sábado, 24 de maio de 2014

Governo Dilma e a Renda dos Ricos, Muito Ricos e Pobres ou Onde Está o Erro?

Li alguma coisa sobre o Marcelo Neri, ministro da SAE/PR e um dos melhores economistas aplicados do Brasil, ter dito que no governo Dilma a renda dos mais pobres cresceu mais do que tinha crescido no governo Lula. Não consegui ver onde e como ele disse isto, mesmo assim resolvi olhar os dados para ver o que estava acontecendo. Tenho defendido que a redução dos juros e a desvalorização do câmbio realizadas no governo Dilma prejudicariam os mais pobres, a conclusão de Neri, portanto, me deixaria de calças curtas. Meus objetivos ao buscar os dados eram dois: avaliar o comportamento ano a ano, dado que as políticas que falei acima foram revertidas e ver se o resultado era robusto à vários índices de preços, visto que tudo indica que a inflação para os mais pobres tem sido maior que a inflação para os mais ricos.

Ao olhar os dados tive uma surpresa desconcertante. A PNAD mais recente disponível no site do IBGE é de 2012 (link aqui), nesta procurei a tabela com as rendas por faixa de renda (link aqui). Levei para o Excel e transpus a matriz porque gosto de ler anos nas linhas e não nas colunas. O resultado está aqui:


Percentil de Renda
Ano
Total
Até 10
10 a 20
20 a 30
30 a 40
40 a 50
50 a 60
60 a 70
70 a 80
80 a 90
90 a 100
95 a 100
99 a 100
2004
76.4
59.8
58.4
62.9
64.8
67.5
70.6
70.7
76.5
80.5
82.6
82.1
77.0
2005
80.4
68.9
65.2
69.0
68.8
72.1
74.1
75.0
79.9
82.6
86.6
86.5
82.3
2006
85.1
67.1
65.4
78.0
77.2
76.6
79.0
80.2
84.3
87.8
90.9
90.6
86.0
2007
87.4
81.7
76.6
81.0
80.7
81.2
81.9
84.2
86.7
90.5
91.2
90.4
85.5
2008
88.9
82.9
79.1
82.6
82.9
84.8
85.6
86.6
89.2
91.5
91.7
91.1
85.8
2009
90.6
84.1
79.7
88.6
88.1
86.9
87.8
88.8
90.3
92.6
92.8
92.2
88.2
2010
92.7
89.6
87.3
90.5
91.0
90.7
91.3
91.6
93.1
94.1
93.6
92.9
88.4
2011
94.7
95.1
94.9
92.4
93.9
94.5
94.7
94.5
95.9
95.5
94.4
93.6
88.7
2012
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100

Da esquerda para direita estão os mais pobres até os mais ricos, por exemplo, a coluna “Até 10” mostra os 10% mais pobres, a coluna “40 a 50” mostra os que estão acima dos 40% mais pobres e abaixo dos 50% mais ricos e a coluna “99 a 100” mostra os tão falados 1% mais ricos. A coluna “Total” mostra a renda de toda a economia. Os números são números índices, logo nãos e prestam a avaliar o nível de renda, mostram apenas a variação da renda. Por exemplo, olhando a coluna “Total” em 2004 vemos que o número índice é 74,6 e que em 2012 o número índice é 100. Isto  significa que a renda em 2004 era 76,4% da renda em 2012, ou, dito de outra forma, que a renda cresceu 30,8% entre 2004 e 2012. Olhando a tabela é possível ver o gigantesco crescimento da renda dos 1% mais ricos em 2012, o número índice pula de 88,7 para 100, um crescimento de 12,7%. Para visualizar melhor o que a tabela está dizendo fiz a figura abaixo mostrando o crescimento da renda de cada grupo. Em azul o crescimento entre 2004 e 2010, anos de governo Lula, em vermelho o crescimento em 2011 e em verde o crescimento em 2012.



Reparem como os dados são estranhos. A renda total em 2012 cresceu 5,58% contra um crescimento do PIB de aproximadamente 1%. Sei que existem debates a respeito do uso de deflatores que tomam por base cestas de consumo, caso do IPCA, e o deflator do PIB, mas, mesmo assim, creio que a proporção está exagerada. Outro fato que chama atenção é o crescimento da renda dos mais ricos durante o governo Dilma. O padrão de crescimento pró-pobre que é observado com Lula não é seguido nos anos de Dilma, pelo contrário, em 2012 o crescimento da renda dos 10% mais pobres só foi maior que o dos que estão acima dos 70% mais pobres e abaixo dos 90% mais ricos. No mesmo ano o crescimento o crescimento na renda dos 5% mais ricos só foi menor que o crescimento na renda dos 1% mais ricos e o crescimento na renda dos que estão entre 0s 20% e 30% da distribuição de renda.

Onde está o erro? Os dados da PNAD de 2012 foram revistos na edição de 2013? Fiz alguma conta errada? Os efeitos da desastrosa política econômica de Dilma vieram mais rápido e de forma mais intensa do que pensei? O governo Dilma é um governo dos 1%?

5 comentários:

  1. O erro está em você levar a sério o que Marcelo Neri diz. Qualquer pessoa ligada ao governo Dilma - Coutinho, Mantega, Augustin, Neri, Tombini - não é um profissional sério e independente.

    Os números demonstram isso. A economia no governo Dilma não tem uma vitória pra contar.

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  2. Reveja sua planilha que ela contém erros crassos. Além de ter esquecido de dizer que o pico de crescimento em 2012, da classe mais alta, tende à média dos demais quando acrescido do vale e 2011. Não localizei o ano de 2010 em sua fonte. E senti falta da comparação do período todo, que é totalmente favorável às classes mais baixas.

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    1. A planilha não é minha, é do IBGE. Se não existir diferenças nos números então não tem erro, se existir peço que, por favor, diga onde está o erro.

      O ano de 2010 foi ano de Censo e não consta na PNAD, desta forma fiz a média entre 2009 e 2011, isto não muda o resultado relevante que é a variação estranha em 2012, que está tal a qual a observada na tabela do IBGE. Os resultados de 2011, estes sim influenciados pelo tratamento que dei a 2010, mostram um crescimento forte da renda dos mais pobres.

      A comparação de todo período é trivial pois o ano base é 2012, mas não era meu objetivo. A grande ruptura na política econômica se deu durante o ano de 2011, o ideal seria analisar de 2012 em diante. Meu objetivo era avaliar a evolução ano a ano para saber os impactos da mudança da política econômica na renda dos mais pobres.

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  3. Quando falasse de um ano X falasse de 31/dez/XX ou de 01/jan/XX?

    Por que se for 31/12 podemos considerar sempre o ano anterior, certo?

    Pela lógica de 31/12, em 31/12/2009 até 31/12/2012 a renda que mais cresce é de 10 a 20 e a segunda que mais cresce é até 10.

    E na sua análise, podia ter adicionado que nos 3 anos anteriores o crescimento dos mais ricos foi proximo de 0 ou seja cresceu 12% em 1 ano da mesma forma como cresceu 12% nos ultimos 4. Depende só como voce quer olhar o problema na verdade.

    É tipo aquele time de futebol que empatou os ultimos 5 jogos, a midia favoravel vai falar em 5 jogos de invencibilidade e a midia desfavoravel vai falar em 5 jogos sem ganhar. No final os dois estão certos, mas cada um puxando a sardinha pra aquilo que quer ver.

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    1. Não sou especialista em PNAD, mas se eu não me engano a pesquisa é feita em setembro. Desta forma o mês de referência é setembro.

      Quanto ao período. A questão é que não considero o período 2004 a 2012 como um único período, o fato de presidente que governou nestes anos ter sido do mesmo partido é irrelevante na análise que faço da economia brasileira. Se fosse para dividir a economia recente pós-estabilização) em períodos eu seguiria a seguinte classificação:

      1994 a 1998: Combate a inflação por meio de controle de câmbio, em 1998 já houve um preocupação maior com o lado fiscal, mas a referência para quebra do período creio que seja a mudança de regime cambial em janeiro de 1999. Crises econômicas nos países em desenvolvimento.

      1999 a 2005/06: Período do tripé econômico (metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante) e agenda reformas microeconômicas.

      2005/06-2010: Período de transição. As reformas acabam e a lógica do PAC ganha força, voltam as políticas industriais mas o tripé e mantido. Crise econômica nos EUA e na Europa.

      2011-hoje(?): Sai o tripé e entra a nova matriz macroeconômica. Tentativa de forçar a redução da taxa de juros e desvalorizar o câmbio para estimular o investimento e a produção industrial, política industrial.

      Desta forma não posso juntar o período anterior a 2011 com o período posterior, se fizesse isto perderia meu foco que é analisar os efeitos do abandono do tripé e da volta do desenvolvimentismo.

      P.S. O ponto de interrogação no final do último período é porque existem sinais que o governo Dilma recuou das mudanças que implementou a partir de 2011. No momento não sei se foi uma mudança de estratégia ou um recuo estratégico.

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