sábado, 31 de maio de 2014

Retrato do Desastre Econômico no Governo Dilma

Saíram os números referentes às Contas Nacionais relativos ao primeiro trimestre de 2014 (link aqui). O resultado que mais chamou atenção foi o baixo crescimento do PIB, no trimestre em questão o PIB cresceu 0,2% na série com ajuste sazonal. Em relação ao primeiro trimestre de 2013 o crescimento foi de 1,9%. Outro número relativo ao PIB que chamou atenção foi a revisão para cima do crescimento de 2013, o valor original de 2,3% foi revisto para 2,5%. A revisão não muda o diagnóstico que fiz aqui no blog quando do lançamento dos números originais (link aqui).

A análise do PIB pela ótica da produção mais uma vez mostra a agricultura como o setor que mais cresce no Brasil, cresceu 3,6% no período. A indústria decresceu, mostrando mais uma vez o fracasso da mudança na política econômica em atingir um dos objetivos que mais desejava, qual seja: aumentar a participação da indústria no PIB. Na comparação com o primeiro trimestre de 2013 a indústria cresceu 0,8%, menos da metade do crescimento do PIB. Porém a indústria de transformação, objeto maior das políticas industriais defendidas por Dilma e sua equipe, teve uma redução de -0,5%. O resultado positivo da indústria foi devido a indústria extrativa mineral que cresceu 5,4%.

Pela ótica da demanda a queda do investimento também aponta para o fracasso da mudança de política econômica. Queiram ou não os defensores da Nova Matriz Econômica (ainda existe algum defensor?), os principais objetivos da nova matriz, recuperar a indústria e aumentar a taxa de investimento, não foram alcançados, pelo contrário. Não estou surpreso, acreditar que a manipulação de alguns preços vai resolver os problemas da economia brasileira sempre esteve além das minhas capacidades. A verdade é que se a nova matriz tivesse funcionado estaríamos vivendo um racionamento de energia, não o paraíso sonhado pelos que acreditam que o problema é o câmbio ou os juros.

Como desgraça pouca é bobagem  a crença que a política de estímulo à demanda, a queda dos juros e a desvalorização do câmbio despertariam o espírito animal dos empresários e nos levariam a um ciclo de aumento do investimento e de crescimento não apenas reduziu a taxa de investimento como levou a taxa de poupança ao patamar mais baixo dos últimos anos. A figura abaixo, retirada do relatório do IBGE, mostra as taxas de poupança e investimento no Brasil. Poupamos 12,7% da renda contra 17% que poupávamos quando Dilma começou a nos governar. Sem poupança e com a necessidade urgente de aumentar a taxa de investimento o caminho é apelar cada vez mais para poupança externa, ou seja, vamos nos endividar ainda mais com o resto do mundo. Tudo fica mais grave porque, ao contrário do cantando em prosa e verso pela turma do câmbio, a desvalorização do câmbio veio acompanhada por uma redução no saldo comercial, na realidade no primeiro trimestre de 2014 o valor das importações de bens e serviços foi maior que o das exportações de bens e serviços.



A necessidade de financiamento da economia brasileira chegou a R$ 66 bilhões no primeiro trimestre de 2014, no primeiro trimestre de 2009, quando a crise financeira deixava o mundo em pânico, a necessidade de financiamento foi de R$ 14 bilhões e no primeiro trimestre de 2011, logo após a posse de Dilma, a necessidade de financiamento era de R$ 28 bilhões. É difícil encontrar exemplos de política econômica com resultados tão ruins como a política econômica de Dilma. Uma política anunciada como a salvação da indústria de transformação teve a indústria, particularmente a indústria de transformação, como maior vítima. Uma política anunciada como a que ia gerar o maior ciclo de investimento das últimas décadas viu a taxa de investimento despencar. A presidente que começou o governo afirmando que seria lembrada como a presidente do PIBão viu nos seu governo uma das menores taxas de crescimento da história. Se pelo menos ela aprendesse com os erros...

sábado, 24 de maio de 2014

Governo Dilma e a Renda dos Ricos, Muito Ricos e Pobres ou Onde Está o Erro?

Li alguma coisa sobre o Marcelo Neri, ministro da SAE/PR e um dos melhores economistas aplicados do Brasil, ter dito que no governo Dilma a renda dos mais pobres cresceu mais do que tinha crescido no governo Lula. Não consegui ver onde e como ele disse isto, mesmo assim resolvi olhar os dados para ver o que estava acontecendo. Tenho defendido que a redução dos juros e a desvalorização do câmbio realizadas no governo Dilma prejudicariam os mais pobres, a conclusão de Neri, portanto, me deixaria de calças curtas. Meus objetivos ao buscar os dados eram dois: avaliar o comportamento ano a ano, dado que as políticas que falei acima foram revertidas e ver se o resultado era robusto à vários índices de preços, visto que tudo indica que a inflação para os mais pobres tem sido maior que a inflação para os mais ricos.

Ao olhar os dados tive uma surpresa desconcertante. A PNAD mais recente disponível no site do IBGE é de 2012 (link aqui), nesta procurei a tabela com as rendas por faixa de renda (link aqui). Levei para o Excel e transpus a matriz porque gosto de ler anos nas linhas e não nas colunas. O resultado está aqui:


Percentil de Renda
Ano
Total
Até 10
10 a 20
20 a 30
30 a 40
40 a 50
50 a 60
60 a 70
70 a 80
80 a 90
90 a 100
95 a 100
99 a 100
2004
76.4
59.8
58.4
62.9
64.8
67.5
70.6
70.7
76.5
80.5
82.6
82.1
77.0
2005
80.4
68.9
65.2
69.0
68.8
72.1
74.1
75.0
79.9
82.6
86.6
86.5
82.3
2006
85.1
67.1
65.4
78.0
77.2
76.6
79.0
80.2
84.3
87.8
90.9
90.6
86.0
2007
87.4
81.7
76.6
81.0
80.7
81.2
81.9
84.2
86.7
90.5
91.2
90.4
85.5
2008
88.9
82.9
79.1
82.6
82.9
84.8
85.6
86.6
89.2
91.5
91.7
91.1
85.8
2009
90.6
84.1
79.7
88.6
88.1
86.9
87.8
88.8
90.3
92.6
92.8
92.2
88.2
2010
92.7
89.6
87.3
90.5
91.0
90.7
91.3
91.6
93.1
94.1
93.6
92.9
88.4
2011
94.7
95.1
94.9
92.4
93.9
94.5
94.7
94.5
95.9
95.5
94.4
93.6
88.7
2012
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100

Da esquerda para direita estão os mais pobres até os mais ricos, por exemplo, a coluna “Até 10” mostra os 10% mais pobres, a coluna “40 a 50” mostra os que estão acima dos 40% mais pobres e abaixo dos 50% mais ricos e a coluna “99 a 100” mostra os tão falados 1% mais ricos. A coluna “Total” mostra a renda de toda a economia. Os números são números índices, logo nãos e prestam a avaliar o nível de renda, mostram apenas a variação da renda. Por exemplo, olhando a coluna “Total” em 2004 vemos que o número índice é 74,6 e que em 2012 o número índice é 100. Isto  significa que a renda em 2004 era 76,4% da renda em 2012, ou, dito de outra forma, que a renda cresceu 30,8% entre 2004 e 2012. Olhando a tabela é possível ver o gigantesco crescimento da renda dos 1% mais ricos em 2012, o número índice pula de 88,7 para 100, um crescimento de 12,7%. Para visualizar melhor o que a tabela está dizendo fiz a figura abaixo mostrando o crescimento da renda de cada grupo. Em azul o crescimento entre 2004 e 2010, anos de governo Lula, em vermelho o crescimento em 2011 e em verde o crescimento em 2012.



Reparem como os dados são estranhos. A renda total em 2012 cresceu 5,58% contra um crescimento do PIB de aproximadamente 1%. Sei que existem debates a respeito do uso de deflatores que tomam por base cestas de consumo, caso do IPCA, e o deflator do PIB, mas, mesmo assim, creio que a proporção está exagerada. Outro fato que chama atenção é o crescimento da renda dos mais ricos durante o governo Dilma. O padrão de crescimento pró-pobre que é observado com Lula não é seguido nos anos de Dilma, pelo contrário, em 2012 o crescimento da renda dos 10% mais pobres só foi maior que o dos que estão acima dos 70% mais pobres e abaixo dos 90% mais ricos. No mesmo ano o crescimento o crescimento na renda dos 5% mais ricos só foi menor que o crescimento na renda dos 1% mais ricos e o crescimento na renda dos que estão entre 0s 20% e 30% da distribuição de renda.

Onde está o erro? Os dados da PNAD de 2012 foram revistos na edição de 2013? Fiz alguma conta errada? Os efeitos da desastrosa política econômica de Dilma vieram mais rápido e de forma mais intensa do que pensei? O governo Dilma é um governo dos 1%?

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Doutrinação em Questão do Brasília sem Fronteiras?

Espero que seja um mal-entendido, se não for é algo muito grave. Vi no FB uma polêmica em relação a uma questão em uma prova do Programa Brasília sem Fronteiras elaborada pelo CESPE. A afirmação era a seguinte:
"Adolf Hitler presidiu a Alemanhã entre 1933 e 1945, tendo implantado nesse tempo o Nacional Socialismo, também conhecido como nazismo, movimento político e ideológico baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no anti-comunismo e no liberalismo econômico e político"
O gabarito parece apontar a afirmação como certa. Isto é um absurdo, um despropósito. Que um partido que se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães tenha por base o liberalismo econômico já seria motivo para levantar desconfiança dos mais atentos. Definitiviamente as agendas socialistas e trabalhistas não encontram abrigo no pensamento liberal, mesmo o nacionalismo não pode ser facilmente encaixado no liberalismo.
Alguém pode no entanto argumentar que o nome do partido não necessariamente guarda relação com a prática do partido. Neste caso uma alternativa é olhar o programa, existem várias versões na internet do Programa do Partido Nazista, as diferenças são devidas a tradução e não mudam o ponto que quero fazer, segue abaixo o programa como aparece na Wikpedia em português (link aqui). Os que não gostam da fonte sintam-se livres para buscar outras fontes. Segue o programa:
  1. Nós pedimos a constituição de uma Grande Alemanha, que reúna todos os alemães, baseados no direito a autodeterminação dos povos.
  2. Pedimos igualdade de direitos para o povo alemão em relação às outras nações e a revogação do Tratado de Versalhes e do Tratado de Saint Germain.
  3. Pedimos terras e colônias para nutrir o nosso povo e reabsorver a nossa população.
  4. Só os cidadãos gozam de direitos cívicos. Para ser cidadão, é necessário ser de sangue alemão. A confissão religiosa pouco importa. Nenhum judeu, porém, pode ser cidadão.
  5. Os não cidadãos só podem viver na Alemanha como hóspedes, e terão de submeter-se à legislação sobre os estrangeiros.
  6. O direito de fixar a orientação e as leis do Estado é reservado unicamente aos cidadãos. Por isso, pedimos que todas as funções públicas, seja qual for a sua natureza, não possam ser exercidas senão por cidadãos. Nós combatemos a prática parlamentar, origem da corrupção, de atribuição de lugares por relações de partido, sem importar o caráter ou a capacidade.
  7. Pedimos que o Estado se comprometa a proporcionar meios de vida a todos os cidadãos. Se o país não puder alimentar toda a população, os não cidadãos devem ser expulsos do Reich.
  8. É necessário impedir novas imigrações de não alemães. Pedimos que todos os não alemães estabelecidos no Reich, depois de 2 de agosto de 1914, sejam imediatamente obrigados a deixar o Reich.
  9. Todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres.
  10. O primeiro dever do cidadão é trabalhar, física ou intelectualmente. A atividade do indivíduo não deve prejudicar os interesses do coletivo, mas integrar-se dentro desta e para o bem de todos. É por isso que pedimos:
  11. A supressão do rendimento dos ociosos e dos que levam uma vida fácil, a supressão da escravidão do juro.
  12. Considerando os enormes sacrifícios de vidas e de dinheiro que qualquer guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal com a guerra deve ser estigmatizado como um crime contra o povo. Pedimos por isso o confisco de todos os lucros de guerra, sem exceção.
  13. Pedimos a nacionalização de todas as empresas que atualmente pertencem a trusts.
  14. Pedimos uma participação nos lucros das grandes empresas.
  15. Pedimos um aumento substancial das pensões de reforma.
  16. Pedimos a criação e proteção de uma classe média sã, a entrega imediata das grandes lojas à administração comunal e o seu aluguel aos pequenos comerciantes, a baixo preço. Deve ser dado prioridade aos pequenos comerciantes e industriais nos fornecimentos ao Estado, aos Länder ou aos municípios.
  17. Pedimos uma reforma agrária adaptada às nossas necessidades nacionais, a promulgação de uma lei que permite a expropriação, sem indenização, de terrenos para fins de utilidade pública, a supressão de impostos sobre os terrenos e a extinção da especulação fundiária.
  18. Pedimos uma luta sem tréguas contra todos os que, pelas suas atividades, prejudicam o interesse nacional. Criminosos de direito comum, traficantes, agiotas etc. devem ser punidos com a pena de morte, sem consideração de credo religioso ou raça.
  19. Pedimos que o direito romano seja substituído por um direito público alemão, pois o primeiro é servidor de uma concepção materialista do mundo.
  20. A extensão da nossa infraestrutura escolar deve permitir a todos os alemães bem dotados e trabalhadores o acesso a uma educação superior e, através dela, aos lugares de direção. Os programas de todos os estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às necessidades da vida prática. O espírito nacional deve ser incutido na escola a partir da idade da razão. Pedimos que o Estado suporte os encargos da instituição superior dos filhos excepcionalmente dotados de pais pobres, qualquer que seja a sua profissão ou classe social.
  21. O Estado deve preocupar-se em melhorar a saúde pública mediante a proteção da mãe e dos filhos, a introdução de meios idôneos para desenvolver as aptidões físicas, pela obrigação legal de praticar desporto e ginástica, e um apoio poderoso a todas as associações que tenham por objetivo a educação física da juventude.
  22. Pedimos a supressão do exército de mercenários e a criação de um exército nacional.
  23. Pedimos a luta pela lei contra a mentira política consciente e a sua propagação por meio da imprensa. Para que se torne possível a criação de uma imprensa alemã, pedimos que:
    1. todos os diretores e colaboradores de jornais em língua alemã sejam cidadãos alemães;
    2. a difusão dos jornais não alemães seja submetida a autorização expressa. Estes jornais não podem ser impressos em língua alemã;
    3. seja proibida por lei qualquer participação financeira ou de qualquer influência de não alemães em jornais alemães. Pedimos que qualquer infração dessas medidas seja sancionada com o encerramento das empresas de impressão culpadas, bem como pela expulsão imediata, para fora do Reich, dos não alemães responsáveis. Os jornais que forem contra o interesse público devem ser proibidos. Pedimos que se combata pela lei um ensino literário e artístico gerador da desagregação da nossa vida nacional; e o encerramento das organizações que contrariem as medidas anteriores.
  24. Pedimos a liberdade no seio do Estado para todas as confissões religiosas, na medida em que não ponham em perigo a existência do Estado ou não ofendam o sentimento moral da raça germânica. O partido, como tal, defende o ponto de vista de um cristianismo positivo, sem todavia se ligar a uma confissão precisa. Combate o espírito judaico-materialista no interior e no exterior e está convencido de que a restauração duradoura do nosso povo não se pode conseguir senão partindo do interior e com base no princípio: o interesse geral sobrepõe-se ao interesse particular.
  25. Para levar tudo isso a bom termo, pedimos a criação de um poder central forte, a autoridade absoluta do gabinete político sobre a totalidade do Reich e as suas organizações, a criação de câmaras profissionais e de organismos municipais encarregados da realização dos diferentes Länder, de leis e bases promulgadas pelo Reich.
Os dirigentes do partido prometem envidar todos os seus esforços para a realização dos pontos antes enumerados, sacrificando, se for preciso, a sua própria vida.
Munique, 24 de Fevereiro de 1920.

Esta é uma agenda liberal? Estado garantido os meios de vida dos cidadãos (7), suspensão dos rendimentos dos ociosos e fim da escravidão dos juros (11), nacionalização de corporações (13), participação nos lucros (14), aumento no valor das pensões (15), entrega das grandes lojas a administração comunal (16), reforma agrária sem indenização e fim da especulação fundiária (17), saúde pública (21) e poder central forte (25). Parece uma agenda de uma partido socialista, na realidade é a agenda de um partido socialista.
Até entendo que os socialistas tentem renegar os nazistas com a desculpa que o nazismo era anti-marxista e anti-comunista, o que de fato era. Mas jogar o nazismo na conta do liberalismo vai além do limite do razoável. Espero que o CESPE, como instituição respeitável que é, tome as medidas cabiveis para esclarecer esta situação.




domingo, 18 de maio de 2014

Uma rápida reflexão a respeito do Doing Business, Index of Economic Freedom e Global Competitive Index

Ontem fiz um post comparando o desempenho dos países da OCDE e da América Latina no ranking Doing Business do Banco Mundial. Ocorre que existem outros rankings com objetivos semelhantes ao Doing Business: o ranking de competitividade do World Economic Forum (link aqui) e o ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation (link aqui). Cada um destes rankings tem seus próprios objetivos, porém todos tentam de alguma forma medir o quanto cada país é amigável com o empreendedorismo e com o livre mercado. Desta forma duas classes perguntas aparecem:
i)                    Qual a relação entre estes rankings? Estar bem em um ranking implica em estar bem no outro?
ii)                   Qual a relação entre estes rankings e o PIB per capita? Não seriam estes rankings feitos de trás para frente de forma que os países ricos sempre se sairão bem?
A resposta a essas perguntas exige mais trabalho e cuidado do que um post no blog. Se alguém estiver disposto a fazer o trabalho eu posso orientar, se ninguém se apresentar a alternativa é procurar algo no IDEAS/RePeC ou esperar que alguém faça o trabalho.

Menos do que o necessário farei uma comparação com um subconjunto de países e farei referencia apenas a correlações. O conjunto de países junta dois grupos diferentes: os países com as 20 maiores rendas per capita conforme o FMI e um conjunto de países da América Latina. No primeiro grupo, chamado Top20, estão: Luxemburgo, Noruega, Qatar, Suíça, Austrália, Dinamarca, Suécia, Singapura, EUA, Canadá, Áustria, Kuwait, Holanda, Finlândia, Irlanda, Islândia, Bélgica, Alemanha, Emirados Árabes Unidos e França. No segundo grupo estão: Uruguai, Chile, Venezuela, Argentina, Brasil, México, Colômbia, Peru, Equador, Paraguai, El Salvador, Guatemala, Bolívia, Honduras e Nicarágua.

A parte de cima da figura abaixo mostra a correlação entre o Index of Economic Freedom da Heritage Foundation e o Doing Business do Banco Mundial. A parte de baixo da figura mostra a correlação entre o The Global Competitive Index do World Economic Forum e o Doing Business do Banco mundial. É visível a correlação positiva nas duas figuras, de fato a correlação entre o Index of Economic Freedom e o Doing Business é 0,91. Para os que gostam de mais detalhes vale dizer que com 95% de probabilidade a correlação está entre 0,83 e 0,96. Já a correlação entre o Global Competitive Index e o Doing Business é 0.88 com 95% de probabilidade de estar entre 0.77 e 0.94. Nos dois casos existe uma correlação positiva e significativa entre os rankings. Não coloquei o gráfico, mas a correlação entre o Index of Economic Freedom e o The Global Competitive Index também é positiva e significativa, o valor estimado é 0,80. Os resultados sugerem que, na amostra de países usada, os rankings são consistentes.




A próxima figura mostra a correlação de cada um dos índices e o PIB per capita. Para os três rankings a correlação é negativa, quanto maior o PIB per capita melhor a classificação, é o resultado que se esperava. Os intervalos de confiança para o Doing Business, o Index of Economic Freedom e o Global Competitive Index são: [-0,79 -0,37], [-0,79 -0,36] e [-0,88 -0,66], respectivamente. Novamente são todos significativos. Pouco pode ser disto deste resultado, a correlação deu como esperado e não é suficiente para suportar a tese que os índices são feitos de forma que os países ricos fiquem bem classificados. Por outro lado a figura sugere que a correlação negativa está mais relacionada às diferenças entre os grupos do que as diferenças entre países do mesmo grupo. De fato se calcularmos as correlações dentro dos grupos temos que nenhuma das correlações é significativa.




A figura anterior dificulta a visualização do efeito dos grupos, para resolver esta questão a figura abaixo ilustra apenas o Global Competitive Index, usei este indicador porque é onde o problema fica mais claro. Se a falta de correlação significativa entre os índices quando se delimita um grupo de países aponta que o ranking não é feito de forma forçar os países ricos nas melhores posições, este resultado coloca novas questões interessantes. Diferenças institucionais são importantes para diferenciar grupos de países, mas não as diferenças entre países de um mesmo grupo? Infelizmente o exercício deste post não permite responder a essa pergunta. Se um dia eu conseguir a resposta eu aviso.



sábado, 17 de maio de 2014

Doing Business: Brasil, América Latina e OCDE

Quem acompanha o blog já me viu falando que o caminho para o crescimento de longo prazo é o crescimento da produtividade e que um dos meios de conseguir aumentar o crescimento da produtividade é cirando um ambiente institucional favorável aos negócios. Da minha lista padrão, que também inclui educação e investimento em infraestrutura, considero que melhorar o ambiente de negócios seja o mais importante e o que implica em menores custos financeiros. Pois bem, esta semana o IPEA patrocinou uma rodada de debates a respeito da produtividade. Foram dos dias de debates intensos tratando de como medir produtividade, quais os determinantes da produtividade, como fazer para que a produtividade cresça e quais os efeitos da produtividade na economia brasileira. Alguns dos maiores especialistas em produtividade e/ou economia brasileira estavam presentes. Tive a sorte de ser convidado, infelizmente só pude participar do primeiro dia.

Um dos trabalhos apresentados tratava do ambiente de negócios. A partir do ranking Doing Business elaborado pelo Banco Mundial (link aqui), Lucas Mation, pesquisador do IPEA, estimou os efeitos que melhoras institucionais teriam na produtividade do trabalho no Brasil. Os resultados eram preliminares e convém não divulgar aqui, mas apontavam para relevância de melhorar o ambiente de negócios como forma de aumentar a produtividade do trabalho. Quando os resultados definitivos do trabalho forem publicados comentarei aqui no blog, até lá ofereço ao leitor alguns números e comparações.

O ranking lista 189 países, avalia vários aspectos do ambiente de negócios de cada país e oferece uma classificação geral para cada país. O Brasil fica em 116º no ranking geral, entre a Guiana e a República Dominicana. Nossa melhor classificação é 14º no quesito “acesso a eletricidade” e nossa pior classificação é 159º no quesito referente a pagamentos de tributos. É um desempenho ruim, mas não é exclusividade nossa. Os países da América Latina tendem a se sair muito mal no ranking de ambiente de negócios, o melhor classificado é o Chile que aparece na 34º posição do ranking geral.

Para visualizar o problema eu fiz uma comparação com os países da OCDE. No passado a OCDE foi vista como um clube exclusivo de países ricos, hoje é um clube mais democrático, incluindo países do Leste Europeu, da Ásia e da América Latina (lista completa aqui). Como um todo ainda é um clube mais rico que a América Latina. Considerando México e Chile no grupo da OCDE e fazendo o clube da América Latina como Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, temos a seguinte comparação: O PIB per capita médio da OCDE é de 34.750 dólares internacionais (números do FMI), o da América Latina, daqui em diante AL, é de 11.370 dólares internacionais. O mais pobre da OCDE tem um PIB per capita de 15.000 dólares internacionais, o da AL tem um PIB per capita de 5.099 dólares internacionais. O mais rico da OCDE tem um PIB per capita de 79.780 dólares internacionais, o mais rico da AL tem um PIB per capita de 18.110 dólares internacionais. Por qualquer medida a OCDE tem um conjunto de países mais ricos que a América Latina. Sendo um grupo de países com características diversas, porém mais bem sucedidos que os da América Latina, os países da OCDE formam um conjunto interessante de comparação com a turma de nuestra América.




A figura mostra que praticamente todos os países da AL tem um ambiente de negócios pior que os dos países da OCDE. A classificação média dos países da OCDE é 32º, da AL é 111º. Tirando Colômbia e Peru, os dois melhores classificados do grupo AL e talvez por isto as grandes promessas econômicas da região, o próximo, vem na 88º posição, 13 acima do último colocado do grupo da OCDE. O Brasil não se destaca nem mesmo no grupo AL, fica na mediana e pior do que a média. Se México e Chile fossem incluídos no grupo da América Latina o Brasil ficaria pior que a mediana, é muito pouco para um país com pretensões de potência econômica.

Quem quer que já tenha participado de debates sobre o Brasil já ouviu alguém da esquerda afirmando que o problema do Brasil é a falta de vontade política, via de regra não é verdade. O Brasil tem problemas muito mais profundos que falta de vontade política. Porém no caso do ambiente de negócios o problema é quase todo devido a tal falta de vontade política. Não é preciso uma grande soma de recursos públicos para que no Brasil seja mais fácil abrir uma empresa do que é no Kosovo ou no Senegal, ambos melhores classificados que o Brasil neste quesito. Honduras e Zimbábue são mais eficientes que o Brasil quando o assunto é registrar propriedade. É mais fácil pagar impostos em Uganda, Afeganistão, Cazaquistão e Nepal do que no Brasil. Para mudar isto tudo o que precisamos fazer é enfrentar grupos de interesse bem estabelecidos. Quem se habilita?

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A Indústria e a Comparação do Brasil com Países da América Latina

Sempre que vejo comparações entre o PIB do Brasil e de países desenvolvidos eu aponto que a comparação é indevida e apresento uma comparação com países da América Latina. Meu argumento é que somos parte da América Latina e que isto não é um acaso. Nossa renda per capita é semelhante a dos outros países do continente e compartilhamos muito da cultura e da história do continente. Os que me criticam invariavelmente levantam a questão da indústria. O argumento é que o Brasil tem uma indústria forte e diversificada e não pode ser comparado com as economias exportadoras de commodities dos outros países da América Latina. Este argumento é tanto mais forte quanto mais a comparação fizer referência ao Chile. A figura abaixo mostra a participação da indústria nas economias da América do Sul (usei os dados do Banco Mundial disponíveis no Quanl e exclui a Venezuela por falta dado relativo a 2012).



Como podem reparar a participação da indústria no Brasil só é maior que no Uruguai. É fato que o número da figura inclui a indústria extrativa, mas também é fato que no Brasil a indústria extrativa é muito relevante e que usar apenas indústria de transformação não deve mudar muito o resultado geral que a figura ilustra. Grosso modo o resultado a que me refiro é que os críticos das minhas comparações com a América Latina devem buscar outros argumentos. Nossa indústria, como proporção do PIB, não é maior que a dos outros países da América do Sul.