segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Imensa Cara de Pau dos Desenvolvimentistas Tucanos

Quem me acompanha aqui no blog ou no FB sabe que considero o governo Dilma um desastre econômico, também sabe que aponto a guinada desenvolvimentista na política econômica ocorrida em torno de 2006 como a origem dos problemas que hoje enfrentamos, por fim, sabe que não compro a tese da indústria redentora defendida por vários colegas (sobre a questão da indústria ver aqui). Por entender o desenvolvimentismo como uma forma sofisticada de transferir renda de pobres para ricos e de superproteger a indústria é que comecei a criticar o petismo tão logo percebi a guinada em 2006, por ter visto que o governo Dilma representava o fortalecimento do desenvolvimentismo fiz o que estava ao meu alcance para que Dilma não fosse reeleita.

Nunca acreditei que o PSDB fosse um partido liberal ou contrário ao desenvolvimentismo, pelo contrário, sempre afirmei ser o PSDB um partido social democrata com correntes desenvolvimentistas bastante fortes e influentes. O símbolo do desenvolvimentismo tucano é José Serra, senador por São Paulo e duas vezes candidato a presidente da república, um político que dificilmente pode ser considerado uma liderança menor do PSDB. Várias vezes falei, não sem alguma ironia, que meu único consolo com a primeira vitória de Dilma era que José Serra tinha o potencial para fazer uma política econômica ainda pior que a de Dilma. O homem que afirmou que o Banco Central não era a Santa Sé (alguém pensa que é?) deixou evidente que se eleito retomaria o desenvolvimentismo.

Uma vez eleita Dilma mostrou que para ela o que é dito na campanha não se escreve (exatamente como está fazendo agora) e seguiu dois dos principais conselhos dos desenvolvimentistas: desvalorização do câmbio e redução da taxa de juros. O primeiro objetivo ela conseguiu, o câmbio desvalorizou aproximadamente 60% no primeiro governo Dilma, o segundo ela tentou e fracassou, a queda dos juros não se sustentou e os juros voltaram a subir. Não eram os desenvolvimentistas que diziam que desvalorizando o câmbio a maior parte dos problemas da indústria estariam resolvidos? Serra não era um defensor desta tese? Claro que alguém pode dizer que seria necessária uma desvalorização ainda maior do que a feita por Dilma, se não me engano Bresser falou de câmbio a R$ 3,50, pode ser um tema para debate, mas antes seria preciso explicar porque a desvalorização que ocorreu gerou efeito contrário ao previsto por vários desenvolvimentistas.

Mas não é com os desenvolvimentistas que quero implicar hoje, pelo menos não com todos, quero registrar indignação com os desenvolvimentistas tucanos. Não tem muito tempo me deparei com um texto de José Serra (link aqui) onde ele dizia:

“Assim, em vez de fomentar a competitividade da economia, investindo em infraestrutura, reduzindo o custo Brasil e incentivando as exportações de manufaturados, o petismo fez o contrário: barateou as importações e encareceu o preço externo de nossas exportações industriais. O golpe na indústria doméstica foi fatal: até hoje seu nível de produção é inferior ao de 2008; o emprego, 10% menor; a balança comercial de manufaturados, mais ou menos equilibrada em 2002, desabou para um déficit de US$ 70 bilhões em 2010 e mais de US$ 110 bilhões em 2014. Evidentemente, houve um colapso nos investimentos industriais, puxando a economia para baixo, além de elevar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos à inquietante vizinhança dos 4% do PIB.”

Se o leitor ficou com a impressão que José Serra tenta jogar a culpa da dita desindustrialização nas costas do PT ficará com (quase) certeza se ler o texto inteiro. O resto de dúvida a respeito de tão esdrúxula tese pode ser resolvido no seguinte trecho de um texto de Reinaldo Azevedo (link aqui):

“... Lula e os petistas, com o aplauso dos tolos, resolveram torrar tudo no consumo. Como, na outra ponta, fazia a vontade de alguns ortodoxos de manual, parecia a descoberta da nova pólvora. Enquanto isso, a indústria caminhava para o buraco. Agora que as commodities despencaram, fazer o quê?”

Novamente a leitura do texto completo ajudará o leitor a formar o próprio juízo, mas me parece claro que há um movimento no sentido de criar uma versão da história onde o PT é culpado pela redução da participação da indústria no PIB.

A tese tem vários problemas, mas um só já basta para colocá-la contra a parede. A redução da participação da indústria do PIB começou em uma época onde o PT ainda não estava nem perto do Palácio do Planalto. As datas precisas dependem de ajustes nos dados, a figura abaixo foi elaborada pela FIESP e será considerada na análise que farei, outros ajustes fariam com que o fenômeno começasse ainda antes o que torna mais difícil jogar a conta no colo do PT.




Reparem que o processo de queda começa em 1985, antes mesmo da abertura da economia, alcança um vale em 1990, sobe e volta a cair. A chegada do Plano Real não afeta a tendência e a participação da indústria no PIB continua a cair, este último ponto é algo que sempre cobro dos desenvolvimentistas que culpam o Plano Real pela desindustrialização. Há uma ameaça de recuperação em meados da década de 1990 e depois uma retomada na tendência de queda. Acredito que a recuperação no início e no meio da década de 1990 estejam mais relacionadas a problemas na economia como um todo do que na dinâmica da indústria propriamente dita, seja como for, tanto uma como outra não foram sustentáveis.

Minha tese é que a desindustrialização não pode ser debitada (ou creditada, a depender do ponto de vista) a nenhuma política econômica de curto prazo. Nem o esforço de estabilização do Plano Real nem a desastrosa política econômica de Dilma podem explicar o fenômeno. Não sou dono da verdade, mas para que alguém me prove errado precisa explicar como uma política pode ser responsável por algo que vinha acontecendo antes da política ser implementada ou mesmo desenhada, é muito “perfect foresight”. Acredito que a dita desindustrialização é uma consequência da industrialização artificial e mal feita que tivemos. Criamos uma indústria incapaz de viver sem fortes transferências de renda de outros setores, quando o resto da sociedade parou de topar bancar a indústria a decadência começou.






P.S. Até onde eu saiba Reinaldo Azevedo não é tucano nem desenvolvimentista, porém é um jornalista que, tudo indica, se informa sobre temas econômicos com desenvolvimentistas tucanos e concorda com as teses defendidas por eles. Daí eu ter citado o texto dele, se o leitor se interessar e fizer uma busca na internet vai encontrar outros textos de desenvolvimentistas tucanos defendendo teses sobre o PT e a desindustrialização.

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