domingo, 16 de agosto de 2020

Crescimento no Brasil e na América Latina e Caribe entre 2011 e 2019

O crescimento do Brasil nos últimos anos tem decepcionado muita gente o que anima a turma que pede estímulos para turbinar o desempenho do PIB. Não sei se o pessoal já esqueceu o que aconteceu da última vez que resolvemos turbinar a economia com aplausos entusiasmados de muitos que hoje pedem por ações do governo para acelerar o crescimento, mas a pressão está de volta. Mesmo dentro do governo ganha força a tese que um novo PAC, naturalmente com outro nome, é o remédio para o Brasil pós-pandemia. Chato que sou acredito que antes de tentar um novo PAC poderiam pelo menos tentar explicar o que deu errado com os anteriores, felizmente parece que não sou o único a pensar assim como o leitor pode confirmar na série de artigos que Marcos Mendes escreveu para Folha a respeito do investimento público.

Nesse post comparo o crescimento do Brasil com o da América Latina e Caribe. Os dados são do Banco Mundial. Na figura abaixo é possível observar que o Brasil cresceu um pouco menos que a América Latina e Caribe em 2011, 3,97% contra 4,37%, a diferença aumenta em 2012, 1,92% contra 2,78%, em 2013 o Brasil cresceu mais do que a América Latina, 3% contra 2,78%. A partir de 2014 começa uma queda que é mais intensa no Brasil que cresceu 0,5% contra 0,99% da América Latina e Caribe, a diferença em termos absolutos não é tão grande, mas em termos proporcionais o crescimento do Brasil foi quase metade do crescimento da América Latina e Caribe. Em 2015 e 2016 continua a queda e o Brasil mostra uma queda bem maior do que a América Latina e Caribe, no primeiro ano o Brasil encolheu 3,55% e a América Latina cresceu 0,9% enquanto em 2016 o Brasil encolheu 3,28% e a América Latina e Caribe encolheu 0,34%. A partir de 2017 o crescimento volta, mais na América Latina e Caribe do que no Brasil, em 2017 o Brasil cresceu 1,32% contra 1,77% da América Latina e Caribe e em 2018 foi 1,32% contra 1,57%. Em 2019, pela primeira vez desde 2013 o Brasil cresceu mais que a América Latina e Caribe.

 

A figura cima tem um problema sério. Como o Brasil faz parte da América Latina e Caribe e possui o maior PIB da região quedas (e crescimento) no PIB brasileiro afetam de forma significativa a variação no PIB da região como todo. Resolver esse problema tem seus truques, a primeira ideia é somar o PIB de todos os países da região, excluir o do Brasil e calcular a taxa de crescimento. A ideia é boa, mas tem suas dificuldades. Para somar o PIB dos países é preciso converter para uma unidade comum, o Banco Mundial usa dólares de 2010 e eu fiz o mesmo. O outro problema, mais complicado, é que nem todos os países possuem dados para todos os anos. Desta forma a soma dos PIBs pode variar por conta de dados ausentes para um determinado país, o problema é particularmente relevante por conta da saída da Venezuela a partir de 2015. Considerei apenas os países com dados em toda a amostra, com o Brasil na amostra o resultado ficou bem parecido, mas não idêntico, ao dado do Banco Mundial.

A figura abaixo mostra os dados do Banco Mundial e o obtido com a soma dos PIBs. A maior diferença ocorre em 2014, de 2017 a 2019 os números ficam praticamente iguais. A comparação reforçou minha impressão de que a diferença é por conta de um tratamento mais elaborado que o Banco Mundial deve dar aos países com dados ausentes.

 

A próxima figura repete a primeira figura só que o crescimento da América Latina foi calculado com a soma dos PIBs excluindo o Brasil. Na figura fica claro o descolamento do Brasil do resto da região entre 2014 e 2016, isso sugere que a crise foi causada principalmente por fatores internos à economia brasileira. Minha esse é que foi uma combinação de crise fiscal e piora da produtividade por conta da má alocação de capital causada por investimentos ruins que só foram realizados por contas das políticas de estímulos. Em 2017 e 2018 o Brasil vota a se aproximar do resto região em um padrão semelhante ao de 2011 e 2012. Em 2019 o Brasil cresceu mais do que o restante da América Latina e Caribe. Esse é um fato que deve ser levado em conta antes de rentar uma nova aventura de estímulos.

 

O último exercício compara o crescimento do Brasil com o do PIB somados dos países da América Latina e Caribe com mais de dez milhões de habitantes em 2011 excluído o Brasil. O padrão é o mesmo da figura anterior. No triênio 2014, 2015 e 2016 o Brasil vai bem pior que o resto da turma, a partir de 2017 o Brasil volta a se aproximar e em 2019 crescemos mais que a soma dos outros países da amostra.

 

Os dados mostram que o crescimento do Brasil voltou a acompanhar o do restante do continente, esse resultado sugere que o “baixo” crescimento pode não ser consequência de fatores internos, como, por exemplo, o teto de gastos. Alguém pode argumentar que uma política de estímulos bem construída pode descolar o Brasil do resto da América Latina e Caribe, em tese pode ser o caso, mas a experiência nos mostra que essas política não entregam o que prometem e ainda podem nos jogar em grandes crises. Talvez um grande admirador de Bolsonaro possa pensar que o capitão fará com que desta vez seja diferente, não é meu caso, pessoas importam, mas para que isso aconteça é preciso que pessoas consigam identificar e corrigir os problemas que levaram aos fracassos anteriores. Só na base da boa vontade, se é que essa existe, não vai dar.

 

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