sábado, 25 de outubro de 2014

Obrigado Aécio

No começo não estava entusiasmado nem com a campanha nem com Aécio, meu plano era fazer como nas outras eleições: votar em um candidato sem chances no primeiro turno, tradicionalmente o Eymael, e no segundo turno votar no candidato tucano. Com o trágico acidente que levou Eduardo Campos me senti obrigado a mudar de estratégia, diante da possibilidade de um segundo turno entre Dilma e Marina não apenas decidi votar em Aécio já no primeiro turno como tornei pública minha decisão. A decisão não foi exatamente acompanhada de empolgação, cheguei a temer que Aécio não fosse para segundo turno, embora nunca tenha me juntado aos que sugeriram o abandono da candidatura e um apoio a Marina. Estava pouco confiante mas certo que Aécio era a única opção palatável. Veio o primeiro turno, Aécio não apenas foi para o segundo turno como se saiu muito melhor do que o previsto pelos principais institutos de pesquisa do país.

Com o segundo turno começou a vir a empolgação. É bem verdade que já no primeiro turno Aécio tinha dado sinais que não faria a oposição burocrática que os tucanos fizeram nas campanhas anteriores. Aécio não passou a sensação que queria mesmo era estar do outro lado, como fez Serra, nem teve vergonha de defender a agenda de reformas dos anos 90 e o governo FHC, como teve Alckmin. Apresentou-se como candidato de oposição, foi duro nas críticas ao petismo e ao desastroso governo de Dilma, não se acovardou e não se intimidou. Fique claro que Aécio não é meu candidato dos sonhos e o PSDB não é um partido que eu me identifique. Reconheço o PSDB como um legitimo representante da social democracia moderna, as reformas de FHC não foram essencialmente diferentes das feitas por governo sociais democratas por toda a Europa, negar isso é negar a realidade. Como liberal eu gostaria de ter um candidato que defendesse a agenda liberal, mesmo que fosse um candidato sem chances. Ficaria feliz de votar em candidato por princípios no primeiro turno (como fizeram os verdes) e um candidato de conveniência no segundo turno (como também fizeram os verdes), mas não tenho essa opção. Entre a social democracia moderna do PSDB e o populismo autoritário do PT eu fico com os tucanos.

O fato é que mesmo sem ser o candidato ideal para muitos Aécio conseguiu canalizar o sentimento de revolta e/ou cansaço com o petismo e deu vida à oposição. Pela primeira vez parte expressiva da população perdeu o medo de se declarar contra o PT. Artistas, esportistas, intelectuais e tantos outros declararam publicamente apoio a Aécio, o povo foi para rua e disse “fora PT”. Pode parecer pouco perto de uma militância que há mais de 20 anos diz “fora” para qualquer presidente que não seja do partido mesmo antes do cidadão tomar posse, mas é muito se olharmos como foram as campanhas anteriores. Aécio deu voz e orgulho a milhões de brasileiros que não aprovam o governo petista, não aprovam a forma petista de governar ou simplesmente não aguentam mais as trapalhadas de Dilma. Hoje em Brasília pude sentir isso nas ruas. Fui com minha esposa sem combinar com mais ninguém, encontrei amigos, colegas de departamento, alunos e várias pessoas que saíram espontaneamente de suas casas para marcar presença no ato em prol da candidatura tucana. Pessoas que na segunda-feira, não importa quem ganhe, estarão tocando suas vidas normalmente que estarão trabalhando, estudando, cuidando de suas casas ou famílias, praticando esportes ou seja lá o que fazem todo santo dia.

Por mostrar que o Brasil não tem dono, por mostrar que pensar diferente do governo não é vergonha, por criar um sentimento de pertencimento aos que não veem no PT o caminho da salvação eu agradeço a Aécio e a campanha tucana dessas eleições. Liberais, conservadores, sociais democratas, esquerdistas, direitistas, quem não tem nada isso mas não aguenta mais o governo dos companheiros todos cantaram “agora é Aécio”. Não importa o que acontecer amanhã, Aécio é um vitorioso que sai dessa campanha muito maior do que entrou, mas vitórias trazem responsabilidades, se perder amanhã Aécio tem obrigação moral de não se acovardar nem se acomodar e liderar a oposição pelos próximos quatro anos. Uma oposição tão dura e combativa como será a oposição que o PT fará se Aécio for eleito, uma oposição que faça justiça aos sentimentos que essa campanha despertou. Ganhando ou perdendo amanhã o bom combate continua.



Um comentário:

  1. Por que o Aécio não falou algo tipo: Dilma, como a senhora pode se orgulhar de ter 54 milhões recebendo Bolsa Família? Como se orgulhar de que 1/4 da população do país depende de uma esmola do Governo para sobreviver?
    Mas ao invés disso, ele dizia que iria manter e ampliar o programa...
    Maldito populismo.

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