No post de ontem (link aqui) usei dados do Banco Mundial
para checar se os impostos sobre renda, lucros e ganhos de capital no Brasil
são de fatos altos quando comparados aos de outros países. Minha conclusão foi
que não. Ficamos abaixo, mas não tão distante, da média da OCDE e acima da
média da América Latina e Caribe. Porém fiquei inseguro quanto a conclusão por
falta de segurança com a base do Banco Mundial, especificamente como são
tratadas as arrecadações de impostos nos estados e municípios.
Carlos Mussi, diretor do escritório da CEPAL em Brasília,
fez a gentileza de deixar na área de comentários do blog um link para um
documento da OCDE, CEPAL, CIAT e BID com dados e análises de dados tributários
na América Latina e Caribe (link aqui). Antes mesmo de ler o documento corri para o
anexo de dados e peguei a tabela com arrecadação de vários tipos de tributos
como proporção do PIB para os países da região, para a média da América Latina
e Caribe (LAC) e para a OCDE. Trata-se da Tabela 4.2 que está na página 153 do
documento. Comento os números e os apresento na figura abaixo.
Como pode ser visto na figura abaixo a arrecadação de
impostos sobre renda e lucro no Brasil está ligeiramente acima da média da
América Latina e Caribe e bem abaixo da média da OCDE. O resultado confirma a
impressão do post anterior que a convicção que taxamos pouco a renda e os lucros
perde força quando nos comparamos com os países da nossa região. Repare que a
média da América Latina e Caribe aumenta um bocado por conta de Trinidad e
Tobago um país com cerca de 1,3 milhões de habitantes e pouco mais de cinco mil
quilômetros quadrados. Em Cuba os impostos sobre renda e lucro correspondem a
7,7% do PIB, apenas um ponto percentual a mais do que aqui.
A próxima figura mostra a arrecadação de impostos sobre a
propriedade. Repare que temos a quarta maior arrecadação desse tipo de imposto
como proporção do PIB e que estamos acima da média da OCDE. Olhando para esses
números fica difícil defender que taxamos pouco as propriedades, pelo
contrário, talvez estejamos taxando demais as propriedades no Brasil.
Em relação aos impostos para seguridade social ficamos
abaixo da OCDE, mas somos os campeões da América Latina e Caribe. Cuba (5%) e Venezuela
(0,6%) não chegam nem perto dos 8,3% do PIB que o Brasil arrecada para a
seguridade social. O resultado reforça a tese que precisamos repensar nossa
seguridade social. Especialmente a previdência social, acrescento eu. Nossa tentativa
de construir um estado de bem-estar social em um país latino de renda média
-baixa não parece promissora na falta de boom de commodities ou de outros
eventos externos muito favoráveis.
A última figura mostra a receita de impostos sobre bens e
serviços como proporção do PIB. Nesse quesito Cuba e Venezuela são os campeões,
uma informação que pode ser útil para os descolados que insistem em dizer que
taxar bens e serviços é coisa da direita que odeia pobres e cria sistemas
tributários regressivos. O Brasil mais uma vez fica acima da média da OCDE e
acima da média da América Latina e Caribe.
Os dados do estudo da OCDE, CEPAL, CIAT e BID parecem
confirmar a conclusão obtida com os dados do Banco Mundial. Nossa tributação
sobre renda e lucros fica abaixo da média da OCDE, mas acima da média da
América Latina e Caribe. O percentual do PIB que o Brasil arrecada com tributos
sobre propriedade é maior que a média da América Latina e Caribe e do que a
média da OCDE, na nossa região apenas Argentina, Colômbia e Uruguai arrecadam
uma proporção maior do PIB com impostos sobre propriedade do que o Brasil. A
arrecadação de tributos para seguridade social leva um percentual do PIB por
aqui que é maior a de qualquer outro país da região e fica próxima do observado
na OCDE. Finalmente, taxamos bens e serviços acima da média da OCDE e da
América Latina e Caribe.
A combinação dos números do post anterior e desse post
reforçam minha segurança na defesa da tese que não devemos aumentar nenhum
tipo de imposto no Brasil. Se quisermos muar a composição de nossa carga
tributária façamos isso reduzindo alguns impostos e não aumentando impostos que
parecem baixos quando comparados aos de países que já são ricos.
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