Pois bem, hoje li o Relatório de Inflação do Banco Central referente a março de 2014. Não tive como não reparar o box chamado Impacto da Conta Petróleo e Combustíveis sobre a Balança Comercial. O tal box constata o problema que eu tinha alertado no ano passado (na realidade venho apontando este problema desde bem antes, eu apenas não tinha o blog), outros economistas vinham alertando há muitos anos e que o Marco Antonio Martins alertou ainda na década de 1980! É espantosa a capacidade de nossos governantes de não aprender com os erros do passado e ainda acusar de alarmista, derrotista ou algum adjetivo semelhante os que apontam os erros que eles estão cometendo. Voltando ao box destaco o texto abaixo:
"No entanto, a maior parcela da elevação do deficitno comércio de Petróleo e combustíveis refletiu odescompasso entre oferta e demanda interna de petróleoe gás natural. Nesse sentido, conforme a Tabela 1,enquanto a produção nacional de petróleo em brutorecuou no biênio 2012-2013, o consumo interno depetróleo e derivados aumentou de modo significativo. Apropósito, cabe destacar que a dinâmica da produção emparte se explica pela perda de produtividade na extração epela intensificação de paradas técnicas para manutençãode plataformas; e a do consumo, pelos crescimentos dafrota de automóveis e do transporte de mercadorias, epelos preços da gasolina mais favoráveis ao consumidor,na comparação aos preços do etanol."
Perda de produtividade na extração, crescimento da frota de automóveis e finalmente a referência explícita aos preços da gasolina mais favoráveis aos consumidores. Nenhuma surpresa para quem conhece teoria econômica e acompanha a economia brasileira. Será que alguém no governo acreditava que o resultado seria diferente? Mais na frente o autor do box relaciona a questão energética com o déficit da conta petróleo, a incapacidade da oferta de energia de acompanhar a demanda forçou um uso ainda mais intenso das termelétricas e levou a uma maior necessidade de importação de gás. Novamente nenhuma surpresa. Quando o governo força um preço de um bem para baixo o consumo sobe muito e oferta não acompanha a subida, se o bem for imprescindível como é o caso do petróleo e da energia o excesso de demanda interna será suprida pelo exterior ou haverá racionamento. O experimento do governo subsidiando combustíveis mostra que esta regra vale mesmo quando o produtor é uma empresa controlada pelo próprio governo. Exatamente como aconteceu quando o mesmo experimento foi realizado pelo governo Geisel. Em números o resultado do experimento em 2013 foi um aumento de 19,3% das despesas com importação de combustíveis e um aumento da despesa com importação de gás natural de 37% em relação a 2012.
O box termina em um tom otimista mostrando a redução recente no déficit da conta petróleo e apontando fatores que podem levar a um aumento da produção. Não sei quanto da redução deste déficit decorre de manobras criativas, talvez ninguém saiba. Também não aposto no otimismo em relação ao aumento da produção. Porém é importante deixar claro que o desequilíbrio causado por subsídios é o grande problema, "resolver" o déficit forçando um aumento da produção nacional é mudar onde o desequilíbrio vai aparecer, afinal nunca é demais lembrar que os fatores de produção são escassos e deslocar capital e trabalho para atender uma demanda artificial pode levar a sérios problemas no longo prazo. Resolver o desequilíbrio entre custos e benefícios eliminando subsídios é a maneira mais simples, barata e eficiente de reduzir o ritmo da marcha para mais uma crise perfeitamente evitável.
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