preços das commodities. A menor dependência ocorre na
Argentina. No Brasil apenas 3,2% da renda tem origem em recursos naturais.
O Paraguai é o país da amostra onde a manufatura responde
pela maior parte do PIB, se essa variável for usada como medida de industrialização
então é justo dizer que o Paraguai é o país mais industrializado da turma. Em
segundo lugar aparece o México, aquele que fez um acordo de livre comércio com
os EUA. O Brasil, apesar (ou por causa?) dos subsídios, dos planos estratégicos
para indústria, do protecionismo, etc, é o país onde a manufatura reponde pela
menor proporção do PIB.
Como prometido o post apresentou retratos da países da América
Latina tirados por diversos ângulos. É certo que outros autores, ou esse autor
em outros dias, poderiam ter colocado outros países e escolhido outras
variáveis, mas creio que os retratos desse post dão uma ideia relevante de como
estão alguns dos principais países da região. Apesar dos inevitáveis
comentários no decorrer do texto, deixo para o leitor decidir quais países apresentam
o melhor desempenho geral.
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