quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sorrisos... ou Se o cavalo morrer de sede o dono fica a pé

How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "otherwise you wouldn't have come here."
Quando a presidente Dilma decidiu que a taxa de juros no Brasil estava muito alta e tinha de cair, uma pessoa de bom que não conhecesse bem o Brasil podia pensar que o governo estava anunciando um ajuste fiscal ou alguma medida que mudasse a estrutura de mercado do setor bancário. Esta pessoa rapidamente descobriria que não apenas o pecado está ausente no lado de baixo do Equador, bom senso também é mercadoria rara ou inexistente por estas bandas. Na verdade a presidente estava anunciando que ia reduzir os juros por decreto, como se preços respondessem apenas à vontade dos poderosos de plantão. Não faltou quem tentasse alertar a presidente da futilidade de sua decisão, o alerta mais famoso veio de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, que lembrou a presidente que "você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água". Sábias palavras que foram ignoradas, pior, foram vistas como uma provocação e não com um conselho. 

O governo acusou o golpe e por meio da imprensa e dos sites governistas vieram as mais tresloucadas repostas, uma particularmente interessante dizia que é possível deixar o cavalo morrer de sede. A alegoria de deixar o cavalo morrer de sede é simbólica de uma certa lógica que prefere ver o cavalo morto e seguir o caminho a pé do que ver seus desejos contrariados, a história está cheia de exemplos onde esta mesma lógica levou a desastres humanitários de proporções dantescas. Felizmente a presidente foi mais esperta do que isto, não sei se ela desistiu de fazer o cavalo beber água, mas certamente entre ficar a pé e recuar ela escolheu a segunda opção. Foi a decisão correta embora, como muitos, temo que tenha sido mais por conveniência do que por entender que preços não dependem da vontade soberana de ninguém. Seja lá qual for a razão é fácil ver que a presidente e seus economistas estão perdidos, o fracasso da tentativa de reduzir os juros na marra e de aumentar o investimento e salvar a indústria por meio de manobras cambiais deixou o governo sem rumo. Aqui é bom trazer de volta o risonho gato de Alice:

"Would you tell me, please, which way I ought to go from here?""That depends a good deal on where you want to get to," said the Cat."I don't much care where –" said Alice."Then it doesn't matter which way you go," said the Cat."– so long as I get somewhere," Alice added as an explanation."Oh, you're sure to do that," said the Cat, "if you only walk long enough."

A primeira parte da conversa é bem conhecida, o final da conversa é menos comentado. Se você andar o bastante chegará a algum lugar, a questão é que se você não sabe o caminho você pode chegar em qualquer lugar, inclusive em lugares piores do que o que você estava quando começou a andar. Neste exato momento a caminhada nos levou a um ponto onde podemos ver onde estávamos. Não é um bom lugar para se estar, a taxa de juros voltou a 10,5% ao ano, a inflação está cada vez mais resistente, a taxa de investimento não subiu, o crescimento foi medíocre, a balança comercial ficou positiva por obra e graça da criatividade, também por obra e graça da criatividade ninguém conhece a situação fiscal do país e até mesmo a posição de credor líquido é questionável. O sorriso do gato fica estampado na trajetória da taxa de juros conforme mostra o providencial gráfico de Giovanni Beviláqua que coloco abaixo.



Já passa da hora de escolher um caminho. Creio que o caminho certo é voltar até o ponto onde largamos a agenda de reformas. Uma vez neste ponto temos que parar e buscar pelas reformas mais urgentes para que possamos seguir um caminho que, mesmo com surpresas e sustos, nos leve para onde queremos ir. Como já disse várias outras vezes o caminho passa por: educação, melhora no ambiente de negócios e pelo destravamento do setor de infraestrutura. É preciso pressa, estamos atrasados.




6 comentários:

  1. Roberto,

    Quanto você acha que deveríamos ter de SELIC atualmente, mantidas as demais condições fiscais atuais, para trazer a inflação ao centro da meta num prazo máximo de 12 meses? 14%aa?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sinceramente não sei o valor exato. Creio que ninguém fora do mercado e/ou do BC saberia dizer o valor da Selic capaz de trazer a inflação para o centro da meta ainda este ano. Vou além, nem mesmo o pessoal do BC deve ter esta informação com precisão. O caminho é fazer sintonia fina, ou seja, ir aumentando e vendo como a inflação reage depois de cada aumento.

      Excluir
  2. e selic é quase um anagrama de alice. abs, sgold.

    ResponderExcluir
  3. Infelizmente, discordo da ideia de que o governo não sabe onde quer ir. O governo sabe perfeitamente onde quer ir. O problema é que o resto da sociedade não quer ir para lá, então o governo finge que adota políticas sérias de tempos em tempos só para confundir e manipular a opinião pública.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gostaria de dizer que você está errado, infelizmente não posso.

      Excluir