quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

IPEA coloca produtividade onde deve estar: no centro das discussões.

Não estou entre os acadêmicos mais produtivos de minha geração, longe disto, em parte porque dedico grande parte do meu tempo de trabalho à gestão acadêmica. Não reclamo, é uma escolha minha, mas vez por outra bate uma pequena frustração por estar escrevendo menos do que posso ou do que queria. Compenso no FB, no blog, e participando de seminários e debates sobre economia brasileira. Nestes espaços sempre dou ênfase ao que considero o cerne de minha pesquisa: mensurar produtividade e avaliar seu papel para explicar os movimentos de médio e longo prazo da economia.
Desde 2006 transformei isto quase em um mantra. Praticamente toda minha pesquisa e toda minha participação em debates e seminários giram em torno da produtividade. Fiz algumas provocações, entre elas:
  • Sem crescimento da produtividade o crescimento brasileiro não é sustentável;
  • A baixa produtividade é determinante do baixo investimento e não o contrário;
  • O excesso de burocracia e o ambiente hostil aos negócios são os fatores mais importante para explicar a baixa produtividade;
  • As reformas dos anos 1990 permitiram o crescimento dos anos seguintes e o abandono das reformas comprometeu a continuidade do crescimento;
  • Capital humano é importante mas não é suficiente para resolver o problema da baixa produtividade.
Algumas destas provocações encontraram eco dentro e fora da economia, outras, como a do capital humano, ainda são vistas com desconfiança. Hoje tive um daqueles momentos em que sentimos que nossos esforços não foram em vão. Nas minhas leituras diárias sempre incluo as seções de economia dos principais jornais do Brasil e do mundo, além de revistas especializadas e páginas de institutos de pesquisa na área de economia. Muito do meu trabalho é facilitado pelo FB que me permite ter acesso fácil a algumas destas leituras, foi exatamente no FB que encontrei o link para reportagem da Desafios Econômicos do IPEA sobre produtividade. O primeiro parágrafo dá o tom da reportagem:
"Guarde bem a palavra: produtividade. Ela estará no centro de todas as discussões sobre políticas públicas no Brasil e fará parte das principais preocupações do setor privado em 2014. O norte-americano Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia de 2008, explica por que o indicador entrou no radar dos intelectuais e do setor produtivo brasileiro: “A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. A capacidade de um país melhorar seu padrão de vida ao longo prazo depende quase inteiramente de sua capacidade de aumentar a produção por trabalhador”."
O maior instituto de pesquisas econômicas do país coloca produtividade no "centro de todas as discussões". A frase do Krugman não é desconhecida de quem frequenta esta blog. Tive a oportunidade de apresentar e participar de seminários deste grupo que trabalha com produtividade no IPEA. É claro que temos algumas divergências, mas gosto de pensar que tenho minha contribuição neste grupo. Mas não para aí, uma das principais referências para a reportagem é o documento da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR): Determinantes da Produtividade do Trabalho para Estratégia sobre Sustentabilidade e Promoção da Classe Média (versão em inglês aqui).
Tive a oportunidade de participar deste estudo e fiz a redação junto com Ricardo Paes de Barro e Diana Grosner. Neste documento tratamos da classe média, da importância dos ganhos de produtividade para a consolidação da classe média e dos caminhos pelos quais se pode chegar aos ganhos de produtividade. Em resumo o documento lança as bases para uma agenda de pesquisa e elaboração de políticas para produtividade no Brasil. O documento foi objeto de intenso debates na Conferência Internacional sobre Sustentabilidade e Promoção da Classe Média, organizado pela SAE/PR e pelo BNDES, da qual tive a oportunidade de participar.
Ver que minha pesquisa teve algum impacto na elaboração de políticas públicas do país e ainda ter a oportunidade de ter participado do processo é o que me fez ganhar o dia e escrever este post. Melhor ainda é saber que continuo trabalhando com os envolvidos na discussão e ainda tenho possibilidade de contribuir com o tema. Posso dizer que tenho uma agenda de pesquisa pequena porém decente.

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