Durante a década de 1990 vários países da América Latina
fizeram reformas no sentido de facilitar o funcionamento do mercado, as ditas
reformas liberalizantes. Abertura da economia, controle da inflação, taxas de
juros realistas, controle ou pelo menos reconhecimento da questão fiscal e
outras medidas do tipo deram o tom daquela década em “nuestra” América. Como
resultado a combinação de recessão com (hiper)inflação que marcou o continente na
década de 1980 saiu de cena, mas não veio o crescimento sonhado na maioria dos
países (sobre este período no Brasil ver aqui, para uma palestra minha sobre o tema
ver aqui). O crescimento frustrante levou vários economistas a buscar entender
o que tinha acontecido. Para uma discussão mais ampla sobre o tema recomendo o
livro “Left Behind: Latin America and the False Promise of Populism” (link aqui)
escrito pelo Sebastian Edwards. Para uma referência em forma de artigo
científico recomendo “Why Have Economic Reforms in Mexico Not Generated Growth?”
(link aqui), Timothy Kehoe e
Kim Ruhl, e “The Interaction and Sequencing of Policy Reforms” (link aqui) de Jose Asturias, Sewon Hur, Timothy Kehoe e Kim
Ruhl.
Grosso modo a literatura concluiu que reformas,
particularmente abertura econômica, possuem efeitos grandes em países muito
pobres, como China e Índia, ocorre que, a medida que a renda do país aumenta, o
efeito não apenas diminui como passa a depender muito de outras reformas. Para
deixar a questão mais concreta suponha um país muito pobre que resolve abrir a
economia, em um primeiro momento a chegada de novas empresas, talvez atraídas
pelos baixos salários, tem um impacto muito grande na economia do país que
passa a experimentar um crescimento significativo. Porém, a medida que a renda
aumenta, ou se o país que fez a reforma já tiver uma renda mais alta, será necessário
que empresas cada vez mais sofisticadas e competitivas comecem a operar no
país. Tais empresas precisam de mão-de-obra qualificada, estabilidade política
e macroeconômica, garantias de direito de propriedade e outras medidas que dependem
de novas reformas. Uma economia sem essas características, por mais que tenha
baixos salários, terá dificuldades em ter empresas altamente produtivas que
criem e usem tecnologia de ponta.
O Brasil e boa parte da América Latina estão exatamente
nesse segundo grupo, os ditos países de renda média. Não somos pobres o suficiente
para atrair empresas com salários baixíssimos como fez a China, porém não temos
as condições necessárias para atrair ou criar empresas que pagam salários mais
altos e trabalham próximas a fronteira tecnológica. Existem várias estratégias
para resolver esse problema. Em uma ponta está a agenda de reformas que busca
criar as condições para atrair ou permitir o desenvolvimento de empresas de
ponta; economistas que seguem essa linha estão sempre a pedir reformas que
melhorem o ambiente de negócios, garantam estabilidade macroeconômica, qualifiquem
a mão-de-obra, aumentem a produtividade e etc. Na outra ponta está o que vou
chamar com alguma impropriedade de desenvolvimentismo; economistas dessa linha
acreditam que via controle de preços, especialmente câmbio e juros, e subsídios
o governo pode atrair de empresas de ponta que não viriam em condições normais,
uma vez que as empresas tivessem instaladas seria mais fácil criar as condições
para que continuassem operando. Entre as duas pontas existem uma infinidade de
possibilidades que costumam aparecer em vários países, inclusive no Brasil e na
América Latina.
Pois bem, a partir de 2006 o Brasil largou a agenda de
reformas e tomou o caminho do desenvolvimentismo. Vários economistas
desenvolvimentistas, ressabiados com os anos onde a agenda de reformas
predominou, correram para apoiar os governos que aplicaram a estratégias de subsídios
e controle de preços. Alertados para os vários escândalos que tais governos
estavam envolvidos, inclusive comprometendo a aplicação da agenda desenvolvimentista,
muitos deles preferiram fazer vista grossa em nome do que acreditavam, ou
queriam acreditar, ser a oportunidade de implementar políticas econômicas que
consideravam corretas. Por conta disso economistas desenvolvimentistas,
inclusive os que pularam do barco antes do naufrágio, acabaram pagando a conta
perante a opinião pública quando a experiencia de política econômica pós-2006
desaguou na maior crise econômica de nossa história.
Aqui chego ao ponto central do post de hoje: eu não vou
cometer o mesmo erro dos desenvolvimentistas. Desde o final de 2014 o governo
vem acenando uma guinada na direção da agenda de reformas. Porém, apenas após a
posse de Temer, foi possível ver o governo realmente empenhado com as reformas.
O teto de gastos, a reforma de previdência e a reforma trabalhista são as mais visíveis,
mas o tom reformista do governo apareceu em outras ações. Mesmo com críticas
pontuais apoiei cada uma das reformas propostas pelo governo Temer. Fiz isso
por acreditar que tais reformas tornarão o Brasil um país melhor e mais rico.
Desde a divulgação do áudio da JBS a coisa mudou de figura.
A permanência de Temer no governo pode até ajudar com algumas reformas,
particularmente a trabalhista, mas definitivamente vai na contramão da melhora
do ambiente institucional que tanto precisamos. A lei trabalhista brasileira
espanta empresas, mas a existência de empresas cujos donos se reúnem com o
Presidente da República na calada da noite para discutir crimes e tratar de
interesses da empresa espanta mais ainda. Pior, as empresas que mais fogem de
coisas assim são as que mais precisam de estabilidade institucional, exatamente
as empresas que usam e criam tecnologia de ponta. Da mesma forma são tais
empresas que fogem de cortes que julgam de acordo com a conveniência dos
poderosos de plantão. Para extrair minério a condição institucional do país
talvez não seja tão importante, abundância de recursos naturais e salários
baixos podem ser mais do que suficientes para garantir boas margens de lucro.
Para produzir tecnologia e/ou trabalhar na fronteira salários baixos e
abundância de recursos naturais talvez sejam irrelevantes, é preciso um bom
ambiente de negócios, são necessárias instituições que garantam o direito de
propriedade, enfim, é preciso que exista confiança.
Manter o governo Temer depois de tudo que aconteceu é assinar
mais um atestado de República de Bananas, o tipo de coisa que vai contra tudo
que acredito ser a agenda reformista. Por isso, e por outros motivos, creio que
mesmo que as reformas em andamento sejam prejudicadas o melhor para o Brasil é
a retirada de Temer do Palácio do Planalto.
Professor Ellery eu acredito que o governo Temer desistiu da ideia de recuperar o Brasil sob o ponto de vista fiscal. Veja o que o presidente está fazendo com o BNDES, criando algumas linhas de créditos para certos setores econômicos e repactuando as dívidas dos estados. Não creio em melhora da economia, mas, talvez, haja um repique inflacionário dentro de poucos meses.
ResponderExcluirProfessor! Não sou aluno de economia mas tenho muito interesse por essa área. Resumidamente o problema desse país é a população! Que não tem educação. Trabalho com o público, existe pessoas que não sabem fazer um depósito pq não sabem ler. Aí o banco tem que manter um caixa ( custo alto) para atender essa pessoa. E não investi em tecnologia pq não vai ser usada, pq as pessoas não sabem ler!
ResponderExcluirBeware what you wish for,'cause you might as well get it.
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