Em um post anterior
falei sobre a Penn World Table 8.0 e comentei que uma das novidades mais
interessantes foi oferecer dois conceitos para o PIB: um deflacionado pelos
preços do que compramos (rgdpe) e outro
deflacionado pelos preços do que produzimos (rgdpo). O primeiro pode ser visto
como uma medida de bem-estar o segundo como uma medida de nossa produção. A razão
entre estes dois conceitos de PIB pode ser interpretada de duas formas: pode ser vista como a razão entre os preços
do que produzimos a e os preços do que compramos (note que esta razão não
equivale aos termos de troca, mas está relacionada) e pode ser vista como a razão
entre nosso bem-estar e nossa capacidade de produção. Na primeira interpretação
um aumento desta razão significa que o preço das coisas que produzimos está aumentando
mais do que o preço das coisas que compramos, na segunda interpretação um
aumento significa que nosso bem-estar está aumentando mais do que nossa
produção. Hoje vou usar a primeira interpretação para comentar a economia brasileira,
no próximo post tratarei da segunda interpretação.
Podemos ficar mais
ricos de duas maneiras: o preço do que produzimos aumenta ou, ao mesmo preço,
aumentamos nossa produção. Considerem o meu caso, sou professor de economia.
Posso ficar mais rico se conseguir cobrar mais por minhas aulas de economia ou
posso ficar mais rico se der mais aulas de economia ao preço atual. Embora em
ambos os casos eu esteja mais rico existe uma diferença importante entre os
dois casos: no primeiro caso a riqueza é devida a fatores que não controlo, do
mesmo modo que a aula de economia ficou mais cara, a aula de economia pode
ficar mais barata. Preços são circunstanciais, não seguem padrões determinados.
Um preço que aumenta hoje pode muito bem cair no futuro próximo a depender das
condições do mercado. O gráfico abaixo ilustra a razão entre os preços do que
produzimos no Brasil e os preços do que compramos.
Como vocês podem ver
no início da década de 1970 o preço do que produzimos caiu em relação ao preço
do que compramos, foi o Choque do Petróleo. Como ficamos mais pobres devíamos
ter ajustado nossos gastos, não fizemos e pagamos o preço na década de 1980.
Mas não é deste período que quero falar aqui, quero falar do início do século
XXI. Notem que no início deste século o preço do que produzimos começou a
crescer bem mais do que o preço do que compramos. Este é um dos fatores que
explicam o crescimento recente do Brasil. Como é muito difícil prever o quanto
este fenômeno vai durar a prudência diria que devíamos ter aproveitado este
período de vacas gordas para nos preparar para o futuro. Devíamos ter feito às
reformas necessárias para continuar crescendo quando esta razão se invertesse. Uma
vez realizadas as reformas poderíamos iniciar um processo de enriquecimento por
meio de aumento da produção induzida por aumento da produtividade. Desta forma
nosso crescimento não mais dependeria de preços difíceis de prever. O gráfico
abaixo mostra a mesma razão de preços para Coréia.
Roberto,
ResponderExcluirUm país interessante é Chile. Tem hoje o maior PIB per capita da América Latina e indicadores sociais bem melhores que os nossos, apesar de não ter adotado políticas sociais significativas. Isso sem falar que vai crise, vem crise e o Chile mantém sua trajetória de crescimento sustentado, salvo engano em torno de 5%. Qual o segredo deles? Liberalismo? ok! Não seria então um modelo para países exportadores de commodities? Simplesmente importar (sem barreiras) tecnologia e produtos manufaturados de qualidade, elevando a produtividade do setor de serviços. Todo mundo fica feliz, sem precisar da indústria. O que eu quero dizer é que (alinhado com seu argumento de um post anterior) é possível ser feliz sem a indústria. Coreia é um referencial muito elevado para nosso atrasado país. Melhor o Chile.
Vou lançar o slogan : Indústria zero! Será que pega?
Roberto,
ResponderExcluirUm país interessante é Chile. Tem hoje o maior PIB per capita da América Latina e indicadores sociais bem melhores que os nossos, apesar de não ter adotado políticas sociais significativas. Isso sem falar que vai crise, vem crise e o Chile mantém sua trajetória de crescimento sustentado, salvo engano em torno de 5%. Qual o segredo deles? Liberalismo? ok! Não seria então um modelo para países exportadores de commodities? Simplesmente importar (sem barreiras) tecnologia e produtos manufaturados de qualidade, elevando a produtividade do setor de serviços. Todo mundo fica feliz, sem precisar da indústria. O que eu quero dizer é que (alinhado com seu argumento de um post anterior) é possível ser feliz sem a indústria. Coreia serve para fazer contraponto com o Brasil, mas é um referencial muito elevado para nosso atrasado país. Melhor o Chile.
Claro, teríamos o problema de financiar as importações. Bom, mas Chile tem conseguido. Como eu não sei. Será que só com câmbio flutuante?