terça-feira, 31 de maio de 2016

Ranking de Competitividade do Centro Mundial de Competitividade do IMD: Cada ranking é um vexame novo.

Foi divulgado o ranking de competitividade elaborado pelo Centro Mundial de Competitividade (link aqui). O centro é ligado ao IMD (link aqui) e o ranking é divulgado a quase vinte anos. A primeira vez que o Brasil foi apareceu no ranking foi em 1997 ocupando a 34º posição em um total de 46 países. Em 2010 estávamos em 38º de 59 países, perdemos quatro posições, porém apareceram 13 países novos na lista. Na versão de 2016 ficamos em 57º, de 2010 a 2016 caímos 19 posições e só entraram 3 países no período. De fato, a partir de 2010 o Brasil começou uma tendência de queda no ranking, ficamos em 44º em 2011, 46º em 2012, 51º em 2013 e 56º em 2015. Essa queda é mais uma evidência do erro que cometemos lá por 2006 quando abandonamos a agenda de reformas e voltamos a adotar práticas desenvolvimentistas.

Olhando o quadro geral é possível observar que somos competitivos que países com renda per capita semelhantes à nossa. A figura abaixo ilustra esse ponto, para evitar distorções no gráfico retirei Qatar e Luxemburgo da lista, ambos possuem PIB per capita superior a $100.000. O Brasil é representado pelo ponto vermelho, repare que vários países com PIB per capita próximos ao nosso apresentam uma pontuação superior à nossa. A pontuação média dos países com PIB per capita menor que o do Brasil é 57.246, a pontuação do Brasil foi 51.676, ou seja, baixa renda não é desculpa para nossa falta de competitividade.




A figura abaixo mostra os dez piores classificados no ranking. Abaixo e quase empatada conosco aparece a Croácia, depois vem Ucrânia, Mongólia e Venezuela. A Argentina, que ano passado estava pior que o Brasil, já começa a abrir vantagem. Nunca é demais lembrar que a Ucrânia quase teve uma guerra civil e um conflito militar com a Rússia, a Venezuela foi destruída por uma ditadura, a Croácia ficou independente após uma guerra violenta que terminou em 1995 e hoje está envolvida com a crise humanitária dos refugiados do Oriente Médio e a Mongólia é um país que foi governado pelo mesmo partido, Partido Revolucionário Popular Mongol, de 1921 a 2010 em um regime que até 1990 era de partido único. É difícil explicar o que o Brasil está fazendo no meio desta turma.




É verdade que temos sérios problemas de curto prazo para resolver, mas também temos de dar a devida atenção a nossa competitividade. A boa notícia é que resolver os problemas de curto prazo não exclui políticas que aumentam a produtividade no longo prazo, pelo contrário, medidas como melhoria da gestão no setor público, privatizações e redução da burocracia podem simultaneamente ajudar no ajuste fiscal e no crescimento da produtividade. Por outro lado, aumentos de impostos, principalmente com os impostos ruins que temos no Brasil, podem até ajudar a resolver o problema fiscal, mas complicam o crescimento da produtividade a médio e longo prazo. Estamos em um momento crítico, podemos retomar o caminho das reformas desta vez prestando mais atenção ao lado fiscal ou podemos tentar aumentar arrecadação para manter privilégios de grupos de interesse. A escolha que fizermos vai definir como estaremos nos próximos dez anos.



domingo, 29 de maio de 2016

Carga tributária no Brasil e em alguns países emergentes

A Folha de São Paulo publicou hoje uma entrevista com a presidente afastada (link aqui). Como é costume nas entrevistas de Dilma não faltaram barbaridades, no quesito insanidade completa a declaração que “A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil” seguida de “Me mostra a oposição falando que tinha crise no Brasil!” é insuperável, de tão absurdas chega a ser impossível comentá-las. A declaração mais perigosa foi "Porque quem paga o pato, quando não se tem imposto num país, é a população", a possibilidade que Dilma estivesse fazendo referência a um sistema tributário mais progressivo não sobrevive à defesa da CPMF feita na mesma reposta. Qualquer leitura honesta da entrevista de Dilma, especificamente destas declarações, leva a concluir que Dilma quer aumentar impostos. Isso não é novidade, aqui no blog eu já tinha registrado que Dilma usava uma estratégia de aumentar impostos e que tal estratégia é coerente com um governo de esquerda (aqui e aqui).

O que torna a declaração perigosa é que muito provavelmente o governo Temer vai propor aumento de impostos e talvez até a volta da CPMF. Se isso acontecer a declaração de Dilma sugere que o PT pode apoiar a medida ou não vai se opor de forma arraigada, como resultado a CPMF ou outra forma de aumento de impostos será aprovada. Equilibrar as contas públicas via impostos é a saída preferida dos políticos, assim procedendo não perderão muitos privilégios e, mais importante, continuarão com recursos para agradar empresários amigos e bancar políticas populistas. Porém, para nós que pagamos impostos, a saída será péssima, significa uma renovação do pacto político que nos colocou em uma trajetória de longo prazo de aumento da carga tributária.

O objetivo deste post, junto com outros escrevi e ainda vou escrever, é juntar argumentos contra aumentos da carga tributária. Tais argumentos serão importantes nos debates vindouros, lembrem que quem está na Fazenda é Meirelles e o “dream team” que ele convocou e não mais tipos como Nelson Barbosa ou Guido Mantega. O debate agora vai ser difícil. Um argumento que os defensores de aumento na carga tributária costumam colocar na mesa é que existem países com carga tributária mais alta do que o Brasil, o argumento é verdadeiro, posso listar alguns que normalmente são listados por eles: Noruega, Suécia, Portugal, Canadá, Reino Unido e por aí vai. A questão não é saber se existem países bem sucedidos com carga tributária mais alta que o Brasil, existem muitos, a questão é saber como está a carga tributária no Brasil em relação a países comparáveis ao Brasil.

Escolher um grupo de comparação não é tarefa fácil, existem muitos fatores que aproximam e distanciam países uns dos outros, porém existem alguns grupos que são usados para classificar países. Levando isso em conta fui na página do FMI e escolhi os países classificados como mercados emergentes e economias em desenvolvimento (link aqui). Mesmo assim o grupo ficou muito diverso, são 152 países incluindo desde pequenos países produtores de petróleo até gigantes como China e Índia. Sendo assim limitei a amostra a países com mais de vinte milhões de habitantes e PIB per capita menor que o dobro do PIB brasileiro. Feitos os cortes fiquei com 44 países na amostra. É certo que eu poderia procurara critérios melhores para definir o grupo de países comparáveis ao Brasil, mas para um post no blog eu me contentei com o método que descrevi.



A figura acima mostra a carga tributária do Brasil e dos outros países do grupo. Repare que apenas seis países possuem carga tributária maior que a do Brasil. Nenhum país emergente da Ásia que ficou na amostra, grupo que inclui China e Índia, tem carga tributária maior que a do Brasil. Apenas um país da América Latina, a Argentina, tem carga tributária maior que o Brasil. Na verdade, são tão poucos países da amostra com carga tributária maior que a do Brasil, que podemos listá-los. A figura abaixo lista os dez países da amostra com maiores cargas tributárias.




O primeiro acima do Brasil é a Rússia, o único BRICS com carga tributária maior que a nossa. Da Europa estão a Polônia e a Turquia, os únicos dois da amostra que o FMI classifica como europeus emergentes. Como já foi dito, da América Latina só a Argentina tem carga tributária maior que a nossa. A Ucrânia, classificada como parte da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e não da Europa, é um caso à parte por conta de tensões internas e externas. Enfim, não temos a maior carga tributária do mundo, porém temos uma carga tributária que está entre as maiores do mundo emergente e é alta o suficiente para não admitirmos discursos dizendo que nossa carga tributária é baixa ou muito menos admitirmos sugestões que não pagamos impostos.



quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Sobre a regra de controle do aumento do gasto" ou "O segredo de ser chato é ser chato".

Muda governo e eu continuo fazendo a mesma coisa, sendo chato. Na condição de chato resolvi procurar por algum período longo onde o gasto público tivesse acompanhado a inflação sem que colhêssemos estabilidade e crescimento. Parece que hoje a sorte estava do lado dos chatos e encontrei um período que se encaixa perfeitamente no que eu procurava. Entre 1975 e 1985 o gato público acompanhou a inflação, na realidade neste período o gasto cresceu um pouco menos que inflação, espero que não seja preciso lembrar a ninguém o aconteceu depois desse período, mas em todo caso vou lembrar: o fim do regime militar e a chegada de um governo populista chegado a mágicas econômicas que nos colocou em uma hiperinflação e não nos tirou da recessão, pelo contrário. A figura abaixo mostra o índice preços, calculado pelo IGP-DI, a despesa federal e a despesa total (federal + estadual + municipal), para que fosse possível visualizar diferenças entre as séries tive de usar logaritmo e ajustar a escala. As séries foram obtidas no Ipeadata.




Estou dizendo que os problemas posteriores a 1985 foram causados pelo aumento do gasto ter acompanhado a inflação? Não! De jeito nenhum! Nem por um segundo pense nisso. O que estou dizendo é que aumentar o gasto de acordo com a inflação não é garantia de controlar a inflação e nem de tirar país da crise. Pode ser uma condição necessária, mas não é suficiente. Alguém está dizendo que é suficiente? Que eu saiba não. Então por que trazer o assunto? Porque sou chato e porque é melhor prevenir do que remediar. Na verdade, tem mais uma razão, deixar registrado que eu (nem ninguém que eu conheça) disse que a regra de controle dos gastos iria nos tirar da crise e/ou estabilizar a inflação. Sabe lá o que vão dizer no futuro...

Acredito que a decisão de limitar o crescimento do gasto foi boa, mas não virá fácil. Existem vários elementos que dificultam colocar em prática uma regra do tipo. Pressão de grupos de interesse é a mais óbvia, mas existem outras, por exemplo, a medida que a população envelhece o gasto com saúde e com previdência aumenta. De onde virão os cortes para bancar esse aumento de gastos? Hoje a justiça obriga governos a pagar por tratamentos, vão mudar a lei? Outro exemplo, várias carreiras do serviço público são estruturadas de forma que o salário real dos servidores aumenta com o tempo, isso cria uma tendência permanente de aumento real na folha de pagamento do governo. E aí? De onde vão cortar para compensar esse aumento? Vão mudar as carreiras? O problema é agravado pelo fato que vários servidores públicos estão no regime jurídico único e têm direito a aposentadoria integral, a reposição desses servidores implica em aumento real do gasto. Não vão repor tais servidores? Vão mudar o regime de aposentadoria dos servidores que estão no regime jurídico único?

As questões acima deixam claro, pelo menos para mim, que para implementar a regra que impede aumentos reais nos gastos o governo terá de aprovar uma série de reformas. Politicamente será um processo delicado e com embates duros (é bom que seja assim!), nesse processo é preciso tomar cuidado para não prometer milagres com o controle de gastos e nem recuar com as reformas a ponto de impossibilitar a aplicação do controle de gastos. A última coisa que precisamos é de um governo que precise de inflação para não cometer crime de responsabilidade.

É isso, talvez eu nem seja assim tão chato... vai saber.


terça-feira, 17 de maio de 2016

Aliança do Pacífico vs Mercosul: Taxa de Investimento

Na primeira comparação entre os países da Aliança do Pacífico e do Mercosul vimos que os países da Aliança do Pacífico tiveram maiores taxas de crescimento (link aqui). Na segunda comparação vimos que os países do Mercosul estão mais endividados (link aqui). Nesse post a variável em foco será a taxa de investimento. Muitos países fazem políticas econômicas voltadas para aumentar a taxa de investimento pois entendem, com um bocado de razão, que essa taxa é a chave para uma renda per capita mais alta no futuro. Mais investimento significa mais capital no futuro e mais capital aumenta a possibilidade de produção e a produtividade do trabalho. Aqui no Brasil, desde 2006 o governo passou a usar intensivamente bancos públicos, especialmente o BNDES, como forma de estimular o investimento (link aqui), a estratégia não deu certo e acabou sendo a principal responsável pela atual crise fiscal que estamos enfrentando. Assim como nos posts anteriores a análise exclui o Paraguai e foi feita com os dados do FMI (link aqui).

A figura abaixo mostra a relação entre taxa de investimento e PIB per capita nos países do Mercosul e nos países da Aliança do Pacífico, os países do Mercosul estão em verde e os países da Aliança do Pacífico em laranja, os anos são representados pelos símbolos nos pontos. Repare que os países da Aliança do Pacífico estão concentrados na parte acima da linha, enquanto os países do Mercosul estão mais presentes na parte abaixo da linha. Isso significa que, dado o PIB per capita, os países da Aliança do Pacífico investem mais como proporção do PIB do que os países do Mercosul. Em 2013 (bolinhas) e 2014 (triângulos) ainda aparecem países do Mercosul acima da linha, em 2015 (quadrados) e 2016 (sinais de soma) apenas países da Aliança do Pacífico aparecem acima da linha, em qualquer ano apenas países da Aliança do Pacífico aparecem com taxas de investimento superiores a 24%. Vale registrar que nenhum país da Aliança do Pacífico possui um banco de desenvolvimento do porte do BNDES, talvez existam estratégias mais eficientes (e mais baratas!) para incentivar o investimento do que usar o dinheiro dos pagadores de impostos para fazer empréstimos subsidiados a empresários amigos.




Seguindo o padrão dos posts anteriores a figura abaixo mostra o “boxplot” das distribuições da taxa de investimento nos dois países. A diferença é ainda mais marcante do que no caso da dívida pública. Em geral os países do Mercosul investem menos do que os países da Aliança do Pacífico.




No terceiro post da série o cenário já está ficando desolador para os países do Mercosul. Nosso grupo investe menos, está mais endividado e cresce menos que os países da Aliança do Pacífico. Fica cada vez mais claro que escolhemos políticas ruins para a economia, se serve algum consolo podemos sempre trocar tais políticas.



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Aliança do Pacífico vs Mercosul: Dívida/PIB

No post anterior comecei uma série de comparações entre o desempenho econômico dos países do Mercosul e dos países da Aliança do Pacífico. A primeira comparação teve como foco o crescimento (link aqui), vimos que os países da Aliança do Pacífico cresceram mais que os países do Mercosul e que a diferença de desempenho aumentou com o passar do tempo. Neste post a comparação terá como foco as finanças públicas, especificamente a dívida bruta como proporção do PIB. Assim como no post anterior o Paraguai será excluído da amostra, os dados novamente são do FMI (link aqui).

A figura abaixo mostra a relação entre a razão dívida/PI e o PIB per capita para os países dos dois grupos entre 2013 e 2016. Repare que os países do Mercosul (verde) estão concentrados acima da linha enquanto os países da Aliança do Pacífico (laranja) dominam a parte do gráfico que está abaixo da linha, ou seja, dado o PIB per capita, os países do Mercosul tendem a ser mais endividados do que os países da Aliança do Pacífico. De fato, os países do Mercosul aparecem abaixo da linha apenas três vezes: Argentina em 2013 e 2014 e a Venezuela em 2016. O caso da Argentina é curioso, o país deu calote na dívida em 2001, na sequência de crises políticas e econômicas do período (o país teve três presidentes entre 2001 e 2003) a dívida chegou a 137,7% do PIB em 2002. Depois com a chegada de Nestor Kirchner e a estabilização da economia e da política a dívida entrou em trajetória de queda chegando a 37,6% do PIB em 2012. Como costuma ser o caso em governos populistas o aparente sucesso econômico tem pernas curtas e em 2015 a dívida já estava em 56,5% do PIB em 2015 e é prevista terminar o ano d 2016 em 60,7%, maior que a de qualquer país da Aliança do Pacífico. No caso da Venezuela a queda da dívida está relacionada ao caos econômico que na prática equivale a um calote da dívida pública, inclusive por conta da inflação descontrolada. Também é válido registrar que de todos os países analisados apenas o Brasil aparece com relação dívida/PIB superior a 70% (lembre-se que estou usando dados do FMI), mais uma evidência que temos um sério problema fiscal (mais sobre o assunto aqui).




A análise por meio do “boxplot” confirma a impressão que os países do Mercosul estão mais endividados que os da Aliança do Pacífico. Na figura abaixo é possível reparar que a distribuição dos países do Mercosul está “acima” da distribuição dos países da Aliança do Pacífico, ou seja, na maioria dos anos a maioria dos países do Mercosul está mais endividada que a maioria dos países da Aliança do Pacífico. O quadrado em destaque representa as médias de endividamento de cada grupo, mais uma vez é fácil ver que, em média, os países do Mercosul são mais endividados que os países da Aliança do Pacífico.




Assim como no caso do crescimento é possível enxergar os efeitos da piora do cenário externo no desempenho dos países dos dois grupos. Repare que na primeira figura as "bolinhas" (dados referentes a 2013) estão mais baixas que os "sinais de soma" (dados referentes a 2016), ou seja, existe um padrão geral de aumento da dívida pública como proporção do PIB entre 2013 e 2016. Porém, assim como no caso do crescimento, é possível observar que os países do Mercosul tiveram um desempenho pior do que o dos países da Aliança do Pacífico. Considerando os dois posts com comparações entre os grupos podemos ver que os países da Aliança do Pacífico cresceram mais e estão menos endividados do que os países do Mercosul, confesso que não estou nem um pouco surpreso.



quinta-feira, 5 de maio de 2016

Aliança do Pacífico vs Mercosul: Crescimento

Em 2013 a revista The Economist fez uma reportagem intitulada “A continental divide” (link aqui) onde comentava a divisão da América Latina em dois grupos: Aliança do Pacífico e Mercosul. O primeiro grupo liderado por Chile, Colômbia, México e Peru apostava em políticas econômicas mais direcionadas ao livre mercado e ao comércio internacional. O segundo grupo formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela apostava em políticas intervencionistas e no comércio regional ou orientado a grupos específicos de países. Hoje começo uma série de posts a respeito do desempenho dos países de cada grupo de lá para cá. Como o Paraguai foi suspenso do Mercosul por um tempo e a partir daí seguiu políticas diferentes dos outros países do grupo resolvi excluir o país da amostra. A primeira variável a ser analisada será crescimento econômico.

A figura abaixo mostra a relação entre crescimento e PIB per capita para os países dos dois grupos entre 2013 e 2016 (valores previstos) de acordo com o World Economic Outlook do FMI (link aqui). Observe que os países da Aliança do Pacífico (laranja) estão concentrados acima da linha, ou seja, apresentaram crescimento maior do que o esperado considerando apenas a renda per capita, e os países do Mercosul (verde) estão concentrados abaixo da linha. Mais interessante é olhar o movimento com o passar do tempo. Em 2013 é possível observar que os quatro países do Mercosul estão acima da linha (bolas verdes), como o mesmo vale para os países da Aliança do Pacífico a conclusão é que o ano de 2013 foi bom para os países dos dois grupos, o que não é surpresa. A medida que o tempo de bonança vai acabando torna-se possível observar que os países do Mercosul vão apresentando um desempenho pior do que os da Aliança do Pacífico. Em 2014 apenas um país do Mercosul, o Uruguai, estava acima da linha (triangulo verde). Em 2015 e nas previsões para 2016 todos os países do Mercosul estão abaixo da linha. Repare também que a partir de 2015 alguns países do Mercosul começam a apresentar taxas de crescimento negativas enquanto que nenhum dos países da Aliança do Pacífico apresenta crescimento negativo.




Uma outra forma de visualizar as diferenças no crescimento dos países de cada grupo é por meio de um “boxplot”, um gráfico onde estão descritas as distribuições de crescimento de cada grupo com destaque para a mediana e os quartis. A figura abaixo mostra o “boxplot” da taxa de crescimento nos dois grupos, a média está marcada por um quadrado. Repare que tanto a mediana (linha preta) quanto a média (quadrado preto) dos países da Aliança do Pacífico estão acima da mediana e da média dos países do Mercosul, mais ainda a “caixa” da Aliança do Pacífico está toda acima da “caixa” do Mercosul.




Não discuto que a redução nos preços das commodities afetou todos os países da América Latina, porém não se pode concluir que a sorte de cada um dos países foi determinada pelos preços da commodities. Já passa da hora dos países da América Latina pararem de procurar causas externas para os próprios problemas e começarem a procurar entender como as decisões tomadas por cada país afetou o desempenho do país. Analisar grupos de países que tomaram decisões diferentes pode ser um bom caminho para “olhar para dentro”. Foi isso que eu quis dizer na recente conferência da OCDE a respeito da América Latina e China (link aqui) quando afirmei que se não começarmos a resolver nossos problemas em alguns anos o que hoje chamamos de oportunidade vinda da China poderá se transformar em ressentimento e a China acabará se juntando a Portugal, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos na lista dos “exploradores” culpados por nossas desgraças.